Há dois meses, antes de grandes mobilizações transbordarem nas ruas do Brasil, mais de quarenta pessoas já pensavam em conjunto uma Marcha que carrega no nome o combate à opressão. As “vadias” brasileiras ressignificam, com a força do choque terminológico, o que significa a busca pela liberdade em defesa das próprias escolhas. Ser vadia, assim, é ser livre para escolher que roupa usar, ser livre para abortar com segurança de uma gravidez indesejada, ser livre dos rótulos da moda e da indústria da beleza e ser livre sexualmente.
No sábado chuvoso do fim de julho, os batuques se ouviam à distância da Concha Acústica, local tradicional para a concentração de Marchas que, em seguida, adentram o centro de Santa Maria. Na Concha, um número considerável de pessoas, haja vista a chuva gelada que prenunciava a mais forte frente fria vinda do pólo nos últimos vinte anos, pintavam cartazes, camisetas e corpos como preparação a mais uma jornada de luta pelo reconhecimento da mulher como igual ao homem e pelo fim da opressão.
No trajeto que percorreu as principais ruas da cidade, gritos como “Tirem seus rosários de nossos ovários”, “Sou mulher negra, quero respeito, mulher não é só bunda e peitos” e “Eu não aturo o Estatuto do Nascituro” marcavam o passo e demarcavam as principais demandas das mulheres.
A Marcha das Vadias assim, não é só sobre liberdade sexual, nem só sobre a legalização do aborto, ou sobre a lutra contra homofobia, ou contra medidas governamentais que desagradam (como o veto da presidente Dilma à equiparação salarial entre os sexos, ou a simples existência de um Estatuto do Nascituro em discussão no Congresso e a chamada “Bolsa Estupro”), ou sobre a imposição de um modelo de beleza que não contempla, e assim discrimina, a maioria das mulheres. A Marcha é sobre todas essas demandas e muito mais, é um grito que vibrou pelo Centro de Santa Maria no sábado 20 de julho, assim como vibrou em várias partes do país nessa e em outras datas, para tratar de um tema posto de lado nas mesas de jantar, nas conversas de bar e nos veículos de imprensa: os direitos de as mulheres serem absolutamente livres.
A MARCHA DAS VADIAS EM SANTA MARIA, 2013, pelo viés de João Victor Moura (texto) e Gianlluca Simi e Tiago Miotto (fotos)