Eduardo Hughes Galeano, jornalista e escritor uruguaio, nasceu em Montevidéu em 3 de setembro de 1940. Desde cedo atuava no jornalismo e, com pouco mais de 30 anos, fez parte do enfrentamento à ditadura no Uruguai (1973-1985). Devido à grande repressão a militantes de esquerda, logo no primeiro ano do regime é preso. Ainda no mesmo ano exila-se na Argentina mas, com a ditadura também chegando lá, refugia-se na Espanha. Ao Uruguai só retornou em 1985, quando teve fim o regime ditatorial, e foi em sua cidade de origem que faleceu, hoje, vítima de um câncer de pulmão.
O escritor e jornalista deixa uma vasta obra, que inclui desde o aclamado As veias abertas da América Latina, livro que conta, sob um viés histórico e econômico, a trajetória de exploração sofrida pelos latino-americanos por países europeus e pelos Estados Unidos, até os livros Palavras Andantes, O Teatro do Bem e do Mal, Livro dos Abraços e sua última obra, Filhos dos Dias, que contam, em formato de relato fragmentado, pequenas histórias e reflexões, sempre vestidas por uma crítica social da história oficial dos “vencedores” , incluindo a crítica ao aculturamento, à estigmatização das minorias políticas e aos ataques que sofrem pelas culturas dominantes.
Eduardo Galeano, em suas obras e entrevistas, sempre deixou claro o descontentamento com o mundo capitalista. Em seus delírios, falou, em entrevista a um canal espanhol, que “os economistas não chamariam nível de vida o nível de consumo e nem chamariam qualidade de vida a quantidade de coisas”. Em outra entrevista, realizada durante as manifestações de 2011 na Espanha, afirmou: “esse é um mundo ao contrário, que recompensa seus arruinadores em vez de castigá-los. Não há um só preso entre os banqueiros que provocaram essa crise no planeta inteiro. Nenhum preso! E por outro lado, há milhares de presos por haver consumido maconha ou por haver roubado uma galinha. Milhares! E isso é o mundo ao revés. Mas não é o único mundo possível. E cada vez que me aproximo de manifestações de gente jovem assim, penso que há outro mundo que nos espera. Esse mundo de merda está grávido de outro”.
No mundo ideal de Galeano, a empatia e o senso de pertencimento à natureza seriam inerentes aos humanos. O corpo seria festejado, e não censurado. A vida seria vivida com celebração – celebração aos encontros, às diferenças, ao universo. O dinheiro não seria o norte e o respeito e a sensibilidade seriam naturalmente desenvolvidos em todos, porque nos enxergaríamos como iguais e seríamos humildes para reconhecer a beleza em nossas vidas e nas vidas dos outros seres. E são esses os ensinamentos e reflexões mais significantes: o olhar humano ao mundo que nos cerca.
“As pessoas mais sensíveis são as mais vulneráveis. Em contrapartida, esses que se dedicam a atormentar a humanidade vivem vidas longuíssimas, não morrem nunca. Isso porque falta a elas uma glândula, que na verdade é bem rara e se chama consciência”. Eduardo Galeano (1940-2015)
“Esse mundo de merda está grávido de outro”, pelo viés de Liana Coll.