NO PRETO E NO BRANCO

Existem diferenças – infelizmente ainda pouco visíveis – entre os argumentos dos que são críticos e dos que são do contra. O primeiro grupo é visto como sensato, perspicaz, capaz de fazer as duras críticas – custe o que lhe custar – em detrimento das coisas que aos seus olhos são ineficazes. O segundo grupo é o da balburdia. Seus gestos, suas palavras, seus cantos, suas camisetas. Tudo o que lhe altera a composição visual é agressivo, em certo aspecto repugnante. Ninguém ousa dar crédito aos que, historicamente, são vistos como o grupinho dos contra.

Quem ousa fazer uma crítica precisa estar bem armado.  Não adianta só disparar sem a mira precisa, sem os cartuchos cheios, sem o alvo localizado. A coisa toda pode feder, pois atirar merda no ventilador não é necessariamente prestar um serviço à sociedade. Mas eu acho engraçado, muito engraçado, que ainda não saibamos diferenciar os críticos dos do contra. Por que os que dizem o que queremos ouvir são críticos, enquanto os que nos provocam são os do contra?

Só que mais uma vez acho engraçado.

Obama veio ao Brasil. Esteve aqui no sábado, parte nessa segunda. Seu pouco tempo dispensado ao nosso país parece ser uma dádiva aos meios de comunicação nacionais, pois de todos os lados o assunto é destaque. Seja a sua presença carismática, sejam seus comentários ao Flamengo, sejam as roupas bem cortadas de Michelle Obama. Ou seja a prisão de treze manifestantes contrários a presença do presidente norteamericano em nosso país. Seja o desprezo pelos atos de seu governo antecessor e sua presença constante em conflitos armados (longes da visão democrática outrora pregada). Seja pelo olho bem localizado nas atividades ligadas ao pré-sal brasileiro. Seja o que for. A presença do presidente da Casa Branca em um país que emerge economicamente (mas que carece de atendimentos sociais) e que, a princípio, estivera longe dos conflitos no Oriente Médio, já é motivo mais do que suficiente para alterar os ânimos em geral.

Bombardeio midiático. Bombardeio contrário. Os que são contra Obama, contra o imperialismo, contra a exploração. Os que são contra os contrários a tudo isso. Os que só querem ver Obama passar.

Sinceramente, o mundo encolheu. Na minha perspectiva tomar uma posição sempre foi ter coragem suficiente para discutir, evoluir, discernir e – quem sabe – resolver. Mas o que me parece nos recentes atos de repúdio ao presidente norteamericano é que os que se posicionam estão passando por membros do grupo dos contra. Acho que manifestações anti-Obama (ou anti a tudo o que ele, neste momento, representa) são saudáveis. Não acredito em agentes americanos feridos, não acredito em puro “ranço esquerdista”, como pregam por aí.

imagem tirada do site Diário Liberdade www.diarioliberdade.org
imagem tirada do site Diário Liberdade www.diarioliberdade.org

Não desminto a máxima de que, a meu ver, algumas vertentes dos movimentos sociais precisam mudar. O mundo está em outro panorama, as relações sociais são outras. Mas eu não acho, realmente, que a exploração tenha mudado. Acho que aqueles que se sentem descontentes têm mais o direito de ir às ruas e reclamar. Afinal, em um continente onde todos se dizem democráticos (principalmente em tempos de conflitos no Oriente), nada é mais justo do que poder dizer “não, não quero esse homem aqui”. Acho que as relações diplomáticas são importantíssimas e que ser apenas contra a presença de Obama por ser (os chamados do contra) não favorece o crescimento de nação alguma. Mas o mundo precisa dessas pessoas que estão nas ruas, com a coragem de questionar o que acontece. Com a coragem de querer que seus governantes tomem posições pelo seu povo também, e não apenas por eles mesmos.

Não apenas negar, é claro. Mas contribuir para as chamadas mudanças sociais. Pode parecer um pouco quadrado, mas ainda acredito que discutindo a gente se entende. E mesmo que não se entenda, a gente caminha.

Acho que o radicalismo e o fantasma do contra nunca foram suficientes para mobilizar e representar o povo brasileiro por inteiro. Aliás, nada nunca será o suficiente para representar todos por inteiro. Não enquadremos as formas de pensar de cada um. Que os movimentos tenham a liberdade de protestar pelo que lhes for necessário. E que aqueles que não concordem possam se manifestar também. Mas que deixemos de lado os chamados ranços. Ser crítico ou ser do contra depende apenas da capacidade de argumentação.

O mundo precisa de mais pessoas pretas ou brancas, ao invés de cinza. Isso não é uma defesa ao radicalismo, nem aos grupos ortodoxos (que são contrários a algumas ditaduras, mas favoráveis a outras). Mas a defesa de pessoas que tenham coragem de discutir, evoluir e de tomarem uma posição. Que o mundo tenha espaço para todas as nossas posições.

NO PRETO E NO BRANCO, pelo viés de Nathália Costa

nathaliacosta@revistaovies.com

Para ler mais crônicas acesse nosso Acervo.

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