A trajetória de ditadores, conflitos e exploração no mais pobre país das Américas
O HAITI É LOGO ALI
O terremoto que assustou o mundo
Os olhos do mundo inteiro estão voltados para uma pequena ilha na América Central, que na semana passada foi atingida por um dos maiores desastres da história. O Haiti é um país tão pequeno e tão devastado pelas condições a que foi submetido, que é possível que se pense (e que se diga) que só pode ser castigo divino. Mas não é. O terremoto que atingiu a ilha, batendo a marca de 7.0 na escala Richter, é mais um dos problemas que os haitianos enfrentaram em todos os anos de sua existência. Por estar localizado bem em cima de uma falha geológica, na divisa com a República Dominicana, o Haiti enfrenta terremotos e sismos há tempos. Porém, nenhum terremoto teria destruído tanto o país como esse último, minado de uma força de até 35 bombas atômicas.
A política do país é outro agravante nas vidas de mais de 10 milhões de haitianos espalhados por todo o território. Não é ira divina não. Um país dominado por líderes megalomaníacos e por intervenções norte-americanas, o Haiti já vem sendo “devastado” há décadas. Apesar da compaixão em escala global, o país tem problemas que estão tão enraizados que fazem até os mais otimistas duvidarem de sua plena recuperação. A catástrofe da última terça-feira (dia 12) acabou com vidas e construções de quatro cidades haitianas, entre elas a capital Porto Príncipe (Port au Prince).
Ainda não sabemos se também enterrou a esperança do país e dos habitantes de todo o mundo que anseiam pela sua recuperação plena. O luto pelas milhares de mortes, dentre elas de brasileiros militares e da médica pediatra Zilda Arns, ainda está presente na memória das pessoas. Mas em algum momento o Haiti precisa ser salvo.
A PÉROLA DAS ANTILHAS
Os escravos, os franceses e a independência
Foi Cristóvão Colombo quem primeiro pisou em território haitiano, por volta de 1492. Da mesma forma como aconteceu com outros países da América, a região foi ocupada primeiramente pelos espanhóis, para posteriormente ser tomada por piratas franceses – que decidiram que a ilha tinha mesmo era que pertencer a França. Dito e feito, o Haiti virou colônia francesa, e nessa época recebia o nome de Hispaniola (dado por Colombo). Apesar de desértico, o território até que chamou a atenção dos franceses, que em pouco tempo conseguiram dizimar com mais de um terço da população indígena local. Vendo que a mão-de-obra escrava estava escassa, a ideia principal foi arrastar da África uma nova fonte de trabalho forçado: os negros, que, logo transformados em escravos, ocuparam mais da metade do território, superpovoando a região. Os negros escravizados eram dados pelos seus senhores como “calmos e mansos”, tais como animaizinhos de estimação. Algumas revoltas, é lógico, surgiram lá pelos anos de 1722, porém foram consideradas pelos franceses como insignificantes.
A Pérola das Antilhas (como era chamada) produzia o que se tinha de mais rico na época em que “ter uma colônia” era a moda na Europa: café, algodão e açúcar. Mais de sete mil propriedades agrícolas ocupavam o Haiti na mesma época em que a Revolução Francesa tomou a França com os seus dizeres de liberdade, igualdade e fraternidade (bem como a Declaração dos Direitos Humanos, que durante muito tempo nem deu as caras no Haiti). Logo a escravatura foi vista como um câncer na França, mas até que era um bem na sua colônia. Exércitos franceses foram mandados ao país a fim de conter rebeliões, manter a escravidão, mas estabelecer a “igualdade entre os negros, mestiços e brancos”.
Com as pressões dos conflitos da França com Inglaterra e Espanha, os escravos são libertados no Haiti, contrariando os senhores de terra. Era preciso restaurar a ordem e a economia da ilha, abaladas pela política francesa. Os ingleses e os espanhóis também disputam a ilha, mas pela primeira vez na história, um comandante negro (Toussaint Louverture) derrota as tropas inglesas, expulsando-as do Haiti. Torna-se assim, general vitalício (nas suas palavras) e a principal dor de cabeça das metrópoles européias.
