Na madrugada do dia 10 de julho de 2015, uma sexta-feira, moradoras e moradores da comunidade da Estação dos Ventos (Km 3), localizada na zona leste de Santa Maria, ocuparam o prédio interditado conhecido como “torto” ou “condenadão”, que depois de mais de 40 anos de abandono já faz parte da paisagem do centro urbano da cidade.
Cansadxs da espera pela retomada das obras do PAC na comunidade, que foram interrompidas em 2012, xs moradorxs da Estação dos Ventos passaram a realizar ações diretas de reivindicação – depois de um primeiro ato no próprio loteamento, partiram para a ocupação do “Edifício Galeria Rio Branco”, nome oficial do prédio que foi abandonado no meio de sua construção, na década de 1970, e desde 2012 pertence à Prefeitura Municipal de Santa Maria.
A ocupação, batizada de “Geração Torto”, chamou atenção novamente para a luta da comunidade da Estação dos Ventos – oriunda de uma ocupação feita no ano de 2000 – e para o descaso com a questão da habitação na cidade de Santa Maria, que possui um déficit habitacional estimado pelo Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) em 2600 famílias.
A Prefeitura Municipal de Santa Maria notificou xs ocupantes que o prédio deveria ser desocupado até as dez horas da noite de sexta-feira. Ainda assim, a ocupação “Geração Torto” foi encerrada na noite de sábado, somente depois de xs manifestantes avaliarem que a mobilização já havia cumprido seu papel de trazer visibilidade às demandas comunitárias, e não antes de a Brigada Militar aparecer, ainda na sexta à noite, com seis viaturas e cerca de vinte policiais fortemente armados para acompanhar a Conselheira Tutelar a verificar se havia crianças ou adolescentes na ocupação.
Durante a mobilização, a revista o Viés entrevistou ocupantes do prédio para saber as motivações, as perspectivas e as demandas da comunidade que se deslocou da zona leste até o centro da cidade, cruzando a história de duas obras inacabadas, para chamar atenção para a situação caótica em que vive. Além disso, conversamos com movimentos e grupos que apoiam a luta da comunidade, como o Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) e o Núcleo de Interação Jurídica Comunitária (NIJUC), ligado ao curso de direito da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
“Este é o segundo ato, e com certeza não será o último”, afirma Tito Rodrigues, líder da Associação Comunitária da Estação dos Ventos. Luci Carla Brum dos Santos, também moradora comunidade, sintetiza a situação: “Nós não queremos incomodar. Nós queremos deixar de ser incomodados”.
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