A terceira afilhada e a busca de um porquê para o batismo.
Em 1922, ano em que o Brasil completava o primeiro centenário de sua independência moral de Portugal, a cidadela de São Vicente do Sul construiu um coreto para celebrar tão marcante data para a pátria. Um coreto poligonal, rodeado de leões de boca aberta, que, no passado, jorravam nas bacias de concreto a água que vinha dos guaranis subterrâneos. Hoje, o coreto é azul e amarelo; diferente do branco descascado de antes. Entre os pilares que o sustentam, cria-se uma moldura: de um lado, a Praça Borges de Medeiros, ponto central de uma cidade-província; do outro, como era de se supor, a chamada Igreja Matriz. Não se estranha que, ao se virarem os olhos pela quadra, estejam muito próximos a primeira escola de ensino médio, o antigo prédio da prefeitura e o mais conhecido de poucos bares que banham as noites da cidade cujo nome homenageia São Vicente Ferrer. Foi nessa cidade em que eu nasci e cresci – São Vicente do Sul: fincada nos pampas, mais próxima da Argentina do que da própria capital do Estado.
Essa é a cena que me engoliu no último sábado, dia 20. O recorte da igreja através do coreto. Um pequeno desvio e algumas dezenas de passos adiante e – voilà! -, chegava eu à igreja a que, por batismo, não pertenço, mas na qual batizaria a minha terceira afilhada, Ana Cecília.
Depois de ficar uma hora entre as reações às ordens de sentar e levantar do padre – que parecem tão previsíveis para quem frequenta a igreja e já se antecipa -, chegou a hora da Ana Cecília. O punhado de padrinhos e madrinhas são, por assim dizer, postos nos dois primeiros bancos da igreja, enquanto o resto dela se queda em silêncio, pétrea. O padre, que não deve ter muito mais do que trinta anos, começou seu breve discurso sobre o batismo com a voz às vezes quase inaudível dos religiosos.
De repente, ele pergunta se nós, como padrinhos, prometíamos educar a Ana Cecília dentro da fé cristã. Se algum dos muitos de nós dissesse “não”, ele não poderia batizá-la, pois o batismo é o sacramento que sela a entrada de uma pessoa na fé em Cristo.
Mesmo discordando do batismo com entrada forçosa de uma criança que nem sequer tem consciência da sua própria existência numa religião, não balbuciei e prontamente, chegada a hora, disse “sim”, afinal, seja lá o que causa o batismo na vida de alguém (ou a falta dele), não queria ser eu a causa da sombra na vida da minha, literalmente, mais nova afilhada.
– Prometem educar a Ana Cecília na fé cristã?
– Si…! – curtamente.
Eu já queria escrever sobre o batismo há algum tempo. E, em fato, fiz uma rápida entrevista com o padre de São Vicente do Sul, Flávio Somevilla, que não podia me doar mais tempo porque estava atrasado. Fui para a casa dos meus compadres [palavra bizarra!] para um churrasco que comemorava a entrada da minha afilhada em todo um sistema ideológico e cheio de firulas sacramentais. De lá, surgiu-me a dúvida múltipla: quem inventou o batismo e qual o porquê disso?
βαπτίζω
Não existe total concordância entre os exegetas – estudiosos de textos bíblicos – quanto ao significado da palavra grega βαπτίζω (baptizô), da qual se originou “batismo”. As referências a ela são feitas majoritariamente no Novo Testamento e sua tradução flui entre “imersão” e “banho”. É dessa vala entre os dois significados que algumas religiões divergem quanto a se o batismo deve ser feito com total imersão ou com um simples banho duma parte do corpo.
O BATISMO CRISTÃO
O batismo mais comum no Ocidente começou junto com o próprio Cristianismo. É dito que o deus cristão, através de Jesus, institui o batismo como sacramento, isto é, como um gesto divino de adoração. Se o batismo é feito através de Jesus, por que foi ele também batizado? O significado dado ao batismo atual não existia na época de Jesus, mas nos deparamos com uma indagação para a qual personalidades do mundo da “Santíssima Igreja Católica” têm uma resposta: o teólogo Justino Mártir (100-165 d.C.) disse que Jesus foi batizado como exemplo a ser seguido por quem também quisesse a salvação em deus e Inácio de Antioquia (67-110 d.C), discípulo do apóstolo João, disse que Jesus havia sido batizado para ele mesmo purificar as águas dos batismos por virem. Além disso, segundo o Evangelho de João, Jesus só batizou os apóstolos e estes foram os que saíram a batizar outros potenciais crentes.
Daí em diante, cada religião interpreta e realiza o batismo de formas diferentes. Católicos e protestantes seguem, em geral, a mesma fórmula, mas os primeiros são mais rígidos quanto à necessidade do batismo para a salvação da alma e remissão dos pecados, enquanto os protestantes acreditam mais no significado abstrato e pessoal do batismo, como sendo, portanto, uma “lavagem de regeneração”.
Dentro do cristianismo, há ainda muitas outras correntes. Os anabatistas , protestantes radicais, praticam o “batismo do crente”, em que só um adulto, consciente de seus atos, pode se entregar a ele, renegando, assim, o batismo de crianças, que não entendem o ritual e não estariam, portanto, realmente aceitando em suas vidas a presença de Jesus Cristo, o salvador. As testemunhas de Jeová, cristãos adoradores do deus de Israel, também só praticam o batismo naqueles conscientes do significado do ritual e até impõem um período de preparação para tal – o desejo de ser batizado deve ser anunciado muito antes do ato em si para os anciãos o permitirem ou não. Para as testemunhas de Jeová, por exemplo, só existe o batizado com total imersão do corpo. Os quakers, protestantes extremamente moralistas que surgiram do rompimento com a Igreja Anglicana, são mais extremos e não reconhecem nenhum tipo de sacramento externo, nem mesmo o batismo. Acreditam que essas demonstrações de fé devem ser internas a cada pessoa.