Napoleão Bonaparte também foi um inimigo vital do Haiti. Mandou tropas de soldados veteranos para exterminar com os negros e mulatos da região e implantar a escravidão novamente. O comandante negro é preso e morre na prisão, na França. Batalhas sangrentas tomam a ilha, mas o braço direito de Louverture, Jacques Dessalines, consegue expulsar os franceses, após batalhas sangrentas, e estabelecer a independência da ilha.
29 de novembro de 1803. O Haiti torna-se Haiti (que no idioma indígena local significa país das montanhas) e Dessalines, governador vitalício (moda que ainda vai pegar no país). E o lema da bandeira é “a união faz a força”. Em 1 de janeiro de 1804 o Haiti já é um país independente – um dos pioneiros na América.
A República Dominicana, anteriormente conjugada com o Haiti e conhecida como São Domingos pelos franceses, conquista a sua liberdade em 1844, após ser reocupada pela Espanha.
A MÃO DO TIO SAM
O destino manifesto, o padre no poder, as Nações Unidas
Com a independência do Haiti, franceses residentes na ilha também foram mortos. Segue-se uma sucessão de golpes no país, entre eles a própria divisão entre as regiões do norte e do sul. Após as mortes de generais, o Haiti ainda mantém ditaduras até o ano de 1843. Golpes que depõem o general responsável pela ilha nessa época, Boyer, é que forçam a República Dominicana a se separar do Haiti. Além das inúmeras tentativas de recuperar esse território, o Haiti ainda vive uma crise local que dura até o ano de 1915, com inúmeras revoltas e mortes, tendo passado pelo país mais de vinte ditadores que tiveram um fim trágico.
Os Estados Unidos, com toda a sua complacência e destino divino de comandar as regiões da América Central e Bacia do Caribe, chegaram também em 1915 para intervir no Haiti. O tal do destino manifesto, provedor da paz e da ordem, institui o Haiti como colônia de Washington até 1934. Na mesma época, as já conhecidas ocupações de Cuba e da República Dominicana, bem como a construção do Canal do Panamá.
Roosevelt, presidente americano em 1934, põem fim à ocupação americana no Haiti, jogando nas mãos da sociedade civil a responsabilidade por seu país.
Os Estados Unidos jamais abandonaram a ilha plenamente, tendo interferido diversas vezes na soberania do país. Mesmo deixando o Haiti militarmente em 1934, os norteamericanos mantiveram a sua presença política.
Mais tarde, lá pelos anos 90, os EUA impuseram sanções econômicas ao Haiti, em uma tentativa de reafirmar o seu candidato ao governo do país – o padre Jean-Bertrand Aristide. O próprio foi deposto do poder por mais uma tentativa de golpe, mesmo tendo sido eleito pela população haitiana, tendo ficado longe do poder até 1994. O general Raul Cedras foi quem tomou o poder e afastou Aristide. Quem sofre nesse período é mesmo o povo haitiano – que fica nas mãos de mais um ditador, amargando as conseqüências da vontade norteamericana. Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come.
Com as sanções econômicas e com as pressões vindas dos EUA, Aristide retoma o poder. Mesmo prometendo novas eleições, o ex-padre manteve-se por anos no poder, ocasionando protestos e mortes na capital do país, Porto Príncipe.
Em fevereiro de 2004, o ex-presidente foge para a África, e o Haiti sofre a intervenção militar dos Estados Unidos, em uma missão de paz autorizada pela ONU. De qualquer forma, o estrago já estava bem grande. Com suspeitas de fraude nas eleições anteriores no Haiti, e com marcas profundas na política nacional, o país teve mesmo que esperar.
Com a saída de Aristide, o Conselho de Segurança da ONU aprovou o envio da Força Multinacional Interina. Sendo assim, o Haiti agora era visto não mais como um problema só dele mesmo. Ele podia afetar outros países no mundo com a sua política conturbada. Dessa forma é que foi criada a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH), pelo Conselho de Segurança. Tomou a autoridade em 1 de junho de 2004, e com o contigente militar de diversos países da América (incluindo o Brasil) e de outros lugares do mundo interveio no país em uma tentativa de estabelecer a paz.
