Desde que a edição da Revista Playboy deste mês foi lançada, sua estrela de capa, a atriz Nanda Costa, tem sido notícia. Estava tudo do jeito que o “povo manda”: magra, sem celulite, maquiadíssima e, claro, nua. Mas parece que esses estereótipos de beleza ainda não eram suficientes. Foi aí que “eles”, a mídia e qualquer um que tenha um computador com acesso à internet, resolveram regular como deveriam ser as nossas vaginas. Nanda Costa se depilou, é óbvio, mas não o bastante para os olhos de quem se sentia seu dono por ter pago por uma revista.
Primeiramente, é importante deixar claro àqueles que parece que não entenderam: mulher faz cocô, arrota, solta pum e tem pelo. Os pelos não fazem de você mais ou menos limpo, nem mais ou menos “viril”. Entretanto foi a partir desse imaginário dualista – entre o que é de homem e o que é de mulher – que a sociedade machista foi categórica com Nanda: não se livrar dos pelos da vagina foi uma afronta aos desejos do público consumidor da Playboy.
Poucas coisas afrontam tanto (ou mais) a sociedade do que mulheres que sentem orgasmo. É isso que aterroriza todos aqueles que se sentiram no direito de opinar sobre Nanda. Quando criança, as mulheres não têm pelos. Mulher que tem pelo é mulher que está em fase de vida sexual ativa. Mulher que tem pelo é mulher que goza. Então, por que essa onda de depilação total, assemelhando-se a uma menina? Algumas, das que preferem assim, dizem que é para se sentir como uma menininha, para se sentir dominada. Não é que haja problema em querer depilar-se dessa ou daquela maneira, afinal, as mulheres são donas do próprio corpo e decidem o que fazer com ele. O que é inaceitável é que a mulher fique sujeita a julgamentos por causa.
Houve quem concordasse (com o óbvio) que Nanda estava certa em deixar seus pelos como ela bem quisesse. Mas aí, mesmo com a intenção de apoiar a atriz, os argumentos foram “homem que tem nojinho de perereca cabeluda é melhor rever seus conceitos. Mulher é mulher e ponto final”, como disse o cantor Tico Santa Cruz em sua página no Facebook. Os homens cissexuais têm contato direto com o pênis desde criança (tocam até pra fazer xixi) e são ensinados que, se quiserem comprovar a tão idolatrada masculidade, terão que “honrar” seu pênis. Para isso, sempre devem desejar uma mulher e sempre devem querer transar com uma mulher, caso contrário, xingamentos homofóbicos são disparados. Ah, e se ainda duvidarem de sua masculinidade, uma maneira comum de se encerrar a conversa é esbravejando: “pega no meu pau, então”. Os homens não estão livres do machismo. Ninguém está.
A mídia coorporativa, que está inserida na mesma concepção de sociedade opressora, culpou a atriz pela repercussão de seu ensaio nu. “Nanda Costa gera polêmica por causa da sua depilação”, diz o jornal O Povo, por exemplo. Porém a menina da capa da Playboy deste mês rebateu as críticas com sátiras, como postando em seu perfil no Twitter a hashtag #Salveamataatlântica.
Apesar da maneira com a qual Nanda encarou tanta agressão à sua vagina e à sua liberdade, estamos diante de sessões intermináveis de violência, convertidos em posts na internet. O machismo aqui também está nu. Muitas feministas se questionam sobre a exposição da mulher em revistas eróticas. Seria emancipatória ou continua a serviço do patriarcado? Mas isso é outro texto.
DE UM LADO, MACHISMO. DO OUTRO, TAMBÉM, pelo viés de Letícia Fontoura*
*Letícia é estudante de jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria.