OS EFEITOS DA CRISE ECONÔMICA SOBRE A CLASSE TRABALHADORA

Entre os grandes desafios que a classe trabalhadora teve de enfrentar nos últimos anos, um dos mais importantes, senão o maior, é a discussão sobre o fim da centralidade do trabalho. Talvez o aspecto mais cruel desta tese seja o fato de ser aceita não somente pela classe burguesa e por seus porta-vozes na academia, mas mesmo por autores que se intitulam de esquerda e mesmo seguidores da tradição marxista[1]. Recentemente, setores dos movimentos sociais e sindical que, mesmo não assumindo publicamente a defesa da tese do fim da centralidade do trabalho, têm em sua ação prática desenvolvido a ideia de que mais importante que a organização e unidade do movimento sindical, coração do que se convencionou chamar de “mundo do trabalho”, é a unidade entre setores sociais os mais heterogêneos, que incluem movimento de luta pela moradia, movimento estudantil entre outros, tirando o foco do que deveria ser central no enfrentamento contra o capitalismo: a problemática do trabalho e de sua exploração pelo capital[2].

A teoria do valor-trabalho de Marx nos mostra que é do próprio trabalho que se origina a criação da riqueza capitalista, resultado da exploração do trabalho. Todas as demais formas de exploração e contradições expostas na sociedade capitalista são resultado desta exploração central entre capital e trabalho. Daí emergem outras tantas formas de exploração como questões de gênero, etnia, juventude, entre outros.

A dinâmica do modo de produção capitalista, procurando sempre novas formas de produção devido à concorrência entre os capitais na busca desenfreada pela diminuição dos custos de produção e aumento das margens de lucro, acelera o desenvolvimento das forças produtivas. Devido a isso surgem novos padrões de acumulação em que o papel do trabalho é transformado a todo instante.

As formas artesanais de produção são superadas pelas formas iniciais do capitalismo industrial e a divisão do trabalho dentro da fábrica faz com que os ofícios sejam destruídos, criando a figura do operário, um trabalhador que muitas vezes não consegue perceber a imagem total da mercadoria que produz, devido à segmentação cada vez maior das tarefas que executa[3].

Sob o período de ascensão do taylorismo-fordismo, as máquinas eram movidas, fundamentalmente, por energia humana. Com a introdução de novas formas de produção, modifica-se de forma radical a relação entre o homem e as máquinas. Apesar de apresentar um papel de destaque na produção de riqueza capitalista, o trabalhador é transformado aos poucos em apêndice da máquina, passando de pólo dominante a dominado[4].

Essa fase de desenvolvimento técnico-científico, que tem predominado especialmente a partir do último quartel do século XX, através de uma série de inovações tecnológicas como a informática, a microeletrônica, a robótica, a cibernética, entre outras, faz com que proliferem teses a respeito do futuro do mundo do trabalho no capitalismo contemporâneo, em que se destaca a tese do fim da centralidade do trabalho.

Em franca contraposição às teses dos autores marxistas, que atribuem ao trabalho a origem da riqueza capitalista, os autores que adotam a tese do fim da centralidade do trabalho consideram que a série de inovações tecnológicas surgidas, em especial no último quartel do século XX, estaria jogando o trabalho e os trabalhadores em uma posição subordinada e à beira do desaparecimento. O resultado da obsolescência do trabalho e da classe trabalhadora é de grande monta para o futuro da própria superação do capitalismo, pois, se o trabalho não é mais o responsável pelo processo de criação de riqueza, não teria motivos para justificar a tomada do poder pela classe trabalhadora, decretando, assim, a eternidade do capitalismo.

Esta tese, no entanto, ainda que bastante difundida, pode ser facilmente derrubada, bastando olhar para o mundo e vermos que nem o trabalho nem seu papel como agente fundamental na produção de riqueza estão diminuindo. Uma sociedade não vive sem o trabalho e ao contrário do que muito se tem dito, o trabalho está longe de desaparecer como mostram os três bilhões de trabalhadores do mundo que convivem com condições de trabalho cada vez mais precárias.

Analisando-se os dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) observa-se que ao invés de o trabalho estar diminuindo, conforme afirma a tese do fim da centralidade do trabalho, este se encontra cada vez mais presente no mundo todo. Para tanto, torna-se necessário utilizar-se de alguns dados para comprovar o total descabimento daquela tese.

