As barreiras invisíveis e indivísiveis na sociedade é talvez o principal eixo que norteia e delimita Lemon Tree (produção conjunta de Israel, Alemanha e França). Uma viúva simples e solitária, tendo como família apenas um imenso pomar de limoeiros plantados pelo seu pai há mais de cinquenta anos. A rica e influente mulher do Ministro da Defesa de Israel, igualmente solitária, cercada pela nata da sociedade israelense, deixada muitas vezes de lado pelo seu marido. Entre elas não há apenas um muro, mas sim a divisa entre as duas nações conflituosas. Ambas convivem apenas com a troca constante de olhares, onde a cumplicidade, apesar de não dar frutos, permanece entre as duas.
O conflito começa a partir do momento em que o Ministro da Defesa de Israel decide mudar-se para uma casa maior e bem protegida, ao lado do pomar de uma viúva palestina. Entre a casa do Ministro e da viúva, uma cerca separando o território israelense do território palestino – bem como o pomar de limoeiros, cultivado a tempos pela viúva.
Vendo os limoeiros como ameaça terrorista, tanto o Ministro quanto o serviço secreto de Israel passam a considerar o pomar como um possível inimigo, decidindo cortar as árvores. Tudo, é claro, pela segurança do Ministro e a de sua mulher. Mas a decisão não passa pela viúva palestina, dona do pomar. A pobre senhora é apenas comunicada de que seus limões serão cortados a fim de assegurar a segurança do Ministro. Mas em compensação, alguns trocados de indenização lhe serão entregues, para que ela não duvide da boa fé de Israel. Aqui vale a lembrança: as leis israelenses permitem que, em nome da segurança do Estado, terras de palestinos sejam tomadas pelo governo sem nenhum pagamento em troca.
É lógico que a viúva não se conforma apenas, uma vez que o seu pomar era muito além do que a sua única fonte de sustento – era a lembrança bem marcada de um pai já falecido, de uma tradição de família, e de uma bem servida dignidade própria. As tradições e os princípios morais sempre foram campos em abertos para a germinazação de conflitos e distenções. O conflito de interesses é bem marcado, bem como as prioridades de ambos os lados. O que para um não passa de um punhado de árvores que bem podem ser suprimidas por uma quantia de dinheiro, para outro é questão bem mais vital. Tanto que a viúva, ao não se conformar com as decisões de Israel, decide levar sua questão ao tribunal.
O ato de coragem lhe coloca em conflito direto com o Ministro e com as autoridades. Um cerco da mídia se forma ao redor dos dois, inflamando a opinião pública. O Ministro alega ser apenas uma vítima das circustâncias, não tendo ele o poder único de decidir pelos limoeiros. Mas algumas pessoas enxergam além do que lhes é dito: a mulher do Ministro, apesar de cercada pelos seguranças e pelas muralhas de sua confortável casa, consegue ver através do pomar uma mulher,igual a ela em diversos aspectos, e diferente em sua cultura e em seus hábitos. Mas não por isso, menos digna de fazer valer sua própria vontade.
A viúva Salma Zidane, muito bem interpretada por Hiam Abass (A Noiva Síria, do mesmo diretor), vive momentos delicados, pois é até mesmo proibida de aceitar o dinheiro “sujo” de Israel em sua comunidade, pelos anciãos palestinos. Ao achar um jovem advogado, Salma procura a justiça que parece cada vez mais longe e acaba vendo uma paixão florescer. As fronteiras e imposições israelenses são mostradas a cada passo dado – seu pomar logo é cercado, e ela fica proibida de entrar. Depois, as barreiras entre as cidades israelenses não liberam a passagem da viúva e de seu advogado, interpretado por Ali Suliman (Paradise Now). Mas os israelenses não são só assim retratados. São também humanos, como o soldado Ligeirinho, sentinela da cerca, que é simpático embaixo de uma farda camuflada e de um fuzil de guerra. As emoções são bem retratadas: dor, ressentimento, solidão, amizade, amor – seja em que lado do muro estivermos.
Salma Zidane encaminha sua decisão até os últimos limites da lei, fazendo prevalecer uma ideia maior do aquela de ganhar uma causa. O que vale agora é mostrar para o mundo que ganhar pequenas batalhas é o caminho para vencer a guerra. Bem melhor seria se não precisassemos conviver com a guerra, mas se ela existe, é preciso equiparar as forças bem antes de determinar vencidos e vencedores.
De longe, na capital dos Estados Unidos, o maior paradoxo de um dos conflitos mais absurdos do mundo: longe de muros ou fortificações o filho palestino de Salma Zidane cozinha num restaurante, enquanto a filha israelense do Ministro faz intercâmbio na faculdade Georgetown.
LEMON TREE, pelo vieses de João Victor Moura e Nathália Costa
Nathália, como professores do ensino médio, conhecemos alunos com as mais diferentes habilidades. Eu já sabia que o mundo daquela sala de terceiro ano era muito pequeno para ti. Os voos estavam preparados, bastava iniciá-los. Sinto-me orgulhosa por poder apreciar o “depois” daquele pequeno trabalho que a Cled e eu te propunhamos todas as semanas: escrever redações escolares. Um abraço carinhos, da Magda Scotta.