“Quem me dera
Ao menos uma vez
Provar que quem tem mais
Do que precisa ter
Quase sempre se convence
Que não tem o bastante
Fala demais
Por não ter nada a dizer.”
Fazendo um jogo com a letra de “Índios”, da banda Legião Urbana, logo acima, podemos dizer que “Koyaanisqatsi – Uma vida fora de Equilíbrio” é um filme que, sem falar nada, tem muito a dizer sobre pessoas que têm mais do que precisam ter e que não se convencem que têm o bastante.
Totalmente experimental, sem nenhuma fala e sem uma “história”. Apenas imagem e som arranjados durante 86 minutos em que cada novo frame impressiona e cada novo acorde arrepia. “Koyaanisqatsi” (1982), nome difícil de escrever e pronunciar (mas que acaba por se fixar na mente do espectador devido à trilha), é o primeiro filme da Trilogia Qatsi, do diretor estadunidense Godfrey Reggio, que com “Powaqqatsi – Uma Vida em Transformação” (1988) e “Naqoyqatsi – A Guerra como Forma de Vida” (2002) completa sua mensagem sobre o mundo caótico e insustentável em que vivemos.
Esse primeiro filme centra-se no hemisfério norte do globo e começa mostrando cenas de uma natureza selvagem, veloz, fluida e agressiva, para depois jogar o espectador em meio à vida urbana que, já em 1982, assustava pela sua correria. A trilha sonora do compositor Philip Glass hipnotiza de tal forma que se torna impossível conceber “Koyaanisqatsi” sem as músicas que o guiam.
O filme começa encantando pela beleza e causando desconcerto pelo contraste e desconforto pela velocidade. Assim que o público fica desarmado pela agilidade da “personagem cidade”, é confrontado com a pequeneza do homem perante a sociedade que criou. Por fim, uma longa cena mostrando o balé mais lindo, triste e improvável que a ambição humana já criou encerra brilhantemente o filme. Imóvel, com lágrimas nos olhos e sem reação, o espectador é obrigado a pensar sobre a sua vida e a questionar se ela não é “uma Vida que pede um outra maneira de viver”.
KOYAANISQATSI – UMA VIDA FORA DE EQUILÍBRIO, pelo viés de Felipe Severo
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