O especialista em meio de deslocamento sustentável, Enrique Peñalosa veio para o Brasil a convite do Fronteiras do Pensamento, curso que ocorre ao longo deste ano em Porto Alegre. Peñalosa, que já foi prefeito de Bogotá, realizou seu doutorado em administração pública com a intenção de estudar as soluções para alguns problemas urbanos e comuns a milhares de pessoas ao redor do mundo, a começar em seu próprio país. No dia 18 de junho realizou uma palestra onde alternativas urbanas foram apresentadas. O foco era a construção de cidades para pedestres e ciclistas. De fato, iniciativas como essa já ocorrem no Brasil, basta ver o estudo (http://cidadesparapessoas.com.br/) da jornalista cicloativista Nathália Garcia e da proposta do Baixo Centro (http://baixocentro.org/), que realiza atividades culturais no centro de São Paulo com a finalidade de humanizar o ”concreto” da vida cotidiana.
Peñalosa vai ao encontro dessas iniciativas, pois acredita que os únicos espaços públicos nas cidades são aqueles para pedestres. Para ele, os locais para ciclistas devem ser ainda reivindicados, especialmente em países em desenvolvimento. Durante sua palestra no Fronteiras do Pensamento, o colombiano fez o público imaginar como seria uma cidade, a nossa cidade, caso tivéssemos uma varinha mágica. Quais modificações faríamos? Ele lança duas cidades parâmetros: Houston com suas ruas e autopistas ou Amsterdam com suas bicicletas e, como ele diz, com os flertes oportunizados pelo contato visual mais próximo. Para Peñalosa, Amsterdam e todas as cidades com ciclovias são cidades muito mais sensuais.
Aqui a prioridade não é o carro
O ex-prefeito de Bogotá diz que a igualdade não acabou com a queda do muro de Berlim, e que ela não se encontra na propriedade privada. Para ele, esta só traz mais desigualdade. Como exemplo do que pensa, ele diz que uma boa cidade é aquela em que se dá vontade de sair para fora de casa para passear em espaços públicos, não privados. ”A cidade não é boa se você só vai ao shopping”, afirma o colombiano. Em sua palestra no Fronteiras do Pensamento, Peñalosa afirmou que os shoppings, redutos de lojas multinacionais, são indícios de cidades doentes. Suas atitudes não causaram satisfação em todas as vidas de Bogotá, especialmente quando ele cogitou comprar o clube de golfe da cidade para transformá-lo em um parque público. ”O lazer das pessoas pobres é nos parques e é dever do Estado garantir isso”, afirma o colombiano. Para ele, o acesso ao verde deve ser universal, sem ter necessidade de ser sócio de um clube. Para que isso ocorra, o governo tem que investir na compra de terras públicas nas cercanias dos municípios.
A importância das ciclovias e dos pedestres
Peñalosa cita a ciclovia como uma das soluções para a mobilidade urbana, pois dá reconhecimento e segurança ao usuário. Na capital colombiana, quando era prefeito, construiu 24 km de ciclovia em áreas periféricas, bem como áreas exclusivas para pedestres. Além disso, reconstruiu áreas centrais onde os carros utilizavam partes das calçadas para estacionar. ”As calçadas são parentes dos parques, não das ruas”, diz Peñalosa. O administrador público arrancou aplausos da plateia ao afirmar que o estacionamento não é um direito constitucional e que o prefeito pode aumentar a calçada ou fazer ciclovia como bem entender.
O colombiano afirma que o problema dos engarrafamentos não é criar mais autopistas, o que aumenta ainda mais o tempo de viagem e faz tratar ”fogo com gasolina”. O transporte, para ele, transforma somente a mobilidade, e não o problema do engarrafamento. Para resolver o número crescente de carros que circulam pelas cidades devem-se realizar limitações rígidas. Construir prédios bem localizados sem garagem é uma solução, e a melhor, para Peñalosa, é restringir o estacionamento: ”proibir o estacionamento no centro, priorizando o pedestre e o transporte público”. Lembramos: o modo de ocupação de uma cidade é sempre uma escolha política. Uma cidade, como afirma Peñalosa, não pode priorizar carros e pedestres, ela tem que fazer sua escolha. E essa escolha espelha o futuro que desejamos.
”O MODO DE OCUPAÇÃO DE UMA CIDADE É UMA ESCOLHA POLÍTICA”, pelo viés da colaboradora Júlia Schnorr*
*Júlia é Repórter da Oficina de Vídeo TV OVO. Leia mais de Júlia Schnorr na revista o Viés.