UM INCOMPARÁVEL ARTISTA DA VIDA¹

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Por muitos, ovacionado como o mestre do conto. E há razões para se elevar Anton Tchekhov (1860-1904) a tal grau de incomparabilidade no estilo que escolheu para desenvolver enredos tão simples e personagens tão tocantes e vivos dentro de nós, leitores.

Tchekhov tornou o simples da vida em história, dando menos importância aos desenvolveres das situações cotidianas e elevando as personagens ao mais importante e interessante, construindo na imaginação do leitor os próprios pensamentos e modo de agir das pessoas. O olhar do filho no colo do pai com a maior ingenuidade sobre os problemas de se fumar aos sete anos é tão bem escrito que a cena acontece ao seu lado, em sua tela imaginária cinematográfica. Mas não porque Tchekhov prende-se em descrições e aprofundamentos qualitativos de personagem ou lugar, mas porque as palavras de suas personagens e o modo como se olham e se tratam tornam as cenas palpáveis e incontestavelmente habituais. Todos conhecemos os sentimentos daqueles personagens. Todos já fomos humilhados, envergonhados, felicitados, ingênuos, perspicazes, tristes e felizes, no encontro com a solidão ou na esperança da melhora.

Anton Tchekhov não foi idealizador de personagens inesquecíveis por nome em seu “Um homem extraordinário e outras histórias”, mas todas as histórias serão para sempre lembradas por que Tchekhov encontra em cada personagem as maiores pequenezas do homem e as escreve para todos. Assim, demonstra os sentimentos mais ávidos e populares, a ingenuidade e a sabedoria de todo e qualquer ser humano.

– Tio Terênti! – aborda-o a mendiguinha de cabelos esbranquiçados. – Tiozinho, querido!

Terênti inclina-se para Fiokla e pelo seu rosto ébrio e taciturno espalha-se um sorriso, como aqueles que aparecem nos rostos das pessoas quando elas vêem diante de si algo pequenino, bobinho, risível, mas ternamente amado.

– Ah!…A serva-de-Deus Fiokla! – diz ele, ciciando carinhosamente. – De onde Deus te traz?

É dessa força de expressar-se que Tchekhov arrebata a cena e cria a alucinação do leitor. A Rússia mais rural, as caracterizações psicológicas e os questionamentos filosóficos das personagens sempre presente.

Como mostra Bruno Mendonça² em seu artigo denominado “O preço filosófico do novo ateísmo³”, publicado aqui na revista o Viés, o personagem do conto principal, “Um homem extraordinário”, é cheio de problemáticas mentais que deseja resolver.

Talvez Tchekhov ofereça em O Homem Extraordinário uma boa ilustração do novo ateísmo. O personagem principal do conto tem uma mente calculista, uma moral matemática. Mas, surpreendentemente, o cálculo não é para ele garantia de rigor moral, mas unicamente a raiz da confusão entre o bem e o mal. Em suma, ele é um homem bom, mas com uma bondade defeituosa devido à racionalidade que lhe impulsiona.

É isso que constrói “Um homem extraordinário e outras histórias”, lançado pela LP&M em edição de bolso a um valor bem acessível, em um grande livro que merece ser lido e comentado. Tchekhov extrapola o sentimento humano e os escreve para que possamos senti-los quando nem mesmo a história se passa conosco. Somos abraçados pelas desgraças alheias, pelos pavores dos homens tristes, pela corrida das crianças em busca de uma brincadeira totalmente subjetiva de marinheiros longe da Rússia. Leia “Um homem extraordinário e outras histórias” e viva um pouco da Rússia e da vida de pessoas que se tornarão amargurada ou felizmente inesquecíveis.

1. Assim Tolstói denominou Tchekhov.

2. Bruno Mendonça é Filósofo formado pela Universidade Federal de Santa Maria.

3. “O preço do novo ateísmo” pode ser lido clicando aqui.

UM INCOMPARÁVEL ARTISTA DA VIDA, pelo viés de Bibiano Girard

bibianogirard@revistaovies.com

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