Já que tudo é pela Copa, pensemos em um jogo de futebol.
Pensemos naquele primeiro tempo, quando estávamos por baixo, fodidos, arrebentados, com cada jogada vigiada, mas cheios de coragem. Quando não tínhamos do nosso lado o juiz, o bandeirinha, a maior torcida, mas estávamos cheios de esperança. Está certo que uma série de fatores pode explicar o nosso “insucesso” nesse primeiro tento, mas aí vem o segundo e antes dele tem o intervalo, aquele período no qual a gente se organiza, coloca as coisas no lugar e volta para tentar o revés. O engraçado é que para esse segundo tempo, tudo deu tão certo que a gente estava por cima, no poder da partida, no centro das atenções, com a bola nos pés, mas cheios de medo e receio. O juiz já nos via com outros olhos, o bandeirinha ponderava, a maior torcida da casa era nossa, mas estávamos cheios de poréns.
Afinal foram eles que nos amarraram ou nós que nos amarramos a eles? Foram eles que, com maestria, nos moldaram à tática deles, tendo planejado isso desde o início, ou nós que, pensando se tratar de uma jogada genial, nos adaptamos ao jogo deles e fizemos exatamente o que se queria?
Pois é, a concessão tem dessas.
A gente cede um pouco pensando em não se expor tanto, não abrir tanto a defesa, e no final acaba por nada fazer. Não percebe que aos poucos não se avança. Mas insistimos nessa tática que diz que é preciso avançar aos poucos, com calma e segurança, e no final nos acostumamos tanto com esse discurso, naturalizamos tanto ele, que não atacamos mais e sequer vemos problema nisso. No final, não atacamos, não lembramos o porquê disso e quando lembramos já temos tantas desculpas para essa postura que por baixo delas estão soterrados e esquecidos todos os motivos que nos faziam atacar.
Chega, então, a hora da prorrogação, e na famigerada morte súbita, quem não tem coragem, quem não toma o controle do jogo, nunca vai vencer.
“AOS POUCOS NÃO SE AVANÇA”, pelo viés de Rafael Balbueno
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