A população trabalhadora aumenta a olhos vistos tanto nos países centrais como nos periféricos. Segundo dados da OIT no período 1976-1999 os países da América do Sul tiveram o número de trabalhadores praticamente duplicado. O Brasil passou de 38 milhões de trabalhadores em 1976 para 85 milhões em 2004; o Japão contava 52,7 milhões em 1976, já em 2005 possuía 63,5 milhões; enquanto os EUA apresentavam em 1976 88,7 milhões de trabalhadores, em 2005 o contingente subiu para 141,7 milhões[5].

Mesmo o argumento de que o trabalho está diminuindo devido à redução da jornada de trabalho pode ser questionado. Analisando-se dados de 100 ou 200 anos atrás a redução da jornada de trabalho é bastante significativa. O mesmo não se aplica, no entanto, ao final do século XX e início do século XXI, que de maneira geral, tem conhecido uma diminuição, mas não de todo expressiva.

Da mesma forma, o volume de trabalho em horas trabalhadas tem mostrado um aumento expressivo em diversos países, ao contrário do que seria de se observar de uma sociedade em que o trabalho estivesse se tornando irrelevante. Segundo Husson (1999), o volume de trabalho nos EUA passou de 132 bilhões de horas em 1960 para 247 bilhões em 1996, o mesmo ocorrendo no Japão no mesmo período, que de 107 bilhões de horas em 1960 passou para 123 bilhões de horas em 1996; no Grupo do G6, formado por Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido e Itália, o fenômeno repete-se, de 431 bilhões de horas em 1960, passou em 1996 para 530 bilhões de horas trabalhadas. Recente publicação da OIT elaborada por Lee, McCann e Messenger (2009) mostra que no mundo todo mais de 600 milhões de pessoas trabalham mais de 48 horas por semana, o que representa 22% da população trabalhadora mundial.

A produtividade do trabalho é outro aspecto decisivo para que possa ser observada uma tendência positiva de diminuição do trabalho no mundo. Considerando-se a produtividade do trabalho como sendo a divisão do PIB real pelo número de trabalhadores[6], pode-se observar que a produtividade do trabalho tem diminuído ao invés de aumentar. Ainda utilizando-se de trabalho elaborado por Husson (1999), ao analisar-se dados dos países capitalistas mais desenvolvidos, verifica-se não estar ocorrendo na atualidade uma aceleração do ritmo de crescimento da produtividade, mas, ao contrário, uma desaceleração. Tomando os dados da Europa, EUA e dos países do G6, verifica-se que a produtividade do trabalho teve o seguinte comportamento nos períodos 1960-1973 e 1983-1987: nos EUA, diminuiu de 2,6% para 0,8%; no Japão, de 8,7% caiu para 3,0%; na Europa passou de 5,2% para 2,3% e, finalmente, os países do G6 sofreram uma diminuição de produtividade do trabalho de 4,7% para 1,8%.

No mesmo sentido, dados da OCDE indicam que no Japão a variação da produtividade entre os anos 1970-1980 era de 4,2%, já em 2006 declinou para 1,2%; na Itália enquanto em 1970-1980 a produtividade apresentava um crescimento de 4,0% em 2006 alcançava tão somente 1,0%; na França a variação da produtividade é ainda maior, de 3,7% em 1970-1980 para 0,9% em 2006; nos EUA a variação da produtividade passou de 1,6% no período 1970-1980 para 1,0% em 2006. Se tomarmos os casos da Espanha e de Portugal a diminuição da produtividade é ainda mais expressiva. Na Espanha a produtividade passou de 4,7% entre 1970-1980 para 1,3%; já Portugal, que tinha a variação da produtividade entre 1970-1980 de 3,5%, teve em 2006 inexpressivos 0,2%[7].

Esses dados apontam para uma queda da produtividade do trabalho nas últimas décadas e, desta maneira, negam afirmações de que as inovações tecnológicas em curso estariam conduzindo a uma expansão brutal da produtividade do trabalho e, em consequência, estaria sendo utilizado cada vez menos trabalho por parte do capital para a produção de mercadorias e serviços. O que leva à conclusão de que a expansão das inovações tecnológicas não andaria no ritmo catastrófico que muitos imaginam. A imagem de uma sociedade em que a produção seja composta apenas por robôs, sem a participação da mão humana, como pode ser verificada, está ainda longe de saltar da ficção para a realidade.

