O documentário Urbanized (2011), do diretor Gary Hustwit, junta-se a outros dois filmes, Helvetica (2007) e Objectified (2009), a formar a Trilogia do Design. Neste episódio, está em questão a relação da arquitetura das cidades com a rede de fenômenos e forças que determinam uma sociedade. Já no início do filme, contam-nos que: “as cidades sempre são as manifestações físicas das forças em jogo”.
Urbanized nos leva a Mumbai, Santiago do Chile, Bogotá, Brasília, Nova Iorque, Copenhague e a outros lugares, mostrando exemplos de urbanização distintos, que refletem as trajetórias locais. Em Mumbai, na Índia, estima-se que, nas próximas décadas, só a população que mora em favelas será a mesma das populações inteiras de Nova Iorque e Londres combinadas. Em Brasília, vemos o desastre do modelo de cidade jardim, de Ebenezer Howard, em que a cidade é dividida por funções e onde, consequentemente, tudo está longe de todos. Ao mesmo tempo, em Santiago do Chile, a construção de casas subsidiadas inclui as opiniões da própria população que lá moraria. Em Nova Iorque, trilhos de trem abandonados que atravessam 22 quadras viram grandes jardins suspensos. E em Copenhague, a disposição pista de rolamento, estacionamento e ciclovia protege os ciclistas e estimula a maioria das pessoas a andarem de bicicleta.
O ponto central deste documentário é perceber que o desenho das cidades não pode ser feito de cima para baixo. A espessura de uma calçada, a largura de uma rua, o número de espaços públicos não são meros detalhes da urbe, mas têm forte influência sobre o imaginário de uma população e sobre o cotidiano da cidade. O que significa para Santa Maria, por exemplo, o descaso com o Parque Itaimbé? O que nos diz o desenho da cidade quando, de um lado, milhares de pessoas nem têm casa e, de outro, assistimos à explosão de condomínios fechados nas Faixas Velha e Nova?
Um dos participantes do documentário propõe que: “não olhe quantas pessoas estão caminhando nas ruas. Olhe quantas pessoas pararam para ver o que há”. Parece que o espaço público está no epicentro do futuro das cidades. Como desenhar cidades que sejam vivas, feitas de pessoas quando o número de habitantes não para de crescer? Como criar espaços de congregação se a política e a economia capitalistas prezam pela impessoalidade e pelo afastamento? Urbanized propõe algumas dessas entre outras questões e nos mostra alguns exemplos pelo mundo.
URBANIZED: O DESENHO DAS CIDADES, pelo viés de Gianlluca Simi
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