A internet popicia a diferentes grupos, coletivos e indivíduos a possibilidade de não apenas se basear na mídia para ter informações, mas de SER mídia, ou seja, de ser o próprio produtor de notícias e não mero reprodutor. Exemplos de mídias alternativas nacionais e internacionais não faltam e vão desde grupos locais como a Rede Extremo Sul, que usa a internet e as plataformas de blogs para disseminar notícias do extremo sul da cidade de São Paulo, passando pelo Jornalismo B, Correio da Cidadania e O Viés, até grupos internacionais, como o Global voices Online, ADITAL, Diário Liberdade dentre outros. Os exemplos são múltiplos, milhares.
Porém, tentando escapar do clichê introdutório, temos um problema grande em nossas mãos: Qual a conexão? Ou melhor, quando e como fazemos conexões a nível local e internacional?
É fato que em alguns momentos ou determinados veículos alternativos, devido a seus objetivos e modo de agir, há uma certa integração, uma troca, um intercâmbio, mas estamos falando de algo pontual.
Se é fato que há, hoje, uma tremenda desconexão entre o online e o offline, em termos de ações descentralizadas e diretas, há um “gap” ainda maior entre movimentos localizados em todo o mundo que, apesar de muitas vezes terem objetivos semelhantes ou mesmo focos que combinam, mantém-se apartados.
Pouco se sabe ou se faz em relação à possibilidade de intercâmbio entre diferentes grupos, coletivos e iniciativas de mídia independente que raramente vão além de colaborações esporádicas e troca de artigos, ao passo que há uma enorme possibilidade ou porta aberta para que a relação seja aprofundada e duradoura.
Muitas causas são transnacionais, transcendem fronteiras e por vezes conectam regiões distantes do mundo e em muitas dessas causas ha grupos que usam as redes como forma de disseminar informação, mas tem alcance limitado, possibilidades limitadas devido ao quase auto-isolamento imposto tanto pelo desconhecimento quanto por um certo amadorismo que ainda permea a nossa área.
A mídia, por sua vez, é absolutamente internacionalizada, não surpreende que tenha organizações regionais e internacionais que zelam por seus interesses – muitas vezes contrários aos populares – e que realizam não apenas lobby, mas mantém afinados os pontos de contato e busca contornar os pontos de conflito entre a mídia dita burguesa.
Nós, por outro lado, carecemos dos recursos financeiros virtualmente intermináveis da grande mídia, mas temos a internet. A mídia, or sua vez, começa a notar que seus recursos não são tão inesgotáveis quanto poderiam assumir há apenas uma década. Jornais fecham suas portas devido à pressão da internet e as redes de TV começam a se preocupar com um futuro em que se tornarão obsoletas, pois podemos escolher e produzir nossa própria programação com câmeras portáteis e criatividade – e uma boa conexão.
A cada dia que passa o poder das redes sociais se torna maior, sua penetração e importância crescem, ao passo que a mídia alternativa busca seu espaço, mas ainda de forma tímida, localizada. Dependemos ainda muito de um “empurrão” da grande mídia, quando por vezes nos cita, para conseguir maior alcance, ao passo que nós, enquanto midialivristas e ativistas, temos um enorme potencial de rede e um alcance imenso apenas através dos contatos que temos e que podemos vir a ter.
Esbarramos em diversos problemas, no Brasil – mas não só – temos a imensa divisão partidária e ideológica, temos aqueles que preferem se tornar porta-vozes de partidos a promotores da diversidade, ou os que se vestem de um sectarismo intransponível, acreditando firmemente que, sozinho, mas preso à sua ideologia, irá revolucionar o mundo.
Não estamos alheios ao egoísmo e ao egocentrismo, muito pelo contrário, devemos sempre nos policiar, olhar para nossas ações e ter em mente que somos parte de um coletivo e devemos trabalhar por este coletivo, não importando aquilo que decida uma direção partidária, uma corrente ou um grupo de supostos iluminados.Temos barreiras linguísticas – e daí a importância de projetos como o Global Voices Online -, culturais, de organização e mesmo a possibilidade real e constante de sermos perseguidos, violentados e até mortos. Mas muitos de nós estão dispostos a enfrentar tudo isso por uma causa.
A nossa individualidade unida é que forma o coletivo. Não o pensamento único ou a uniformidade imposta, mas o pensamento de cada um de nós, seja em blogs, vlogs ou em qualquer rede social, quando unido, forma um coletivo que pode e deve encontrar pontos comuns de luta e buscar amplificar nossas vozes, nossas lutas e, claro, outras lutas, outras vozes.
Enquanto a grande mídia reproduz o pensamento da burguesia, dando apenas espaço marginal para o contraditório, na esperança de conseguir nos enganar indefinidamente quanto ao seu papel, temos a função contra-hegemônica de não apenas dar voz, mas promover e propiciar a que todos tenham uma voz e que a rede a amplifique e permita que se espalhe.
Então sejamos a mídia, sejamos mídia.
SOMOS A MÍDIA CONTRA-HEGEMÔNICA, SOMOS MÍDIA, pelo viés do colaborador Raphael Tsavkko*
*Raphael Tsavkko é Jornalista, Mestre em Comunicação (Cásper Líbero), Bacharel em Relações Internacionais (PUCSP) e blogueiro. Mantém o endereço Blog do Tsavkko – The Angry Brazilian, assina a coluna “Defenderei a casa de meu pai” no portal anticapitalista Diário Liberdade, é autor e tradutor do portal Global Voices. Já colaborou diversas vezes com a revista o Viés, disponíveis aqui.