O que se observa é que as transformações que estão ocorrendo no mundo do trabalho, ao contrário de diminuírem o esforço dos trabalhadores, estão aumentando a precarização do trabalho em suas mais diversas formas, como a utilização do trabalho terceirizado, de tempo parcial, temporário e informal. O que se conclui é que, no mundo todo, não está havendo uma diminuição do trabalho, mas uma precarização e, em consequência, um aumento da exploração do trabalho, o que justifica ainda mais a luta pela tomada do poder pela classe trabalhadora.

Assim sendo, é importante ressaltar que os dados estudados conflitam com a tese do fim da centralidade do trabalho e, ao contrário do que propugnam os seus defensores, o que se está verificando não é o fim do trabalho ou da sua centralidade no capitalismo contemporâneo. O trabalho não se encontra prestes a ser extinto, manifestando-se ainda central na atualidade, posto que o capital, por mais que tente, não consegue prescindir do trabalho. Por mais que ocorra o desenvolvimento de uma série de inovações tecnológicas, o capital ainda necessita nutrir-se do trabalho através de sua exploração ampliada em níveis cada vez maiores[8].

A CRISE ECONÔMICA E A CLASSE TRABALHADORA

Atualmente, com a mais recente crise capitalista, que ao tudo indica (infelizmente) não será a derradeira, os trabalhadores têm um novo desafio, pois mais do que ninguém sofrem seus efeitos. A onda de desemprego assola a sociedade capitalista e, se na crise de 1929 a então nascente União Soviética tinha ficado totalmente alheia à crise (poissofria um processo brutal de isolamento), sendo um fenômeno tão somente dos países capitalistas, a crise deste início do século XXI não poupa nem a China, que se vê ameaçada com o desemprego atingindo a taxa de 4,2%, o que equivale a 8,86 milhões de trabalhadores. Situação ainda confortável se comparada à dos EUA, coração da crise, onde o desemprego atingiu sua maior marca desde 1983, 10%, fazendo com que os estadunidenses tenham de conviver com 13,2 milhões de desempregados e 9 milhões de trabalhadores precarizados[9]. Na França o desemprego está atingindo 2,2 milhões de trabalhadores e no Japão chega a 3 milhões de desempregados. O aumento do desemprego japonês afeta inclusive os mais de 300 mil brasileiros que vivem no Japão e que estão sendo “convidados” pelo governo japonês a voltarem a seu país de origem[10]. Este fenômeno não é só característico do Japão, com a expansão do desemprego. A xenofobia se espalha pelos países centrais aumentando ainda mais o preconceito contra os trabalhadores vindos de fora que estariam “roubando” seus empregos, e isto ocorre em um mundo que se diz globalizado.

Segundo dados divulgados pela OIT, o número total de desempregados no mundo está em 212 milhões, sendo que nos dois anos de crise o número aumentou em 34 milhões de trabalhadores. Somado ao desemprego crescente, as formas de trabalho precário atingem 1,5 bilhão de pessoas (50,6% da população trabalhadora mundial), tendo aumentado em 110 milhões em 2009 em comparação a 2008 e, um dado mais terrível ainda, 1,4 bilhão de trabalhadores tentam sobreviver com menos de dois dólares de remuneração ao dia. Os países desenvolvidos do mundo somados aos países que compõe a União Europeia tinham em 2007 uma taxa de desemprego de 6%, enquanto em 2009 esta passou para 8,4%, ou seja, 13,7 milhões de desempregados a mais em apenas dois anos. A Grécia tem 17% da população desempregada.

A situação piora ainda mais se levarmos em consideração o desemprego de longo prazo, composto pelos trabalhadores desempregados há mais de um ano. Segundo dados da OCDE, retirados deCrítica Semanal da Economia de 2011, entre os desempregados norte-americanos em 2007 este tipo de desemprego não chegava a 10%. Em meados de 2011 o percentual atingiu 30%, enquanto nos anos de 2010, 40,1% na França, 48,8% na Bélgica, 48,5% na Itália, 47,4% na Alemanha, 45,5% na Espanha, 52,3% em Portugal e 45% na Grécia.