Após o terremoto que devastou mais de 80% da capital Porto Príncipe, o atual presidente dos EUA, Barack Obama, afirma que é preciso que se retome a responsabilidade das nações que ajudaram a devastar o Haiti. Uma espécie de culpa, talvez, que precise agora ser amenizada. No momento em que o país mais necessita, e que o mundo viu que necessita, precisa-se desse reconhecimento por parte de tais nações. Não como culpa, mas como responsabilidade. De acordo com as Nações Unidas, esse seria o momento em que a organização mais precisa mover esforços, desde a sua criação em 1945.
Porém, é impossível contar a história do Haiti, mesmo com todas as intervenções que sofreu, citando também a sua atual tragédia que chocou o mundo, sem falar de um outro desastre. Um desastre humano, que consumiu parte das forças do país em épocas anteriores. Esse desastre gostava de ser chamado de Papa Doc.
O PAPA NÃO POUPA NINGUÉM
Os bichos-papão, o médico e louco, o bebê Doc
Retomando um pouco o período, em meados dos anos 50, o Haiti ficaria conhecendo uma de suas mais conturbadas “eras”. A Era Duvalier, referente ao sobrenome de uma das figuras mais megalomaníacas e estranhas presentes na história moderna da ilha, e ditador cruel conhecido em toda a América.
Um sujeito amoroso e pacífico, atencioso com seus pacientes, ao ponto de ser chamado e conhecido entre os camponeses haitianos como o Papai Doutor. A magnitude de sua megalomania, passando de um doutor atencioso à um ditador cruel, lhe renderiam apelidos como Calígula Negro. O nome deste homem era François Duvalier, ou como posteriormente gostaria de ser chamado, Papa Doc.
O Papa Doc tomou o poder em 22 de outubro de 1957. Tão logo assumiu o poder, surpreendeu a todos com a rapidez com que mudara de postura. Tornou-se rígido e intolerante, controlador da imprensa local, dizimando qualquer um que discordasse de seu regime. A Era Duvalier começava.
Como um ditador que se preze, Duvalier tratou de organizar uma milícia própria que cumprisse com uma tríplice função: garantir a sua segurança pessoal, conter as Forças Armadas do país e impedir revoltas e levantes por parte da população reprimida. Essa milícia era conhecida como Voluntários da Segurança Nacional, mas o povo carinhosamente os chamava de tonton macoutes, que na língua africana local (o criole) queria dizer bicho-papão. O mesmo das histórias para criança, de um bicho noturno e feroz que as devoraria sem a menor piedade caso topasse com alguma delas. No imaginário popular, mesclado com a terrível realidade, os tonton macoutes aterrorizavam a população por trás de seus sempre óculos escuros e uniforme bege.
Ainda em uma atitude típica de um ditador insano, o Papa Doc fantasiou uma cidade – a Duvalierville – em homenagem a ele mesmo, e que seria construída com o dinheiro do povo. Mas nem uma moedinha sequer foi para uma pedra que fosse do asfalto de Duvalierville. Foi parar tudo é nos bolsos do próprio Papa Doc. As grandes propriedades de terra foram remodeladas a la Papa Doc, sendo a maioria delas transformadas em academias de treinamento para os tonton macoutes.
A Igreja Católica entrou em conflito com Papa Doc durante o seu “reinado” – ou teria sido ele mesmo, o Papa Doc, quem entrara em conflito com a Igreja Católico. Religião dominante naquela época no país, o catolicismo teria sérios problemas no Haiti devido a vontade de Duvalier. Expulsando arcebispos de lá, nomeando arcebispos de cá, em meio a esse tumulto o Papa Doc teria sido considerado, por ele mesmo, como o próprio Deus. A prática do vodu, hoje bem consolidada na ilha, foi incentivada nessa época. No mesmo período aumentou o preconceito com a prática, uma vez que os tonton macoutes utilizavam rituais de vodu para amedrontar o povo que desconhecia a religião. Acredita-se que na época da morte do presidente americano John Kennedy, Papa Doc teria enviado um aliado, secretamente, até o túmulo do falecido presidente. Sua missão seria realizar um vodu, a fim de tornar a política norte-americana mais “amena” com o regime de Papa Doc.
