Há 50 anos, o golpe civil-militar, programado e amparado pelas instituições militares dos Estados Unidos, dava início ao período mais obscuro da história recente brasileira. Em 1964, os militares do Brasil — apoiados por setores empresariais, religiosos e da imprensa — depuseram o governo legítimo do presidente João Goulart. Duas pesquisas feitas pelo Ibope às vésperas do golpe de 31 de março de 1964, jamais divulgadas, mostram que o presidente contava com amplo apoio popular. Num mundo então polarizado ideologicamente, a extrema-direita sentiu-se ameaçada e, assim, atacou.
Antes mesmo do golpe, diversos horários em cadeia nacional de rádio e de televisão foram comprados. Neles, discursos forjados por militares, empresários e expoentes da extrema-direita brasileira tentavam criar uma suposta fragilidade no governo, que contava com 59% de aprovação quanto às medidas anunciadas por Jango no histórico comício da Central do Brasil, no dia 13 de março de 64, quando as propostas de desapropriação de terras não-produtivas às margens de rodovias e de ferrovias e o encampamento das refinarias estrangeiras foram apresentadas. Jango justificou sua posição política em carta escrita do exílio no Uruguai, onde definiu-se como cristão e reforçou os crimes já cometidos contra o operariado, negando o que era chamado de ataque comunista.
Como escreveu o jornalista e historiador Juremir Machado, “só quem não estuda ou age por má-fé e ideologia fala em segurança, ensino de qualidade, empregabilidade total e padrão de vida invejável durante o regime militar.” Com apoio de um empresário que buscava tomar o poder de imprensa do país, Roberto Marinho, “o mais fiel e constante aliado”, nas palavras do ministro da Justiça Armando Falcão, e de seus cúmplices da alta burguesia do país, a ditadura foi aos poucos se instalando no país. Também nomes conhecidos do jornalismo são apontados por Juremir, entre eles figuram Alberto Dines, Carlos Heitor Cony, Carlos Drummond de Andrade, Antonio Callado e outros.
Com o Ato Institucional número 5 (AI-5), de 1968, a corrupção endêmica, forjada desde a falta de eleições até os assassinatos cometidos pelo Estado, manteve os militares no poder por 21 anos. Durante esse tempo, houve extermínio sistemático de aldeias indígenas, quando aproximadamente 5 mil pessoas desapareceram. Foram construídos dois campos de concentração indígena, em Minas Gerais, mantidos por militares, baseados em trabalho forçado e sessões de tortura. Aproximadamente 1200 camponeses foram mortos ou desapareceram. Os orçamentos para as principais pastas da nação foram revistas: o da Saúde passou de 4,29% do total, em 1966, para 0,99% em 1974. O da Educação, no mesmo período, cai de 11,07% para 4,95%. O Congresso foi fechado e os meios de comunicação que não eram coniventes com o regime, fechados e incendiados. Em contrapartida, veículos como a Folha de São Paulo apoiaram o primeiro período do regime.
A revista o Viés iniciou há alguns dias uma campanha por memória, justiça, verdade e respeito. Em comunhão com o grito que ecoa pelo país, vindo daqueles que não se curvam às chantagens da mediocridade do poder sujo e corrompido, a campanha #UmNomeNaMultidão tenta, em pequenos quadros, relembrar alguns disparates e algumas repressões sofridos pelos brasileiros durante o período. Alguns fatores, como o aumento da dívida externa, que antes do golpe estava em 12 bilhões de dólares e, depois do período, encontrava-se na casa dos 100 bilhões, também são tratados.
O que o regime ditatorial deixou enquanto marcava seu passo com sangue, e depois de sua diluição, foi atraso. Quando as informações são cerceadas, pessoas ficam perdidas no contexto social e é mais facilmente delineado um tipo ideológico favorável às autoridades. Nas escolas, no lugar da aprendizagem do pensar, disciplinas como filosofia e sociologia foram excluídas dos currículos, retornando recentemente. Com o parco investimento em questões públicas, a força popular enlanguesce e, sôfrega, tende a se render. O método autoritário marca cada um de nós com suas tesouras. E não há como ser livre sozinho. O crescimento da pobreza no período, especialmente no nordeste, estagnou um país inteiro.
Acompanhe, envie sua opinião, sua história ou ideia. Em breve, mais postagens contendo o grito de nomes na multidão trarão fatos, dados e histórias que nos foram por anos cerceados e escondidos. Para combater a repressão de poucos, só a voz de muitos.
A revista o Viés convida a todas e todos a utilizarem as hashtags #umnomenamultidão #50AnosdoGolpe e #ditaduraNuncaMais durante esta terça-feira, 1º de abril de 2014. Acompanhe pela página da revista o Viés AQUI.
CALE-SE: 1º DE ABRIL DE 2014, 50 ANOS DO GOLPE, pelo viés da Redação