Lygia e suas horas nuas

As Horas Nuas é o nome do último romance de Lygia Fagundes Telles, publicado 1989. Lygia tem uma produção ampla, abrangendo inúmeros contos e quatro romances (Ciranda de Pedra, As meninas, Verão no Aquário e As Horas Nuas). Seu primeiro livro, de contos, foi publicado ainda quando ela tinha 15 anos.

Em As Horas Nuas temos o quadro da decadência de uma atriz de meia idade, Rosa Ambrósio. Na inatividade, e vivendo mais um término de relacionamento, Rosa agrava seu problema com o alcoolismo. Narcisista, vê no envelhecimento motivo para questionamentos e crises. E é em meio a devaneios, bebedeiras, sonhos e, principalmente, na solidão, que a personagem expõe sua história, colorida e fantasiada por seus traços de representação. Como chave para seus problemas, decide escrever uma autobiografia, intitulada As Horas Nuas. A tortura para escrever atravessa o romance, mas é através dela que conseguimos compor a personalidade da personagem. Há momentos em que o livro se torna uma escrita dentro da escrita: enquanto Rosa escreve ou narra suas memórias para um gravador, Lygia escreve “por cima” desta cena, analisando-a psicologicamente (através de algum outro narrador-personagem do livro), ou voltando a momentos-chave da vida da atriz.

Como todos os romances  de Lygia, os temas centrais referem-se à mulher, à solidão e a problemas como o alcoolismo. Além disso, pingam reflexões sobre religião. As personagens femininas têm características marcantes, as quais, através de seus estilos, caracterizam o quadro social da época, as ideologias de vida e, claro, as transformações, conquistas e perdas da mulher. Neste livro, a escrita tem tons surreias  e intimistas. É permeada por fluxos de consciência e trocas de foco narrativo.   Os narradores se alternam conforme chegamos a um novo capítulo, ou mesmo quando lemos um novo parágrafo. Um dos personagens mais intrigantes é o gato de Rosa, Rahul. Rahul tem importância central no livro, na medida em que,  fazendo sátiras com seu humor fino, fala de acontecimentos que presenciou e analisa a personalidade de sua dona.

As Horas Nuas, de Lygia Fagundes Telles, não tem início nem fim. A escritora chega realmente a uma escrita madura, criativa e intrigante nessa obra, que foi traduzida para vários idiomas (alemão, sueco, tcheco, francês, espanhol e italiano) e tem muitas edições brasileiras. O livro é pingado de reflexões sobre conflitos psicológicos e alguns dramas sociais. Intrigante, nele não sabemos o que é delírio ou realidade, fantasia ou fato.

Lygia e suas horas nuas, pelo viés de Liana Coll

lianacoll@revistaovies.com


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