A revista o Viés apresenta o vídeo “Uma conversa com José Paulo Bisol”. Criada a partir de uma parceria entre o curso de Direito da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e a revista o Viés, a produção tem como intuito apresentar as ideias e as memórias de José Paulo Bisol, desembargador aposentado, escritor e político brasileiro, vice de Lula na campanha à presidência de 1989.
Uma das características ressaltadas por ele mesmo, quando busca nos apresentar uma definição para sua vida, é a multiplicidade. “Eu nunca descobri quem eu sou. Eu sei que eu sou múltiplo e nem tenho ideia da minha multiplicidade”. A frase, aparentemente abstrata, encontra comprovação real quando se tenta achar uma forma simples de ressaltar os fatos públicos importantes de sua biografia.
Conhecido por sua defesa dos direitos humanos, Bisol foi apresentador de televisão, inovando ao ser um dos âncoras do programa TV Mulher. Foi juiz em Sant’anna do Livramento, onde palestrava aos jovens durante os últimos anos de governo Vargas. Em 1982, foi eleito deputado estadual no Rio Grande do Sul pelo PMDB. Em 1986 foi eleito senador pelo mesmo partido. Foi, alinhado com Mário Covas, um dos idealizadores do Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB. No entanto, jamais filiou-se a este, e sim ao partido Socialista Brasileiro, o PSB, sendo candidato a vice-presidente na chapa de Lula em 1989. Era amigo e colega de congresso de Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes.
Graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, também formou-se em Comunicação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Seu marco político, como ele mesmo diz, foi ter participado de forma ativa na construção e execução da Assembleia Constituinte, em 1988. No mesmo ano, foi um dos investigadores centrais da primeira CPI do Congresso Nacional, que buscava desvendar os atos corruptivos de congressistas brasileiros, que entre o final dos anos 1980 e início dos anos 1990 fraudaram recursos do Orçamento da União, em um caso que ficou nacionalmente conhecido como “escândalo dos anões do orçamento”.
Entre 1999 e 2002, foi secretário de Justiça e Segurança do Rio Grande do Sul durante o governo do petista Olívio Dutra, propondo a unificação das polícias civil e militar. Seu gesto de colocar o boné do MST durante uma ocupação de fazenda foi duramente criticado pela imprensa do estado na época. No ano de 2009, recebeu a Medalha do Mérito Farroupilha, a mais alta distinção da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
O vídeo que disponibilizamos é resultado do projeto “Bisol: uma trajetória de luta pelo direito e pela justiça”, do curso de Direito da UFSM. A revista o viés foi convidada para acompanhar uma visita à casa onde José Paulo Bisol vive hoje, em Osório, para registrar em vídeo uma conversa sobre a experiência de Bisol na Assembleia Constituinte e suas reflexões acerca da ideia de constitutividade, num momento em que a Constituição de 1988 completa quase 26 anos e o Brasil se depara com a necessidade de aprimorar e democratizar suas instituições.
Mais do que uma entrevista ou um documentário, o vídeo que foi apresentado no dia 26 de agosto, em Santa Maria, e é disponibilizado agora na web apresenta uma síntese possível desta conversa que durou algumas horas e que transitou entre os mais diversos assuntos – da política ao direito e à filosofia, da humanidade à solidão.
“Uma conversa com José Paulo Bisol” é direcionado especialmente a acadêmicxs de Direito e dividido em tópicos, conforme surgiram no discurso expressivo de Bisol ou foram abordados pelxs entrevistadorxs. Isso não significa, em todo caso, que apenas quem estuda Direito vá se interessar pelas ideias de Bisol: no vídeo, a partir de sua longa experiência na vida pública brasileira e de sua autodeclarada multiplicidade, ele fala sobre a constituinte e sobre o que é constituir-se. Debate sobre o Direito, apontando erros e acertos da Justiça, faz ligações com a atualidade, como o caso do Mensalão durante o governo Lula, apontando o acerto na maioria das condenações, mas também questionando a legitimidade de uma justiça parcial: “não se investigou os outros governos antes dele”.
Afastado da política e dos meios de comunicação, José Paulo conversa, através do vídeo, com jovens de todas as formações e setores da sociedade: “a crise é de dissolução do mundo. Talvez a gente precise reinventá-lo”. Assista o vídeo abaixo.
Uma conversa com José Paulo Bisol, pelo viés de Bia Oliveira, Igor Mendes Bueno, Bibiano Girard e Tiago Miotto.
Que baita entrevista!!!!
Bisol é um dos melhores do nosso tempo!
No final da década de 90, eu tive a oportunidade de assisti-lo em duas palestras da UNISINOS.
Me encantei.
E é um encanto que permanece.
É um encanto que me constituiu como jurista e na forma como me coloco diante do mundo.
Longa vida a José Paulo Bisol!