Nos anos 60, perseguiu a imprensa, seus desafetos e qualquer um que se colocasse no seu caminho. Decretou ainda uma nova Constituição, onde ele próprio pode se colocar como o presidente vitalício do Haiti.
François Duvalier era um ferrenho lutador do movimento negro. Durante a sua ditadura no país, mulatos e brancos seriam duramente perseguidos.
Estima-se que durante a sua ditadura mais de 30 mil haitianos morreram. Mesmo ele próprio tendo declarado, certa vez, que seus inimigos eram somente os inimigos do Haiti. Uma espécie de ufanismo, mesclada com uma psicose, fizeram do período regido por Papa Doc um dos mais angustiantes vividos pelo país.
Mesmo com as tentativas de tirá-lo do poder, o Haiti fica cada vez mais nas mãos de Papa Doc, que ao se declarar vitalício ainda assume a postura de um governo hereditário. Em seu ninho nutre um possível sucessor, já conhecido como Baby Doc – seu filho Jean-Claude Duvalier. O Papa Doc só tiraria suas mãos do poder, definitivamente, em 1971 com a sua morte. Ao morrer, o legado do Papa era o título de uma das nações mais pobres da América, bem como um dos mais baixos índices de desenvolvimento humano, alfabetização e condições de saúde pública.
Além de, é claro, seu bendito fruto – que igualzinho ao pai, ajudou a destruir a nação haitiana. Após ser designado pelo pai como a sua continuação na Terra, Baby Doc (ou Jean-Claude Duvalier) dominaria o país por mais 15 anos.
Período de ditadura no Brasil, bem como em outras nações da América, o início dos anos 70 foram uma época de esperança de paz na Era Duvalier. Porém, o Baby Doc saiu-se melhor que a encomenda, também se consagrando vitalício e aterrorizando o país.
Na década de 80 o país entrou em crise política e econômica sob o comando de Baby Doc. Em 86, Jean-Claude declarou estado de sítio e fugiu com a família para a França, a fim de evitar aqueles que queriam o seu pescoço. O país então foi assumido por uma Junta Militar, que governou com a sucessão de generais até as eleições de 90 e o conflito com Aristide.
Um livro que registra muito bem o período dos ditadores Duvalier, bem como o também existente lado da alegria do povo haitiano, Os Comediantes, de 1966, foi levado às telas do cinema um ano depois, em 67. Liz Taylor e Richard Burton faziam o par romântico da história. Os Comediantes, que no Brasil também pode ser encontrado pelo título de Os Farsantes, é a história de Brown, um dono de hotel no Haiti, que vê a freguesia diminuir durante o truculento período da ditadura de Papa Doc. O livro é do inglês Grahan Greene, que muito possui de seu próprio personagem, conhecedor da ilha e do período sangrento da ditadura Duvalier. O livro, ao ser publicado em 63, despertou a ira de Papa Doc, que tentou desmoralizá-lo.
O hotel que inspirou o livro chama-se Trianon, e ainda existe, a beira da decadência e do saudosismo da época dos turistas ricos que enchiam a ilha em busca de paisagens paradisíacas e diversão haitiana.
“PENSE NO HAITI”
‘E não importa se olhos do mundo inteiro possam estar por um momento voltados para o largo’
A população haitiana tem mais da metade de seu povo com origens africanas. A mistura de negros africanos, mulatos e brancos – bem como a convergência do criole e do francês como idiomas locais – definem seus preceitos étnicos. Um povo que se divide entre o catolicismo e a prática do vodu, ou o mesmo que concilia ambas as religiões sem ver problema algum nisso. Uma economia devastada, um dos piores índices de desenvolvimento humano – bem como precárias condições de saúde, educação e necessidades básicas. O conflito civil assola e atormenta os haitianos há décadas. Mesmo assim, é um povo de esperanças e de alegria, enraizados na cultura negra que veio da África para a América.
