Lutadorxs do mundo todo: comunicai-vos!

Das expressões rupestres às redes digitais, dos menestréis medievais aos canais por assinatura; dos pergaminhos aos tipos móveis de Gutemberg; dos quipus incas ao touch screen, do libelo inflamado aos programas de auditório, comunicar sempre reuniu três elementos inerentes: intenção, código e formato.

Comunicar é ato humano que exige a compreensão desta tríade. Ela precisa ser entendida e reconstituída para que qualquer esforço de comunicação verdadeiramente classista e militante tenha êxito e alcance repercussão nos corações e mentes de quem produz e reproduz sua existência a partir do próprio trabalho.

A história e, indo além, a vida, pertencem a quem as conta e reconta. Quem define o que vemos, lemos ou ouvimos, determina, em grande parte o que somos e a compreensão sobre o que somos.

Desde Marx e Engels, no Manifesto de 1848 – de onde tomei emprestada a inspiração que deu título a este escrito – já se sabe que a “união crescente dos operários é facilitada pela melhoria nos meios de comunicação que são criados pela indústria moderna”. A aceleração técnica e tecnológica capitalista cria canais e possibilidades que devem ser apropriadas e redirecionadas. O contato entre diferentes localidades, aproxima trabalhadores, divulga lutas, promove encontro e compartilhamento de estratégias.

Em especial no final do século XX e com ampliada intensidade no início do século XXI, o avanço da comunicação e da mídia nos impelem a compreender a atuação dos mass media; algo indispensável para compreender a sociedade hoje. É no bojo das revoluções nas tecnologias informacionais e comunicacionais que a sociedade se espetacularizou: tudo pode virar um show e todos somos apenas espectadores.

Na sociedade de massa em que o consumo poderia ter um enorme potencial político, somos marcados pela padronização dos gostos, paladares e prazeres. Nos obrigam a desejar e comprar os mesmos supérfluos. No ocidente, paralelo a uma suposta democratização política, simbolizada pela universalização do sufrágio, vimos a ampliação do alcance de redes de comunicação cada vez maiores e mais poderosas, quanto mais concentradas entre poucas famílias proprietárias, garantindo o monopólio da leitura e da expressão do mundo. (Só pra dar um exemplo disso, no Brasil, 97% por cento dos domicílios possuem pelo menos uma televisão enquanto um pouco menos de 96% possuem geladeira. A diferença alcança cerca de um milhão de domicílios. Termos mais televisões do que geladeiras pode explicar também porque temos três vezes mais farmácias do que o indicado pela OMS?).

A imprensa hegemônica cria e cristaliza versões parciais, limitadas, adulteradas e tendenciosas sobre tudo o que é inoportuno ou desviante de seus padrões. Com coberturas tendenciosas, as grandes redes vaticinam: num mundo de mentiras, a verdade deve morrer.

Nesse contexto, a verdade é revolucionária. O contraponto é uma arma mortal contra o colonialismo cognitivo que nos impingem. A subversão é indispensável.

Para alterar esse quadro se apresentam, de pronto, duas tarefas, pelo menos.

Primeiramente é preciso entender e Denunciar a quem e para quê serve a comunicação.

Desvelar sua intencionalidade. Evidenciar seus interesses. Eviscerar as entranhas da comunicação. São tarefas necessárias e que, não raro, mostram-se árduas e dificultosas.

Os grandes grupos de mídia, comprometidos com o status quo e com a manutenção das estruturas que sacaneiam a maioria de nós, são ardilosos, matreiros. Na sutileza espetacular da informação burilada ao feitio das grandes corporações, mantém-se uma extensa e intensa cadeia de alienação, manipulação e dominação.

Esta tarefa exige que os lutadores e lutadoras mantenham-se em contato e em permanente vigilância. Exercitar a capacidade de análise aproveitando a experiência produzida na academia, no movimento popular e sindical é garantir uma sinergia necessária, porém não suficiente, para superar as amarras impostas pela pauta empresarial dos grandes veículos.

É preciso avançar na denúncia permanente que não se separa da análise do discurso midiático. Desmascarar. Dizer abertamente quem controla a mídia, quem controla os veículos de comunicação e quem determina o que pode eu que não pode ganhar visibilidade e repercussão. É preciso denunciar, discutir a mídia; criticá-la. Reconhecer que, longe de ser neutra ou imparcial, a comunicação e a mídia são ambientes de disputa ideológica ferrenha e permanente.

Mas isto, embora fundamental, ainda não é suficiente. Em segundo lugar, devemos aproximar o código e o discurso da maioria das pessoas para difundir uma nova comunicação.

