Talvez todo mundo que esteja envolvido de forma direta ou até indireta com a arte (no sentido que essa significa o direito individual ou coletivo de se expressar, de externar um sentimento ou um ideal) tenha a impressão de que esses dois anos que se passaram até o atual momento foram passos gigantescos, pegadas de evolução, pois sim, vivemos tempos de mudanças.
Como esse texto se trata de uma retrospectiva, pontuarei fatos que considero cruciais e determinantes nessa nova atmosfera na qual se encontra a cultura santamariense. Alguns fatos tristes, outros felizes, porém todos muito intensos, vitórias, derrotas, aprendizados e dias de luta.
* A Operação Cidade Limpa, que mobilizou uma grande força tarefa, com o intuito de procurar tinta, latas de spray, cadernos de desenhos e outros materiais relativos à pintura. Foram expedidos mais de uma centena de mandados de busca e apreensão na casa de jovens (quase todos menores de idade). Fato que causou muita polêmica, dividindo muitas opiniões em torno do assunto.
* Todas as atividades do CO-RAP, Coletivo de Resistência Artístico Periférica. Hip Hop na Pracinha, Guerrilhas da Paz, atividades com o CAPS- AD , a criação da Batalha dos Bombeiros (grande divisor de águas para cultura santamariense referente a utilização dos espaços públicos), a expansão da cultura Hip Hop daqui para além das fronteiras da cidade, através de eventos, fóruns, projetos e parcerias, pelo Rio Grande do Sul e outros estados brasileiros, o CO-RAP Festival, entre outras atividades.
* A ocupação da Câmra de vereadores.
* A integração entre universidades e movimentos sócio-culturais que aflorou nesses dois anos como uma necessidade em prol de melhorias que visam comunidade e educação.
* O nascimento de muitas mídias alternativas. Rádios comunitárias , web rádios, editoras, selos, revistas impressas e virtuais, jornais, produtoras…
* O nascimento de muitas bandas e grupos, bem como a união e parceria entre diversas tribos e gêneros musicais, como o rap, rock n roll, reggae, HC e muitos outros.
* A tragédia da boate Kiss, casa noturna de shows que incendiou fazendo 242 vítimas e deixando um legado de dor para toda a cidade. Fato que repercutiu no mundo inteiro e se estende até hoje para todos aqueles que clamam por justiça. Bombeiros, empresários e políticos (inclusive o prefeito Cezar Schirmer) foram indiciados e até agora nada…
* Os eventos na Gare, Farrezão, no parque Itaimbé (como esquecer que muitas vezes, estando com o ofício em mãos e a licença para poder utilizar a eletricidade, corremos risco de vida ao ter que lidar com cabos de alta voltagem, sem segurança, muito menos respaldo nenhum de algum engenheiro eletricista ou funcionário da prefeitura capacitado)
* O falecimento do irmão El Magro, uma perda irreparável, irmão de rimas, de lutas, e um dos maiores talentos que essa cidade jamais possuiu. Como diria o próprio – Já defendemo algum direito!
*A Operação Rabisco (semelhante à Operação Cidade Limpa).
* A interdição da boate do DCE e da Catacumba, locais emblemáticos da cultura santamariense.
* As diversas marchas que foram feitas, integrando diversos coletivos, causas sociais, artistas, grupos, bandas e agentes culturais. Novembro Verde, Marcha da maconha, Marcha das Vadias, passeatas como as contra o aumento da tarifa do transporte público, entre outras tantas.
*O teatro santamariense e os muitos sarais literários.
*As atividades em diversas escolas estaduais e municipais através de movimentos sócio-culturais, promovendo oficinas das variadas artes e saberes.
Esse foi um parecer pessoal, pois não poderia ser de outra maneira, primeiro, porque está tudo interligado, segundo, porque faz quinze anos que participo da cultura independente no cenário santamariense e percebo as mudanças bruscas que ocorreram nesses dois últimos anos, não é uma poesia como é de costume eu publicar, mas sim uma singela retrospectiva. Um grande salve a toda a família do Viés pelo convite e, pra não perder o jeito, a gíria sempre impera pra quem é da cultura de rua , então , tamo junto e é NÓIZ!
Dois anos de cultura, mudanças e resistência, pelo viés de Cauê Jacques (CO-RAP)