No centro da crise capitalista, os EUA, a classe trabalhadora além do desemprego crescente, que em certas cidades chega à absurda taxa de 30%, enfrenta um problema social sem precedentes, só comparável à grande depressão de 1929. Cerca de 3 milhões de casas tiveram os seus moradores despejados por inadimplência. O resultado é que aumenta a cada dia o contingente de norte-americanos que vivem nas ruas, em barracas, trailers, carros, etc. Junto com a expansão de desempregados, sem teto e miseráveis, o número de presidiários nos EUA atingiu uma proporção explosiva: 2,3 milhões de presidiários, o que equivale a um presidiário para cada 100 cidadãos norte-americanos. Proporção que sobe quando se leva em conta a etnia dos presos: um em cada 54 negros é presidiário, um em cada 36 latinos é presidiário[11].

O preço que a classe trabalhadora tem de pagar para manter seus empregos tem sido muito alto. A OIT divulgou estudo sobre os salários que afirma que ao menos para 1,5 bilhões de trabalhadores no mundo irão enfrentar diminuição do salário real.

Os salários de maneira geral se encontram em queda, e assim devem continuar enquanto perdurar a crise.

A pressão sobre os trabalhadores pode ser nitidamente expressa em uma das categorias profissionais que mais se expandem no mundo: os operadores de telemarketing. Recentemente foi amplamente divulgado que uma empresa telefônica privatizada da França, France Télécom, em apenas dois anos conviveu com 34 casos de suicídio entre seus empregados[12]. A maior parte dos casos pode ser atribuída ao ambiente de tensão que tomou conta da empresa, à insegurança no trabalho e a consequente fragilização da saúde tanto psicológica como mental dos trabalhadores.

O incremento mundial da dívida pública, resultado das medidas utilizadas para socorrer o sistema financeiro, e o pagamento de altos juros aos agentes detentores dos títulos públicos, faz com que além do aumento do desemprego, da precarização e da intensificação do trabalho, os trabalhadores se deparem com diminuição no número de funcionários públicos, corte nos gastos em saúde, educação e previdência, especialmente na Espanha, Portugal e Grécia[13].

No Brasil, a situação do trabalho é preocupante[14]. Dados da PNAD mostram que em 1994 o número de desempregados era de 4,5 milhões, e atualmente está beirando os 9 milhões. Segundo dados do IBGE, somente entre outubro de 2008 e janeiro de 2009 o número de subocupados no país aumentou em 14%[15]. Além disso, 4 milhões de trabalhadores brasileiros ganham até um salário mínimo de remuneração e 2/3 dos trabalhadores formais ganham entre um e dois salários mínimos. A informalidade ainda é bastante elevada no país, encontrando-se em torno de 50%.

O Brasil apresenta ainda outras peculiaridades que precisam ser enfrentadas, como a aceitação de que apenas um em cada três trabalhadores assalariados possua registro formal, além de trabalhar muito. Segundo a PNAD de 2008, 33,7% dos brasileiros trabalham acima da jornada normal de 44 horas, e 19,1% tem jornada superior a 48 horas semanais, enquanto somente 23,1% tem jornada de trabalho inferior a 35 horas por semana[16].  Devido aos baixos salários, 4,2 milhões de pessoas têm de exercer dois ou mais empregos para sobreviver, sendo que 6,6 milhões de aposentados continuam trabalhando mesmo após a aposentadoria. E talvez os dois dados mais estarrecedores, segundo a PNAD de 2008, sejam que existem ainda no país 4,5 milhões de crianças que trabalham e, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), nos últimos seis anos 30.659 trabalhadores foram resgatados da condição de trabalho considerado similar à escravidão[17].

A situação do trabalho na produção canavieira direcionada ao agronegócio, dirigida pelos usineiros (considerados “heróis” pelo presidente Lula) é das mais vergonhosas. Recentemente foi feito pela Unimep um estudo empírico no interior de São Paulo sobre a ergonomia no corte manual da cana[18]. Os pesquisadores concluíram que cada trabalhador em apenas 10 minutos corta 400 kg de cana, desfere 131 golpes de facão e flexiona o tronco 138 vezes. Isto em apenas 10 minutos de sua extenuante jornada de trabalho. Em um dia inteiro cada trabalhador terá cortado em média, 11,5 toneladas de cana, depois de ter desferido em único dia 3792 golpes de facão e feito 3994 flexões de coluna. O resultado desta condição de trabalho degradante é que os trabalhadores dificilmente passam dos 35 anos de idade e a taxa de mortalidade é bastante alta.

