Marie e Francis se amavam como amigos. Marie e Francis se apaixonaram por Nicolas, que não amava ninguém.
Estamos em Montreal, no Canadá. Marie (Monia Chokir) e Francis (Xavier Dolan) são amigos e, como tais, amam-se. Não há nenhum obstáculo entre eles até a chegada de Nicolas (Niels Schneider), um estudante de literatura que, aos olhos de Marie e de Francis, parece-se com um anjo e por quem ambos os amigos se apaixonam.
O cenário já é conhecido no cinema, desde Jules & Jim (1962) até Os Sonhadores (2003): o amor a três. No caso do filme Amores Imaginários (Les amours imaginaires), no entanto, o amor só existe para aqueles que o disputam: Marie e Francis, que, de amigos, tornam-se adversários a pelear pela atenção de Nicolas, que, ao fim, não amava nenhum dos dois como eles queriam. Mas Nicolas não está isento: diz a ambos que os ama, convida-os para um final de semana no campo, divide a mesma cama com os dois – e, quando descobre o amor de Marie e Frank, refuta ambos e resolve passar oito meses na Ásia.
O filme estreiou em junho deste ano e foi direto para o Festival de Cannes. É o segundo filme assinado pelo canadense Xavier Dolan, que estreiou como realizador em 2009 com Eu matei minha mãe. Em Amores Imaginários, vemos o lado patético de quem se apaixona – as cenas que se criam na cabeça, a ansiedade, o desconforto quando a pessoa amada por volta está e a sensação de estupidez quando tudo, finalmente, cai por terra.
A trilha sonora e as cenas em câmera lenta são marcos deste filme. A escolha das músicas é tão eclética e imprevisível quanto as de Tarantino e é impossível não ouvir a ítalo-egípcia Dalida cantando “Bang bang” horas depois de o filme ter acabado. Isso até darmos um salto para escutarmos House of Pain, cantando Jump Around.
Para alguns, Amores Imaginários não foi tão bom quanto Eu matei minha mãe, mas, para mim, isso não procede. Amores Imaginários é mais fluido e melhor compreensível; mais bem feito e mais maduro. Ao lhe assistirmos, não deixamos de nos sentir tão patéticos quanto Marie e Francis quando percebemos, todos juntos, que o amor só existe para quem ama.
VALE PRESTAR ATENÇÃO:
>>No estilo de Marie e de Francis. Ela parece se guiar pela moda dos anos 50 e ele parece viver entre James Dean e a Nova Iorque dos anos 80.
>>Na cena em que Marie está na cama com um homem e lhe explica por que fuma, dizendo “la smoke cache la merde” (a fumaça esconde a merda).
>>No desconforto que Marie e Francis sentem quando vão comprar seus presentes para o aniversário de Nicolas.
>>Na bela atuação de Monia Chokir (Marie), cujo cabelo nos lembra, vez ou outra, de Audrey Hepburn em Bonequinho de Luxo (1961).
>>Na reação de Nicolas quando Marie e Francis se pegam no tapa durante o final de semana no campo.
>>Na atriz que faz a mãe de Nicolas: Anne Dorval, que faz mãe de Dolan em Eu matei minha mãe.
>>Na referência que Dolan faz a James Dean. Em Amores Imaginários, Dean está num cartão que Francis envia a Nicolas; Em Eu matei minha mãe, ele aparece num cartaz no quarto de Antonin (François Arnaud), par romântico de Dolan no filme.
ASSISTA AO TRAILER:
O AMOR SÓ EXISTE PARA QUEM AMA, pelo viés de Gianlluca Simi
gianllucasimi@revistaovies.com