– Não permitimos vacilo quanto à firmeza dos nossos princípios políticos! Nem de nossa fundamentação revolucionária! Nem mesmo sob as piores situações de pressão, adversidades, tortura, nem mesmo perante acirrada artilharia!
Essa era a base de tudo quando, em um dos recônditos rincões do 3º mundo, surgiu, como fruto da síntese de múltiplas circunstâncias, a Brigada Revolucionária Plunct Plact Zum! (BRPPZ!). Nasceu inspirada numa muito peculiar concepção raulseixista-
– Apenas admitimos uma marcha firme e linear em direção ao alvo! Nenhum ziguezaguear! Nenhum recuo! Nem tático, nem estratégico! Nem mesmo por enfraquecimento ou golpe mortal que se tenha levado no peito! Nenhuma escorregada, camaradas, nenhum descuido! Em frente! Em frente! Em frente! Nós somos a Brigada Revolucionária Plunct Plact Zum! – dizia Edgar Borin, sub-chefe da 13ª seção e correspondente internacional da facção francesa da organização (aspirante à IV Internacional).
Era deveras curioso, para o observador atento, constatar as suas passadas largas em direção à revolução. O que dominava, entre os membros da BRPPZ!, era a mais completa e absoluta seriedade. Eram sérios em praticamente tudo: na rua, nas aglomerações estudantis, nos protestos, nos acontecimentos públicos e, principalmente, nas redes sociais – estas, seus locais preferidos de combate.
– A seriedade é o nosso mantra e nosso método, nosso alfa e nosso ômega. Se Karl Marx quisesse que os revolucionários fossem elétricos e espevitados, teria escrito um tratado sobre o riso. Aliás, não há nenhum relato, salvo engano de nossa parte, de que Marx tivesse dado uma risada alguma vez na vida! – assegurou Michel Maffesolips Moreno, jornalista e porta-voz da Brigada.
Um dos líderes da organização, o militante Armando Badanha, foi entrevistado certa vez e asseverou:
– Pois é, é assim que a coisa funciona: se não pudermos construir, vamos destruir; se não pudermos juntar, vamos dispersar; se não pudermos agregar, vamos desagregar; se não pudermos fundir, vamos quebrar; se não pudermos organizar, vamos desorganizar; se não pudermos somar, vamos dividir; e se a coisa toda estiver andando sem o nosso carimbo de aprovação e sem que nós estejamos na cabeça do movimento, a gente chuta o pau da barraca e manda todo mundo à merda. – disse ele, explicando alguns dos princípios fundamentais da organização.
– A gente já sabe de antemão quando tudo vai dar errado… é porque, quando a gente quer, a gente faz dar errado, sabe? Hehehehehehe – disse Marieta Zambetta, chefe do serviço secreto da Brigada, rindo e esfregando alegremente as mãos.
Donos de teorias altamente sofisticadas, solidamente constituídas, amplamente fundamentadas, irretorquivelmente desenvolvidas e perfeitamente adaptadas às suas formidáveis carrancas, não havia um dos seus membros que não soubesse como chegar à revolução. Pelo contrário: todos – absolutamente todos! – sabiam.
Diretórios e centros acadêmicos, moradias estudantis, instituições públicas e privadas, escolas, universidades, parlamentos, conselhos tutelares, secretarias de assistência jurídica, juizados de pequenas causas, círculos de auto-ajuda, serviços de atendimento psicológico, grupos de oração e até mesmo centros espíritas eram considerados espaços de disputa, visto que em todos eles se podia plantar a sementinha vermelha da revolução.
A consciência da regulamentação ideal e da forma progressista para toda política do governo também era uma das suas características principais. Políticas públicas, aliás, eram suas especialidades. Adoravam discutir tais temas em qualquer local que se apresentasse disponível. A Brigada, nesse domínio, teve a felicidade de ser conduzida, durante muito tempo, por um líder infalível, Roberto Lero, cujas ideias era necessário propagandear sempre, principalmente no que concernia aos novos giros históricos e à filiação em massa de novos membros para a organização. Essas filiações eram muito úteis, pois garantiam vantagem ao posicionamento político do líder quando em votações de plenárias, assembleias e congressos.
– O novo giro histórico exige filiações em massa! – afirmou Lero, em entrevista televisiva. Abaixo a corrupção! – completou, em seguida, enérgico, sendo secundado em coro por meia-dúzia de fiéis correligionários: Abaixo a corrupção!
Seus cursos de formação política eram altamente sofisticados e reconhecidos internacionalmente: Módulo 1 (iniciante, para movimento estudantil): como falar grosso e inibir adversários em público; Módulo 2 (complementar): retórica avançada; Módulo 3 (intermediário): como quebrar militantes de outras organizações; Módulo 4 (nível pro): boatarias, infâmias, tramoias, fofocas, enrolações e intrigas; Módulo 5 (optativo, sem pré-requisito): introdução às redes sociais. Completando esses módulos, o militante se tornava apto a integrar as fileiras de frente, isto é, a vanguarda da BRPPZ!
O triste fim da Brigada Revolucionária Plunct Plact Zum! se deu quando, em determinada ocasião, seus já combalidos membros se reuniram em plenária para discutir e decidir qual o método mais apropriado para quebrar militantes de organizações alheias. Depois de se reunirem por 148 dias seguidos, dormindo mal, comendo pouco e fumando muito, o pequeno amontoado de vinte e cinco militantes acabou por rachar em onze reduzidos grupos, todos com opiniões divergentes sobre todos os assuntos tratados, e, por tal razão, nunca conseguiram descobrir, na realidade, qual seria o método correto de neutralizar, neurotizar e alijar da luta política militantes de organizações concorrentes. Esta foi a história da Brigada Revolucionária Plunct Plact Zum!, aquela que registrava, carimbava, avaliava e não deixava ninguém ir a lugar nenhum.
A INCRÍVEL BRIGADA REVOLUCIONÁRIA PLUNCT PLACT ZUM! (A QUE CARIMBAVA, AVALIAVA, ROTULAVA E NÃO DEIXAVA NINGUÉM IR A LUGAR NENHUM), pelo viés do colaborador Olivier Dumond*.
*Olivier Dumond é historiador e jornalista.