Essa Kizomba é grito negro de revolta e de alegria

Cia de Dança Afro Euwá Dandaras em apresentação. Foto: Bibiano Girard

 

Há muitos anos, desde que foram escravizados, os negros afro-brasileiros e aqueles já nascidos no Brasil lutam. Lutam inicialmente contra a desigualdade estrutural da construção do país. Quem plantou, colheu e carregou a economia primária do país não teve acesso a seu lucro. A nada, para ser claro. E desde que lutam contra o desigual implantado, lutam também contra discursos repetidos pelos mesmos de sempre: “Ainda perguntam ‘por que o negro tem que fazer essa festa no centro?’, como se apagar as diferenças – logo, o debate – fosse amenizar as diferenças. Ainda nos dizem que devemos parar de falar sobre consciência negra porque assim estaríamos criando uma diferença. Quem aqui não percebeu ainda a diferença existente, sim, e gritante? Enquanto for necessário, vamos relembrar: os negros tiveram o 13 de maio como libertação e o 14 como o dia de ir para a periferia, subir o morro. Você é escravo e no outro dia tem que comprar pão na rua. Como assim? Alguém consegue responder essa questão? Onde está a igualdade nessa história toda? Não é sobre cor de pele, é sobre o que a cor de pele acarreta em sua vida cotidiana. Olha, é muito, é triste que alguém acredite que haja igualdade no silêncio”, diz Isabela Pereira, estudante do Ensino Médio, presente na Kizomba.

Apresentação com dançarinas e dançarinos da Cia do Samba. Foto: Bibiano Girard.
No palco, a Nova Beat. Foto: Bibiano Girard
A Zona Leste no palco com a Rima Suprema. Foto: Bibiano Girard
Geanine Escobar, integrante do coletivo Juventude Negra Feminina de Santa Maria (JUNF), recita Oliveira Silveira. Foto: Bibiano Girard.

 

A apresentação frenética da Cia de Dança Afro Euwá Dandaras.

O preconceito ao negro em ambientes públicos, as taxas de assassinatos de jovens negros – como mostra a reportagem “Marcha contra o genocídio: pela vida dos jovens negros” [O crescimento do número de jovens negros que têm suas vidas violentamente interrompidas, contudo, tornou essa luta mais urgente do que nunca: ser jovem e negro no Brasil, hoje, é ter 3,7 vezes mais chance de ser vítima de homicídio do que um jovem branco da mesma faixa etária], a desigualdade salarial: o trabalhador negro recebe, em média, 40% a menos nos mesmos cargos que trabalhadores brancos, a discriminação pelas vagas universitárias conquistadas pelo sistema de cotas, o passado apagado dos livros de História.

Tudo isto, como lembrou Geanine Escobar, integrante do Coletivo Juventude Negra Feminina de Santa Maria, bate à porta de muitos negros brasileiros todos os dias. “A Kizomba é uma comemoração com formato de ato político. Estamos no Centro da cidade, trajadas com nossos turbantes africanos – o que representa muito em nossa cultura – entre música, poesia e dança de vertentes africanas. Mas a Kizomba como acontecimento é um lembrete à sociedade, que sempre se faz necessário: nós existimos e nossa cultura – religiões, festas, crenças – precisa ser respeitada. Não podemos ser ‘o exótico’ onde na verdade somos maioria”, diz Geanine.

Mestres de cerimônia.

A Kizomba reuniu cerca de mil pessoas na praça Saldanha Marinho, no Centro de Santa Maria, e acontece sempre no dia 20 de novembro, data que lembra a morte de Zumbi dos Palmares, símbolo histórico da luta e da resistência contra a exploração dos negros e negras no Brasil. O evento faz parte dos atos e das comemorações da 26ª Semana Municipal da Consciência Negra, que tem como temática “Contra o racismo institucional, pela diversidade e negritude assumida”.

Como lembrou Geanine, a Kizomba foi um encontro da cultura negra da cidade de Santa Maria. Entre as apresentações, grupos de RAP – surgidos dentro da cultura Hip Hop, negra, como lembrou Matheus Almeida Bessa, do grupo Nova Beat – grupos de dança, como a “Cia de Dança Afro Euwá Dandaras”, que iluminaram o palco noturno com o dourado de suas expressivas roupas. Entre o público, a arte muralista de Braziliano. No palco, poesias de Oliveira Silveira, natural de Rosário do Sul e idealizador do 20 de novembro como Dia da Consciência Negra, sendo declamadas em praça pública. Entre as árvores da praça, varais com pequenos cartazes lembravam que empoderar-se é saber guardar sua história e identidade cultural. Ao anoitecer, a praça era só festa: no rap de Jana Dorneles ou na coreografia da Cia do Samba. Entre todos os presentes, também passaram por lá a “Cia do Axé”, o “Grupo Barra-Vento Capoeira”, o grupo “Estampa da Quebrada”, a “Juventude Negra Feminina de Santa Maria”, o espetáculo “Assuma Sua Negritude”, e o grupo “Rima Suprema”,  que abriu a noite de RAP na Saldanha Marinho. A Kizomba foi tudo isto: festa com ar de consciência.

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Nego Lula fazendo participação especial com Estampa da Quebrada. Foto: Bibiano Girard.

 Essa Kizomba é grito negro de revolta e de alegria, pelo viés de Bibiano Girard.

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