Formar leitores não é tarefa fácil. É preciso que família e escola trabalhem em conjunto. O interesse pela leitura deve ser estimulado desde a infância, na família, pois é a primeira instituição, seguida pela escola. Está previsto na Lei 8069, no Estatuto da Criança e do Adolescente, entre outros direitos, o direito à cultura. Infelizmente tanto família quanto escola têm falhado com esta obrigação. É preciso que a leitura também seja adequada à idade, envolvente para que desperte a magia, a curiosidade e o prazer por ler. Jogar os livros obrigatórios em uma mesa de sala de aula não é a melhor forma, ao contrário, a má vontade e a obrigatoriedade não geram prazer.
O hábito da leitura é um processo longo quando não criado na infância, e o que se vê em muitas escolas públicas é o descaso em relação à formação de leitores. Cabe aos pais e professores criar esse hábito, buscar os meios e as formas, ao invés da omissão, para despertar o interesse da criança e do adolescente. Segundo José Breves Filho “uma boa leitura restaura a dimensão humana e atua como um organizador da mente, nutrindo o espírito e aguçando a sensibilidade“. É dado mais valor à gramática do que ao pensamento do aluno. Eu já presenciei isso: um aluno escreveu uma história fantástica e teve nota baixíssima pela quantidade de erros de português. O professor deve ser sensível ao lado literário. Não que a correção gramatical não seja importante, mas é preciso valorizar para não deixar marcas profundas. Um bom exemplo de valorização é a obra de Ziraldo com “Uma professora muito maluquinha“.
O professor tem que ser um desafiador. Ensinar o aluno não só a ler, mas a escrever suas idéias, pensamentos, como no filme “Escritores da Liberdade“. Piaget diz que é na adolescência que o ser humano tenta dominar os elementos que lhe faltam para a razão adulta. Defendo a leitura como ponto de partida para uma vida adulta normal, prazerosa, na convivência com a sociedade. Saber driblar com as diferenças, pois a leitura transforma o indivíduo e sua possibilidade de escolha é bem mais racional. A função da literatura é formar a criança em um adulto capaz de enfrentar a vida. É na infância que a criança aprende a fazer suas escolhas, e uma boa literatura vai lhe dar sustentabilidade. Primeiro ela é ouvinte, e é perceptível o prazer que sente ao ouvir uma historinha, querendo participar. Quando aprende a ler, procura por conta própria a que lhe agrada. Na primeira fase os pais são responsáveis por este futuro leitor, e a preguiça de contar uma história pode ter resultados surpreendentes na vida adulta.
Se os pais se utilizarem da literatura, que é vasta, para o crescimento cultural e na formação de um cidadão, com certeza não estarão na adolescência de seus filhos em consultórios psiquiátricos, clínicas para drogados entre tantas outras desgraças. Um simples gesto transformador (que é o de contar uma história, mostrar o caminho da literatura e transformá-lo num leitor) pode ser crucial na formação do filho. Vejo na literatura um remédio para uma sociedade doente como é a nossa. Um remédio natural, e sem contra indicações, que deve ser oferecido à criança com prazer e dedicação. Jamais como obrigação, pois a literatura é indispensável para o desenvolvimento.
É urgente a necessidade de uma nova proposta de ensino de literatura nas escolas, além de banir de vez o sistema arcaico, de leituras impostas. Descobrir o que o aluno quer ler é fundamental, pois cada leitor é único em suas experiências. É na literatura que tudo é permitido. Se você ama seu filho, faça com que ele seja um leitor. A criança é como uma esponja: dependendo do que apresentarmos a ela é que será o que vai absorver: “água suja ou água limpa”.
A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA FORMAÇÃO DO CIDADÃO, pelo viés da colaboradora Marielsa Klatter Braga. Marielsa é advogada e escritora e em breve lançará um livro intitulado “Violino Vermelho”.
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