você já viu a notícia dos mineiros que ficaram presos em uma mina no chile, e que, provavelmente, só voltarão para a casa no natal?
as autoridades responsáveis já estão providenciado algum tipo de conforto, mesmo que mínimo, aos trabalhadores – com o intuito de frear possíveis (e bem prováveis) consequências traumo-psicológicas. os mineiros recebem dvd’s e até mesmo video-games – confortos pequenos, mimos banais, jeitos imediatos encontrados pelas autoridades enquanto o resgate de fato não acontece.
quando leio notícias desta ordem meio-absurda, meio-real, meio-trabalhista, penso comigo que george orwell é um dos autores mais ‘atuais’ que já li até o momento. engraçado pensar que o autor de ”1984” e ”a revolução dos bichos” pensou suas sátiras às sociedades burguesas um século atrás – e conseguiu manter-se fiel ao que ainda hoje bate a porta da nossa consciência individual e social.
george orwell é um inglês típico, de família até que bem abastada – filho de um militar que trabalhou por anos na índia. porém, george não acomodou-se aos benefícios da sua ‘classe’. perambulou por lugares pobres e por vezes imundos, dormiu na rua e em hospedagens baratas, trabalhou em setores considerados da ‘prole’ e simultâneamente escreveu textos de ordem brilhante – filosófica, sociológica e humanamente possíveis. é difícil que algum assunto de interesse do proletariado mundial escape aos olhos críticos de george orwell
orwell é daqueles escritores que criticam até a si mesmo. sem se deixar influenciar diretamente nem pelas chamadas ‘esquerda’ e ‘direita’. sempre condenou o capitalismo voraz e desumano, mas nunca curvou-se aos modelos prontos soviéticos e ditatoriais.
um livro menos conhecido que os dois primeiros citados, “o caminho para wigan pier” merece igual atenção. com uma literatura mais madura que a anterior em ”na pior em paris e londres” (que segue a mesma linha jornalística-opinativa-participante), o livro divide seu conteúdo em dois principais textos: a primeira parte é uma descrição vivaz e humana da vida dos mineiros na região de lancashire e yorkshire (inglaterra). orwell vivencia o dia-a-dia da classe, perturbado por condições sub-humanas de trabalho, energia e sem grandes auxílios trabalhistas. exercendo sua função no escuro quase que o dia inteiro, o mineiro ainda sobrevive curvado sobre os joelhos, levando uma hora para entrar e uma para sair das minas – e quando vê a luz do mundo de fora, ainda vive com um salário de fome, banha-se com dificuldade (pela fuligem e por falta de melhor opção) e alimenta bocas e mais bocas na sua família.
a segunda parte é um ensaio (ao meu ver, excelente). uma crítica encomendada pelo editor de orwell da época, pertencente ao nicho ‘socialista’. orwell desfia suas críticas aos modelos pouco eficientes do socialismo, sem perder a capacidade de reconhecer no homem a sua necessidade e a sua opção pelo humanismo. desdenha os falsos socialistas, os socialistas pseudo-cultos, a classe pouco organizada, o ditatorialismo e a massa apática. recomendadíssimo aos que querem compreender como a mente que escreveu ”1984” se formou.
título: o caminho para wigan pier
autor: george orwell
editora: companhia das letras
tradutor: isa mara lando
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NO CAMINHO PARA GEORGE ORWELL, pelo viés de Nathália Costa
ótimo texto
gostei
=)
bj
apesar de ser desconhecida, essa é a melhor obra do Orwell.
tem um capítulo, que não me recordo qual, que trata o socialismo da forma mais sóbria que já vi.
ótima lembrança para tratar do caso do mineiros.