Com toda esta série de situações adversas, a retirada de direitos trabalhistas é vista pelo lado do empresariado como a mais fácil alternativa para a geração ou pelo menos a manutenção dos atuais empregos. O governo Lula, na busca de ampliar as contratações e diminuir o desemprego ofereceu a setores da indústria como automotivo, de máquinas e eletrodomésticos, uma série de incentivos fiscais sem, no entanto, ter ocorrido uma significativa contrapartida pelo lado do capital[19].

A tendência à diminuição dos salários, juntamente com o aumento do desemprego e da precarização do trabalho é um dos problemas mais preocupantes na atualidade. A respeito disto, nem é preciso dizer que se para defender a manutenção do emprego a correlação de forças não está favorável aos trabalhadores e sindicatos, a discussão salarial torna-se ainda mais difícil, além de que é muito fácil dizer que o mercado deve regular as relações entre capital e trabalho quando sabidamente nesta queda de braço as forças do lado do capital mostram-se extremamente favoráveis.

É preciso mais do que nunca que os trabalhadores se organizem e através de sua unidade, sua maior arma, resistir a estes desafios que estão postos e aos futuros desafios que estão por vir neste início de século.

A REAÇÃO DOS TRABALHADORES

O movimento sindical durante o predomínio do neoliberalismo sofreu um grave refluxo. O aumento do desemprego, da precarização do trabalho, da flexibilização das leis trabalhistas e do desmonte do Estado fez com que a luta pela preservação dos empregos fosse a principal bandeira das organizações de trabalhadores.

Em um período de crise como o que vivemos hoje, em que o postulado neoliberal é colocado em xeque, abre-se uma grande oportunidade para que os trabalhadores tomem as ruas para que os custos da crise não recaiam sobre eles. Diz Costa (2009, p. 150): “Apesar da crise estar abalando todo o sistema, os trabalhadores não devem ficar de braços cruzados esperando o capitalismo cair de maduro. O capitalismo só  cairá se for derrubado e esta é a tarefa do proletariado neste momento da história”.

Os trabalhadores reagem no mundo todo tanto na forma de passeatas, protestos, greves, paralisações, ou mesmo de ocupações de empresas, tanto de funcionários públicos, como de trabalhadores do setor privado.

O cenário destas manifestações tem sido vist na Espanha, em Portugal, na Itália, na Alemanha, na Dinamarca, na França, na Grécia, na Coréia do Sul, na Bélgica, na Turquia, no México, na Nigéria, na África do Sul e até mesmo nos EUA. São trabalhadores de setores os mais diversos como indústria, transportes, educação, minas, enfim quase todas as categorias afetadas pela crise. Em sua maioria pedem manutenção de direitos, reajuste de salários e fim das demissões.

Muitas vezes estas mobilizações têm tomado proporções bastante agressivas como no caso da recente explosão de um gasoduto da Shell na Nigéria, na ameaça dos caminhoneiros da França em descarregar 8 mil litros de combustível no rio Sena, na reação violenta do governo sul-coreano contra os trabalhadores quer haviam ocupado uma montadora de automóveis em protesto contra a demissão de mil funcionários (dados da Nova Democracia nº 56 e 57, de setembro de 2009).

 

No Brasil, apesar do movimento sindical encontrar-se dividido e parte dele sob o comando de centrais sindicais governistas ou pelegas, estudo feito pelo DIEESE mostrou que no ano de 2008 foram registradas no país 411 greves, totalizando 24,6 mil horas paradas. O importante a ser ressaltado no estudo é o aumento do número de paralisações no setor privado, que passou de 149 greves em 2007 para 224 em 2008. O setor público teve um número menor de paralisações, 184 em todo o país.  Do total de paralisações a que o DIEESE teve acesso, 73% tiveram resultado considerado positivo, dado superior aos anos anteriores – 60% em 2007, 75% em 2005 e 2006 e 70% em 2004[20].

