Neste filme do conhecido Stanley Kubrick (diretor de “Laranja Mecânica” e “Lolita”, entre outros), uma crítica acerca do período da Guerra Fria. Não é uma reflexão póstuma, já que o filme data do início dos anos 60. Trata-se de uma ironia aos fatos que se desenrolavam no mundo bipolarizado entre a antiga União Soviética e os Estados Unidos.
Capitalismo versus comunismo. Energia nuclear. Suspeitas. Tentativas de mostrar, cada qual, o seu poderio. É nesse cenário que um paranoico e desequilibrado general estadunidense ordena um ataque a bases da URSS. Suspeitava, sem fundamento algum, de uma possível ofensiva por parte do inimigo. Assim, coloca em funcionamento um plano extremamente radical, o qual somente ele poderia ordenar o cancelamento.
O clima começa a ficar tenso. Em uma reunião na Sala de Guerra, o presidente dos EUA conversa com o chanceler russo. Em um desses telefonemas, o chanceler anuncia que, se forem atacados, uma máquina destruiria toda a vida do planeta. Tratava-se da Máquina do Juízo Final, desenvolvida pelos russos a partir de alta tecnologia e com o intuito de represália a possíveis ofensivas.
Na trama, cada cena é um leque sinais com duplos sentidos. Cenas de tiroteios com placas ao fundo dizendo “Paz é a nossa profissão” e falas das personagens cheias de ironias (como, por exemplo, quando um general estadunidense e o embaixador russo brigam e o presidente pede para não brigarem, pois estão na Sala de Guerra). Crítica a exagerada atração masculina pelas mulheres, relatadas em cenas onde soldados foleam a Playboy, cuja capa mostra a secretária do general, com quem este tem um caso. E, é claro, há, principalmente, a figura do Dr. Fantástico. Este senhor é um cientista alemão, que servira a Hitler e, depois, tornara-se cidadão americano. Dr. Fantástico é um dos presentes na reunião da Sala de Guerra, pois, depois do III Reich, tornara-se conselheiro do presidente.
O ex-cientista é quem confirma a possibilidade da existência de uma máquina nos moldes do que a URSS dizia ter. O principal dessa personagem, entretanto, está nos trejeitos que carrega, nas falas e sinais que “acidentalmente” deixa escapar. Usa cadeira de rodas e tem uma mão que foge do seu controle. Ora ou outra, a tal mão se levante e sinaliza um “Zieg Hail”. Além disso, o Dr. Fantástico se dirige ao presidente chamando-o de “reich” algumas vezes.
Tanto o Dr. Fantástico, quanto o presidente dos Estados Unidos e o capitão Madrake, auxiliar do general que comandou o ataque infundado estadunidente, são interpretados por Peter Sellers. Não seria estranho se alguém não percebesse isso, pois as três personagens carregam traços únicos e marcantes. Talvez esse seja mais um fator que faça da obra um filme extremamente inteligente e irônico. Crítico e bem-humorado ao mesmo tempo. Vale a pena assistir, porque todos os detalhes e as falas não cabem serem tirados do filme.
DR. FANTÁSTICO – O HUMOR NEGRO DE STANLEY KUBRICK, pelo viés de Liana Coll
lianacoll@revistaovies.com
Ele chama o presidente de ” Führer” algumas vezes, mas corrige logo depois.
O filme tem vários méritos, mas se pensarmos que apenas cinco anos depois Stanley Kubrick lançou “2001” …. Parece que há um intervalo de 50 anos !