O final do ano chegou e, assim como os velhos comentários que reavivam a efemeridade do tempo, as críticas e reclamações das festividades natalinas também aparecem na maioria dos meios que nos cercam. Ninguém quer responder às perguntas constrangedoras da tia ou ter que distribuir sorrisos quando surgem as situações forçadas que, de certa forma, embasam as formações familiares sanguíneas. Aliás, o núcleo familiar e suas constituições, que foi algo bastante discutido no 2014, ainda parecem reger a grande orquestra das contradições – históricas e contemporâneas. Quem aí não ouviu a expressão “jeitinho brasileiro” neste fim de ano? A pieguice se demarca, mas como não dizer que, quando o favorecido é si próprio ou “da família”, não tem jeito errado ou certo que sustente os inúmeros julgamentos antes cuspidos abertamente para toda a mesa…?
Dando continuidade às notas (que não passem perto de Simone!), a junção do final de ano te oferece um prato cheio de polêmicas: das eleições presidenciais às mulheres que saem por aí mostrando os peitos e reivindicando igualdade. Para acompanhar, junte os debates sobre racismo e homofobia. Na sobremesa, a população indigente que continua nas ruas porque não se levanta em busca de emprego e mudança, vagabundos. Afinal, como pensar diferente se acabam de narrar mais um caso de sucesso que saiu de interior nordestino e alcançou o primeiro lugar no concorrido vestibular de uma das melhores universidades do país?! Quem corre atrás merece. E se você se opõe a isso e tenta argumentar por um mínimo de condições iguais a todas e todos, “sai de perto, seu ditador” ou melhor, “vai pra Cuba!”.
Daí chegam os comentários dos “tempos dificeis” e a retrospectiva que, como durante todo o ano, se posiciona ao lado dos interesses que cercam aquela tal empresa de comunicação que completa meio século de idade no “próspero” 2015. Finalmente, hoje é um novo dia, mas o tempo que começou e recomeça a cada vez que a música nacionalmente conhecida toca nas casas brasileiras anuncia a mesma opressão diária com que os âncoras, repórteres e agentes da TV filmam tudo ali. Serve mais um copo, até porque ainda não chegou o show da virada. Enquanto isso, as mentes que trabalham para evitar aquelas situações embaraçosas parecem despertar apenas quando uma nova publicação surge e é curtida e compartilhada.
A ceia está terminando, os presentes já foram abertos e todo mundo já pôde compartilhar da felicidade que se esperava para a noite de natal. Afastados das luzes que piscam e dos embrulhos verde-vermelho, o que se vê à margem são os mesmos que estão nas bocas de todos os julgamentos contados por quem ali na mesa se sentou. Histórias são supostas e contadas com tanta propriedade que a vivência e a vida alheia parecem caber num comentário de ódio. Não seja tão dura, para quê se indispor com pessoas que você convive pouquíssimas vezes ao ano? Nossas internas contradições. Estender a mão para o comodismo ou se impor na verdadeira defesa do que se acredita? A hora das promessas, chegou a vez dos planos, anuncia aí!
Vem, tá começando. Entre um pôr do sol e um nascer de lua, turbilhão de pensamentos nos acompanha e confunde e revolta. A explosão que não se expressa fica ali, se alimentando, observando e refletindo mais um pouco. No meio de tantas perguntas não respondidas e enquanto outras nascem, vamos afirmar o que já sabemos e bater nosso pé sobre o que visivelmente está declarado. Existem dois lados, que carregam mais alguns nesse balaio inacabável de teorias sociais e econômicas; o meu, vai botar o bloco na rua, a poesia na calçada e o samba-enredo no asfalto – através das nossas vozes, ecoa a esperança de sempre aproximar mais tantos, trazer pro lado de cá e levar à ocupação permanente do campo e da cidade todas que hoje habitam a escuridão dos becos e das quebradas.
Um Salve pra nós! Que as boas e resistentes energias se renovem neste novo ano que se aproxima.
Boas festas! Para quem?, pelo viés de Marina Martinuzzi.
Inspirações musicais presentes no texto:
Mc Magrão (El Magro) – Um Salve Pra Nós