Entre as diversas categorias que fizeram greve nos últimos anos como médicos, metalúrgicos, professores, construção civil, correios, funcionários públicos, bancários, etc., pode-se destacar a greve dos petroleiros em 2009, em que 28 mil trabalhadores aderiram ao movimento, apesar da divisão que existe no seio da categoria entre a FNP (Frente Nacional dos Petroleiros) e a FUP (Federação Única dos Petroleiros), de caráter governista.

No entanto, os rumos que o movimento sindical no Brasil e no mundo irão seguir ainda estão incertos. Frente a toda a série de ataques que os trabalhadores estão sofrendo é necessário que a unidade e mobilização estejam presentes, pois se a classe trabalhadora esteve por muito tempo sem grande poder de ação, a burguesia também anda fragilizada e sabe que não pode prescindir do trabalho para prosseguir no processo de acumulação de capital.

Para resistir aos desafios trazidos pela terceira revolução industrial e pela crise capitalista, mais do que nunca a unidade de ação dos trabalhadores faz-se necessária, devendo ser construída em cima de palavras de ordem como “redução da jornada de trabalho sem redução de salários” e “nenhum direito a menos. Avançar rumo a novas conquistas para os trabalhadores”.

OS EFEITOS DA CRISE ECONÔMICA SOBRE A CLASSE TRABALHADORA, pelo viés do colaborador Sérgio Prieb*.

* Sérgio Prieb é Professor Associado do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Doutor em Economia Social e do Trabalho pelo Instituto de Economia da Unicamp.


[1] É importante lembrar que dois dos principais formuladores da tese do fim da centralidade do trabalho são o sociólogo austríaco André Gorz, tido como autor de formação marxista e Adam Schaff, filósofo polonês por muitos anos diretor do Instituto de Filosofia da Academia de Ciências da Polônia no período de predomínio do POUP (Partido Operário Unificado Polonês, de tendência comunista). Sobre uma crítica aos dois autores ver Antunes (1995), Prieb (2005), e Lessa (2007).
[2] A Conlutas, combativa e importante entidade de massas no Brasil, ao não ser uma entidade eminentemente sindical e ter um caráter bastante heterogêneo, em que atuam de maneira orgânica, numa mesma entidade vários movimentos de massa, como de gênero, etnia, estudantil, etc., comete o equívoco de tirar do conflito entre o capital e o trabalho a principal contradição da sociedade capitalista.
[3] Marx em O capital utiliza o exemplo da produção de carruagens para ilustrar a desqualificação do trabalhador: “O costureiro, o serralheiro, o correeiro etc., que se ocupam apenas com a feitura de carruagens, perdem pouco a pouco com o costume a capacidade de exercer seu antigo ofício em toda a sua extensão. Por outro lado, a sua atividade tornada unilateral adquire a forma mais adequada para a sua restrita escala de ação. Originalmente, a manufatura de carruagens aparecia como uma combinação de ofícios autônomos. Progressivamente, ela se transforma em divisão da produção de carruagens em suas diversas operações particulares, em que cada operação cristaliza-se em função exclusiva de um trabalhador, e a sua totalidade é executada pela união desses trabalhadores parciais” (Marx, 1983, p. 267).

[4] “A redução do trabalhador ao nível de um instrumento no processo produtivo não está, de modo algum, exclusivamente associado com a maquinaria. Devemos também observar, ou na ausência de maquinaria ou em conjunção com máquinas operadas individualmente, a tentativa de tratar os próprios trabalhadores como máquinas. Este aspecto da gerência científica foi ampliado pelos sucessores imediatos de Taylor” (Braverman, 1987, p. 151).