É preciso traduzir o discurso hegemônico e o próprio discurso militante para que se torne compreensível, atraente e interessante à grande maioria das pessoas. Logicamente não trata-se aqui de utilizar os métodos de engodo vigentes no grande mídia. Não podemos pretender fazer uso das mesmas simulações e dissimulações que combatemos. É preciso construir uma comunicação que dialogue com as questões do povo desde a linguagem até a forma, mas com a primazia da mensagem. É fundamental que a mídia burguesa seja superada por uma mídia militante, da classe trabalhadora. Esta mídia, potencialmente superadora da comunicação tendenciosa da mídia empresarial, deve tratar de temas esquecidos e negligenciados e apresentar respostas radicais à mesmice que nos cerca.

Tornar compreensível também não poderá significar, para nós, reduzir o discurso ou falar apenas sobre o que imaginamos que as pessoas poderão acompanhar. Não há espaço para rebaixar conteúdos. A comunicação militante tem um papel altamente pedagógico.

A ação educativa da comunicação militante deve se dar no sentido de elevar a capacidade da classe trabalhadora de compreensão e intervenção no mundo e, obviamente, isso não se dará com métodos de apassivamento. A mídia militante poderá ser a voz de movimentos e grupos que ficam ocultos ou deturpados pelo discurso hegemônico, mas para ser verdadeiramente engajada num movimento de libertação das pessoas e de superação da sociedade burguesa atual, a mídia militante deverá, indo além de ser a voz, dar voz às lutas e aos movimentos. Não poderemos continuar falando pelas pessoas. É preciso falar com as pessoas; é preciso que as pessoas possam falar!

Uma outra preocupação que deve estar junto dessa tarefa é a preocupação com a portabilidade. Em que formato a contra-informação deverá circular para que efetivamente alcance as pessoas e rompa com o isolamento e manipulação impostos pelas teles e pelos jornalões?

Se precisamos buscar formatos que possam ser portadores do discurso contra-hegemônico, então como alcançar as pessoas hoje?

Uma mídia militante não poderá prescindir de métodos agitativos que coloquem em contato a produção, a distribuição e a recepção de informações. A panfletagem, a redação de jornais (em diferentes formatos e meios possíveis hoje), uma nova estética audio-visual. Tudo é necessário!

Certamente romper com a grande mídia nos leva a pensar no uso maciço da internet. E realmente ela é uma das principais arenas em disputa hoje. Grande espaço de circulação de informações e ideias com um potencial inestimável de conexões, contatos e encontros que podem catalisar esforços de superação de discursos e poderes instituídos.

Não é por acaso que a internet tem sido alvo de repetidas tentativas de controle e censura. Golpes desferidos pelos oligopólios comerciais que tentam manter o poder totalitário sobre a comunicação e, no limite, sobre o pensamento das pessoas.

Não é por acaso que os principais programas revolucionários já pensados ou colocados em curso na história da humanidade, sempre dedicaram especial atenção aos meios de comunicação. Atenção talvez apenas superada pelo esforço teórico-prático em discutir os meios de produção – que hoje não se separam tanto uns dos outros em diversos aspectos. Portanto, atentar por onde circula nossa informação deve nos levar a pensar sobre os marcos regulatórios da internet, assim como sobre os da rádio-teledifusão. Avançar no controle da técnica e das tecnologias comunicacionais que tanto evoluíram é uma tarefa com alto potencial revolucionário. Assim como é uma tarefa política prioritária quebrar com a propriedade monopolizada da produção de informação.

Enfim, da perspectiva de quem pretende alterar o estado das coisas, é preciso fortalecer redes e veículos alternativos que possam pautar outras versões da vida, construir a subversão das pautas oficiais que não contemplam as lutas do povo e não expressam as lutas da classe trabalhadora. É preciso quebrar com o controle físico (dos meios de transmissão) e simbólico (dos conteúdos e significados transmitidos). É prioritário construir e apoiar uma mídia militante e plural que, engajada radicalmente nos movimentos que enxerga, repercute e integra as lutas pelo socialismo.

É URGENTE COMUNICAR!

POR UMA IMPRENSA CLASSISTA E TRANSFORMADORA!

E, para isso, será preciso mais!

Será preciso agitar a malta! Libertar a malta! Dar poder à malta!


 
LUTADORXS DO MUNDO TODO: COMUNICAI-VOS!,  pelo viés do colaborador Alcir Martins*
*Alcir Martins é Coordenador de Comunicação no Sindicato dos servidores técnico-administrativos em educação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), historiador e mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFSM.

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