Veja bem, não falo de mim porque minhas palavras são doídas. E se eu te contar a verdade vais rir com aquele sorriso de canto de boca. Não remexo na poesiadas imaginações noturnas nem tento te tocar com palavras. Não vou mostrar minha alma. Não vou mostrar meus sorrisos e meus íntimos traumas. Meus olhos são atravessados pelos sonhos. Minha poesia caminha na rua, na calçada, do lado esquerdo e direito. Mas ela sempre dança, dança dentro de mim.
A poesia sempre canta as palavras, não consigo escolhê-las. Elas me escolhem. Sei, vais pensar que sou refém. Refém da poesia. Refém dessa escrita que sai de uma vez só mas nunca é moldada. As palavras parecem ser escolhidas, mas juro, meu amor, que não são. Não tenho sentimentos. Sou o corpo perambulante das noites e dos dias. Depois faço poesia para fingir que sinto.
Nas folhas molhadas da árvore em frente à minha casa tem sempre um poema à espera para ser escrito. Fico ali, olhando para elas, mas de mim não sai nenhum som, nada de palavras bonitas.
Queria ser poema. Mas não posso falar de mim. Dessas coisas todas que gritam aqui dentro. Falo que não tenho sentimento. É para fugir, meu bem. A verdade é que o sentimento está sempre à flor, na pele.
Olho para as coisas e elas me parecem tão frias. Daí transformo todo o cinza em colorido e todo o colorido… bem, o colorido eu coloco embaixo do meu travesseiro para ter sonhos bons. Saio à noite, meus passos me acompanham e tanta coisa me inspira. Aquelas folhas nas árvores e aquele lago logo perto da minha porta. Tudo me inspira, mas a poesia não nasce, não cresce.
Veja bem. Não falo de mim. Nem dos sentimentos. Mas poetizo tudo o que há em volta. Depois escrevo e guardo na gaveta das cartas que não podem ser lidas. Amasso-as e engulo-as para retornarem daonde saíram.
Dentro de mim tem poesia.
METALINGUAGEM DA ALMA, pelo viés de Giuliana Bruni*
* Giuliana é estudante de jornalismo na Universidade da Região da Campanha, campus Bagé, e autora do blog Meu Mundo e as Palavras