A história e o pensamento de Simon Bolívar por cinco bolívares, preço equivalente a R$ 1,00. Esse é apenas um exemplo do que se pode encontrar na Feira do Livro de Caracas, que teve sua segunda edição encerrada no último domingo. Foi uma semana em que milhares de venezuelanos e turistas passaram pela Plaza de los Museos para comprar e discutir livros e participar de dezenas de atividades culturais sobre os temas mais variados.
Em torno da praça onde sediou-se a Feira estão o Museu de Bellas Artes e o Museu de Ciências Naturais, ambos com acesso gratuito. Além disso, foram montadas barracas com comida e um Café Venezuela, rede de lanchonetes espalhada por toda Caracas. Também junto à Feira foi construído um Parque dos Dinossauros, o que atraiu ainda mais crianças à praça. Esse tipo de espaço sobre dinossauros é comum na Venezuela há muito tempo, mas antes o preço cobrado afastava o povo da visitação. Agora é tudo de graça.
Na Feira, dois palcos levaram música, poesia, debates e até mágica aos visitantes, em mais de 100 atividades. Os debates foram da política à cultura, passando inclusive pela discussão sobre meios alternativos, independentes e comunitários de mídia.
Mas o centro em torno do qual giraram todas essas atividades foi mesmo o livro. Com tudo subsidiado pelo governo, todos os venezuelanos puderam encher sacolas com livros os mais variados, da política a obras infantis. Bancas com DVDs também estiveram na Feira, vendendo documentários independentes e clássicos políticos do cinema latino-americano.
Desde que Hugo Chávez assumiu a presidência da Venezuela, em 1998, o incentivo à leitura tornou-se política de Estado. A acessibilidade da população a livros é parte da estratégia de recuperação da história venezuelana e de intensificação do debate de ideias. O estímulo à mídia alternativa e comunitária também segue nessa toada. “Há 10 anos éramos todos ignorantes, hoje sabemos quem somos e o que acontece à nossa volta” é uma frase que se ouve facilmente pelas ruas de Caracas.
A criação da Fundación Librerias del Sur leva importantes obras a preços subsidiados a todo o país. Além disso, foram criadas editoras estatais, que publicam livros de novos autores venezuelanos, além de editar clássicos da política e da História, sempre para serem vendidos quase a preço de custo. O objetivo é difundir a cultura e o conhecimento, e criar nos venezuelanos o hábito da leitura, do qual sempre foram afastados pela despolitização e pelos altos preços dos livros. É uma realidade que está sendo modificada, e a grande dinâmica da Feira do Livro de Caracas é mais um exemplo do sucesso absoluto desse processo.
“FEIRA DO LIVRO DE CARACAS: A REVOLUÇÃO BOLIVARIANA TAMBÉM É CULTURAL”, pelo viés do colaborador Alexandre Haubrich*, desde Caracas, Venezuela.
*Haubrich é jornalista e editor do blogue JornalismoB. Colabora com diversas publicações, entre elas a revista o Viés.