A crise econômica, que para o presidente Lula era apenas uma marolinha, está de volta. Ou melhor, nunca deixou de existir. Prova disso são as milhares de paralisações e greves na Europa, que chegarão, no próximo dia 29, à Espanha em uma greve geral, a Huelga General del 29-S.
A tal crise começou a ser comentada no final de 2007, mas existe desde os primórdios do capitalismo – é estrutural. É proveniente de uma política de ampliação de crédito para o mercado imobiliário estadunidense que, pouco a pouco, foi quebrando os bancos do país. Como o mercado financeiro de hoje é globalizado – e depende apenas da especulação financeira, ou seja, da compra e venda de dinheiro que não existe – sentiram-se tremores por todo o mundo. Para tentar conter a crise, governos injetaram bilhões e bilhões de dólares na tentativa de bancar as dívidas do grande capital.
As medidas tomadas especialmente pelos governos dos Estados Unidos e da Alemanha tiveram um bom efeito tampão. As pessoas não deixaram de comprar, e o comércio conseguiu manter-se minimamente bem. Exemplo disso no Brasil foram as reduções de impostos para bens de consumo e carros. Mas o dinheiro gasto – ou investido – nos bancos teve que sair de algum lugar, ou não ir a algum lugar: o bolso dos trabalhadores.
Os governos, para sustentar os bancos e grandes empresas, tiveram que reduzir benefícios dos trabalhadores, ou inclusive demiti-los. Isso é o que os europeus estão começando a sentir, pelas reformas para retirar direitos trabalhistas e sociais que estão começando a ser discutidas no velho continente.
Os países que viveram no século XX em um sistema de social-democracia (estado de bem estar social, com educação e saúde públicas e amplos direitos trabalhistas) são os primeiros a sentir o efeito da crise que não acabou. Como a qualidade de vida desses países foi por muitos anos superior à de outros, inverteu-se a pirâmide etária. As pessoas vivem por mais tempo, e há mais idosos do que jovens em países como Espanha, Grécia, Portugal e França. Isso torna os trabalhadores desses países o alvo mais fácil dessa guerra do capital.
“Ora, que se retirem os direitos dos que os têm, isso custa muito caro aos governos, não sobrará para os banqueiros”, diriam alguns. E é isso que se está fazendo. Na França, o presidente Sarkozy quer aumentar a idade para aposentadoria, a fim de ter que pagar menos a menos pensionistas. Na Espanha, tenta-se, além de também realizar a reforma da previdência, retirar direitos trabalhistas como o seguro-desemprego. E logo a crise chegará (ou voltará) aos países que pensam que a controlaram. E virá como tsunami, não como marolinha.
Na Europa, a classe trabalhadora se revoltou. Foi às ruas, paralisou o comércio. Na França, no último dia 7, a greve geral teve a participação de quase 3 milhões de pessoas. Na Grécia o governo não consegue avançar as reformas no congresso, tal a ira da população. E nesse contexto é que chega a Huelga General del 29-S.
Não ocorre uma greve geral na Espanha desde 2002, durante um governo do PP (direita). Na época, em apenas um dia, as reivindicações anti-reformistas surtiram efeito. Hoje, a situação é diferente. O governo é do PSOE (pseudo-esquerda). Os sindicatos demoraram para se voltar contra seus “companheiros” governistas. E o PP ainda quer aproveitar a situação para voltar ao poder nas próximas eleições gerais.
O fato é que a classe trabalhadora espanhola parará o país, quer queira o governo, a oposição conservadora e os sindicatos pelegos ou não. Só que os interesses do povo estarão enfrentando diretamente os interesses do capital, e normalmente essa briga já tem um vencedor declarado.
Apenas o povo organizado conseguirá realmente se contrapor ao capital. E que os brasileiros aprendam pelo exemplo, pois teremos que fazer o mesmo antes do que muita gente imagina.
O TSUNAMI VEM AÍ, PRESIDENTE, pelo viés de Mathias Rodrigues
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