[5] Segundo estudo feito pelo Banco Mundial a população trabalhadora mundial em 1965 era de 1,329 bilhões, em 1995 o número estava em 2,476 bilhões, sendo que atualmente o mundo conta com 3 bilhões de trabalhadores.
[6] Conceito fornecido por Mattoso (1994, p. 538).
[7] DIEESE (2009)  apud Productivity Database da OCDE.
[8]O processo de extração de mais-valia observado em várias empresas do capitalismo atual faz com que o tradicional exemplo que Marx utilizava em O capital (taxa de mais-valia de 100%) possa ser considerado brando. O Caderno de Debates da Intersindical mostra um exemplo observado no Brasil: Na fábrica da empresa Gessy Lever em 2002, três trabalhadores produziam 180 tubos de creme dental por minuto, sendo que o salário diário pago por uma jornada de 7 horas e 30 minutos para cada um era de R$40,00. Como o preço unitário do tubo de creme dental era de R$1,00, eram produzidos R$180,00 por minuto. Sendo a soma dos três salários equivalente a R$120,00, em todo o dia de trabalho bastam 15 segundos de trabalho diário para que seja produzido valor referente aos seus R$40,00 de salário diário.  O que Marx chamaria de tempo de trabalho necessário.
[9] Segundo Seabra (2009), os números são bem piores, o desemprego norte-americano estaria em 24 milhões de pessoas.
[10] O governo do Japão criou uma situação constrangedora aos decasséguis (brasileiros descendentes de japoneses), ao estimulá-los a deixar o país oferecendo 300 mil ienes, equivalente a R$6.700,00, para a compra de passagem aérea e 200 mil ienes, equivalente a R$4.500,00 por cada dependente, com a condição de não retornarem ao Japão a procura de emprego (Folha de São Paulo, 02 de abril de 2009).
[11] Dados obtidos em A nova democracia,  abril de 2008. Outro dado que chama a atenção é que segundo a FAO (organismo da ONU para agricultura e alimentação) a crise deverá fazer com que o número de famintos no mundo ultrapasse a marca de 1 bilhão de pessoas, sendo que nos países desenvolvidos o número de subnutridos deve aumentar em 15%, resultado do desemprego e da defasagem salarial (Folha de São Paulo, 20.06.2009).
[12] Segundo o jornal Brasil de Fato, em 10 anos 70 mil pessoas foram dispensadas da empresa. Os empregados restantes tiveram que se submeter a medidas muitas vezes humilhantes como vigilância constante, controle dos horários para ir ao banheiro, técnicos qualificados foram transformados em operadores de call center etc.
[13]No casoda Grécia, o problema é o mais grave de todos: “O capital financeiro, detentor desses títulos, está pressionando o governo grego, via a ‘troica’, ou seja, os inspetores do Banco Central Europeu, do FMI e da Comissão Europeia, a encontrar recursos para continuar a sugá-los para a burguesia. Como o Estado grego não tem mais condições de arcar com estas despesas, os representantes do grande capital exigem: privatizações – da rádio estatal, do aeroporto de Atenas e a quebra do monopólio estatal do jogo através da venda das loterias; ajuste fiscal, aumento da tributação sobre a população, corte de salários e corte dos direitos sociais. Se não bastasse este brutal pacote, a ‘troica’ exige que todas estas medidas sejam efetuadas e controladas por agências externas” (Pinheiro e Manzano, 2011, p. 3).
[14] Um exemplo da crítica situação do emprego no Brasil foi amplamente divulgado em 2009, quando um concurso público para 1.400 vagas para o cargo de gari no Rio de Janeiro (salário de R$486,10) teve mais de 100 mil inscritos, entre eles, 45 doutores, 22 mestres, 1.026 candidatos com nível superior completo e 3.180 ainda não concluído (Folha de São Paulo, 23 de outubro de 2009).
[15] O IBGE classifica como subocupado o trabalhador que gostaria de ampliar o volume de horas de trabalho (inclusive com outras ocupações) para aumentar sua remuneração.
[16] Segundo pesquisa do DIEESE, as empregadas domésticas no Brasil chegam a apresentar uma jornada de trabalho de até 54 horas.
[17] Um estudo assinado por professores da UFMG e da FGV-SP mostra que de 1.020 fazendas brasileiras visitadas pela CNA (Confederação Nacional da Agricultura) somente 1% cumprem as leis trabalhistas (Folha de São Paulo, 26 de março de 2010).
[18]Jutel (2008).
[19] O presidente Lula chegou inclusive a propor aos trabalhadores brasileiros que evitem pedidos de reajuste salarial, pois o mais importante em um momento de crise, segundo ele, é que os empresários aumentem suas vendas: “Hoje, mais do que fazer uma pauta de reivindicação pedindo mais aumento, temos que contribuir para que as empresas vendam mais” (Folha de São Paulo, 28 de março de 2009).
[20] O trabalho do DIEESE intitula-se. Balanço das greves em 2008.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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