A luta das mulheres por seus ideais é a mais linda e comovente ação passada de geração em geração. Afinal, seus momentos de mudança, força e de superação conhecidos e lembrados hoje não teriam sido possíveis se não fosse pelo desejo de cada uma delas de se libertar do sofrimento, da opressão e da submissão, impostas pela sociedade ao longo do tempo.
Cada história tem o seu peso e o seu valor, mas algumas tendem a serem mais tristes e marcantes do que outras. Por conta disto, destaco a história da mulher negra como uma das mais importantes a serem lembradas não só no Dia Internacional da Mulher, mas sempre. Pois, como lembra a feminista e rapper negra Yzalú na musica Mulheres negras[1], “enquanto mulheres convencionais lutam contra o machismo, as negras duelam para vencer o machismo, o preconceito, o racismo”.
Consequentemente, a luta da mulher negra não está ligada apenas aos direitos sob seu corpo ou a igualdade entre salários. Está ligada também ao reconhecimento de sua história, de seus feitos, da beleza de sua ancestralidade, do respeito a sua religião e de sua força como mulher. Além do eterno desejo de mudar a realidade de pobreza e fome submetida à população negra.
Pois, quando nós nos unimos em luta, todas nós somos a mãe solteira que trabalha como empregada durante o dia e a noite, ajuda os filhos com suas lições de casa. Somos a catadora de lixo que passa fome, mas mantém seu sonho de ser escritora. Somos a estudante que todos os dias pega dois ônibus para chegar à universidade, pois deseja um futuro melhor. Somos a mãe de periferia que passa a noite acordada esperando que o filho volte. Somos a mulher que aceitou sua negritude, mas que foi ridicularizada pela sociedade. Somos líderes quilombolas. Somos pesquisadoras e escritoras renomadas.
Somos negras. Somos mulheres como Teresa de Benguela, Dandara, Leila Gonzalez, Ângela Davis, Mãe Stella de Oxóssi, Carolina Maria de Jesus e tantas outras que carregaram nos ombros as dores do mundo esperando que hoje não tivéssemos que passar por tudo isso.
Mas não foi fácil e nunca será, pois o passado da mulher negra está marcado pelas lembranças dos dias no navio negreiro, do tronco e da chibata, da segregação racial, das perseguições por grupos racistas, das mortes por balas perdidas e da violência física, psicológica e moral. Lembranças que não destruíram seu amor, sua dedicação e sua força, mas que fortaleceram sua luta e fizeram seu grito ecoar mais alto na multidão.
Um grito que pede por mais mulheres negras nas universidades, por mais mulheres negras em cargos importantes, por menos mulheres negras mortas pela violência. Gritos que vieram das guerreiras africanas e que hoje, são nossos, de nossas mães, irmãs, tias e avós.
Afinal, quando nos denominamos como mulheres negras, carregamos a valentia e força de nossas antepassadas em primeiro. E como mulheres, mantemos a tradição de passar essa história de geração para geração.
[1] Mulheres Negras Ao vivo – DVD PROMO Yzalú
Mulher negra: um passado de dor, um futuro de luta, pelo viés da colaboradora Arianne Teixeira De Lima*
* Arianne é estudante de jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria e integrante da Juventude Negra Feminina de Santa Maria (JUNF).