O professor Ricardo Seitenfus, em seu livro HAITI – A SOBERANIA DOS DITADORES, disponibilizado para download no site do projeto Brasil Haiti, escreve: “Apesar de ser a primeira colônia latina a romper os laços que mantinha com a Europa, o Haiti caracteriza-se pela crônica instabilidade política. Golpes, contragolpes, revoluções, intentonas e guerras entre clãs permeiam a trajetória dessa república. Os mesmos fuzis que permitiram a independência são utilizados para manter as lutas internas. O país encontra-se em absoluto caos, com sua economia arrasada.”
Enquanto uma parte do mundo assiste chocada aos acontecimentos que se desenrolaram no Haiti, uma outra parte ajuda diretamente o país a se reerguer. Mesmo que digam que o Haiti sofre com a má sorte, quem bem sabe o que acontece também sabe que não é questão de sorte. O país mais pobre da América é o mais pobre devido a ditaduras longas, insanidades em seu governo, intervenções estrangeiras e exploração por todos os lados. Não será questão de sorte ou de má sorte. Construir um país leva séculos. Reconstruí-lo, é o que só saberemos mais tarde.
AS VEIAS ABERTAS DO HAITI, pelo viés de Nathália Costa
nathaliacosta@revistaovies.com
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Muito boa a matéria , terremotos não vem só de fora >
Bem explicativo o texto. Resta dizer e/ou ressaltar, ao meu ver, que o caos não se iniciou depois da independência, muito menos por causa de brigas internas, de clãs etc. Os haitianos, negros em sua grande maioria, enfrentaram os maiores exércitos do mundo e venceram com enormes perdas humanas e material. O mundo na época já estava convulsionado. A experiência da revolução francesa desnorteou a geopolítica mundial da época… e influenciou a rebeldia nas colônias. Era um momento de fraqueza para as potências européias, que somente conseguiriam fôlego na segunda metade do século XVIII com a revolução industrial. Antes disso, a relação dos países sedes com as colônias eram meramente extrativistas. A passagem para o século XIX é que trouxe a figura do “consumidor”… O Haiti foi a primeira colônia americana (abaixo dos Estados Unidos, outra ave de rapina) a conseguir a independência e a sofrer um amplo e severo bloqueio comercial. Ninguém negociava com os revolucionários-ex-escravos e então revolucionários-governo (inclusive o Brasil, que temia levantes escravos na Bahia*…). Evidentemente, com a economia trucidada pela guerra de independência, formaram-se grupos descontentes com os métodos etc… e começaram a gerir guerras internas, alimentadas pelo nascente imperialismo norte-americano. A fome acaba com a civilidade e com ímpetos revolucionários. O Haiti pag(a)ou por ser um modelo de rebeldia.
* Na Guerra do Paraguai (1865-70), o imperador D. Pedro II contratou mercenários franceses para lutar contra os paraguaios. Surpresa toral quando, no desembarque na Bahia, as autoridades imperiais viram que os contratados eram todos negros zuavos, livres… E pior: armados, bem armados e treinados. Pior ainda, o capenga exército brasileiro era formado majoritariamente por escravos. Sabia-se que não daria boa coisa. Tentaram inutilmente mandar os zuavos para o Canadá, no mesmo navio que atravessaram o Atlântico até aqui. Não deu. Mandaram os mercenários direto para o massacre no sul, expondo os pelotões às mais duras condições de combate e alimentação. Em meses, sobraram alguns poucos, servindo como ordenanças de oficiais estrangeiros que atuaram junto ao império. Não se sabe se os negros zuavos influenciaram alguma revolta entre os “nossos” escravos, mas sabe-se que a bombacha gaúcha, a faixa na cintura e o colete vieram daí (os gaúchos usavam ainda o chiripá), indumentária que facilitava o movimento em combate.