OS BATISMOS EM OUTRAS RELIGIÕES
Os muçulmanos têm o gushul, literalmente “banho” em árabe, pelo qual eles se limpam das impurezas, como, por exemplo, após fazerem sexo ou após menstruarem. Os judeus têm o mikvah, que, assim como no Islamismo, não significa a entrada na religião. O mikvah é, em fato, um banho através do qual se limpa a alma das impurezas, principalmente antes de se entrar no templo para não contaminá-lo nem a outros. Os xintoístas praticam o “miyamairi”, ritual em que se roga pela felicidade dos recém-nascidos. Os mandeístas, que negam Jesus e Moisés e louvam João Batista, praticam o batismo frequentemente, assim como os muçulmanos e os judeus, num ritual de purificação ao invés de iniciação.
LIMPO E PRONTO
Mais distante das religiões, há o batismo de objetos e de momentos. A garrafa de espumante que se joga contra um navio, um jantar que se prepara para comemorar uma casa nova ou um pisão no tênis novo seguido do berro de “batizado!”. O batismo se faz até nas universidades, em que os calouros – bixos – são postos a um ritual bem menos santo e muito mais sujo: o trote. Seja qual for o tipo de batismo, ao se observarem as religiões e as práticas dispersas pelo mundo, ele tem dois significados: o de iniciar e o de purificar, quistos juntos ou individualmente.
Quando alguém é aprovado no vestibular e é pintado, tem os cabelos cortados e dá uma festa dionisíaca à família e aos amigos, existe aí um batismo – de iniciação. “Bem-vindo à universidade!” é o que se subentende. Quando uma criança, que não sabe nem mesmo quem é ou sequer que ela existe, tem a cabeça molhada por uma água “abençoada”, a ela é dito – “Tu és agora parte desta crença”. Qual a importância disso? Muita, alguma ou, quem sabe, pouca. Para alguém que passou horas com os livros, estudando fórmulas, datas e regras que provavelmente se mostrarão inúteis no decorrer dos anos, talvez o trote seja um descarrego – foram-se os anos de estudos ditados, quedam-se à frente os anos mais livres, incertos e inseguros, mas que representam, finalmente, uma vida de vivências e de descobertas. Para a família criada rezando, orando a um deus, batizar a prole ou vê-la batizada é um alívio: seja lá o que acontecer na vida “dos filhotes”, eles estão agora na mão do senhor.
Quanto à minha afilhada, Ana Cecília, pode ser que nem os adultos que a levaram ali e os outros que a rodearam sabem o porquê daquele momento. Pode ser que estivéssemos simplesmente repetindo aquilo a que fomos submetidos quando também bebês.
Saber ou não o significado que pode ou não existir no batismo. Muitas possibilidades, mas pouca certeza consciente. O batismo: com água, com óleo, com fogo, com espumante, com tinta guache – todos eles são, no final, uma pequena vasilha na qual mergulhamos as pontas dos dedos – ou a mão inteira – para nos limparmos do quer que seja antes de estarmos prontos para a refeição que será (será?) a vida. O batismo, o batizado, a iniciação, o banho, o trote – seja o que for. Tudo isso não passa de uma lavanda para alma: pureza e preparaçãoal.
UMA LAVANDA PARA A ALMA, pelo viés de Gianlluca Simi
gianllucasimi@revistaovies.com
Eu adoro ler o que vc escreve, Gianlluca. É sempre muito próximo ao meu próprio pensamento.
Gianlucca, eu sempre adoro ler teus textos, pq eles refletem muito bem meus próprios pensamentos. Tua descrição do batizado poderia ter sido escrita por mim…ahahaha, ótima mesmo. Tenho cinco afilhadas e sempre me senti assim. Mais uma vez, parabéns pelo texto.
veja bem Jesus não precisava ser batizado mas o filho de Deus se fez carne por dois motivos primeiro deixar seu exemplo ou seja devemos viver o que Jesus viveu e segundo ele veio dar sua vida em prol do pecador então veja devemos viver como ele viveu ele nos deixou o exemplo do batismo o batismo é necessário mas quando uma pessoa tiver consiência das escrituras Jesus se batizou com trinta anos e ele foi batizado por imersão ou seja ele entrou no rio Jordão se ele tivesse sido batizado por aspersão ele não precisava entrar no rio só precisava de um recipiente de água portanto em matheus diz que Jesus saiu do Jordão então é claro que ele entrou no rio e o rio tem muita água portanto a igreja católica batizava corretamente podemos observar nos batistérios de roma que a pessoa era mergulhada e batizada por imnersão mas depois de um certo tempo a igreja mudou o batismo de imersão para aspersão então os anabatistas estavam corretos em relação ao batismo e a igreja reagiu com brutal selvageria assassinando as pessoas nas fogueiras desagradando a Deus mesmo que eles fossem assaltantes e malfeitores ninguém teria direito de tirar-lhes a vida mas eles não eram malfeitores eram mártires da fé apesar da pressão das torturas eles foram fiéis os cristãos perceberam que a igreja anulou os mandamentos do senhor como por exemplo o sábado que deixou de ser observado e o domingo foi estabelecido a maneira de dizer que jesus ressucitou no primeiro dia da semana não é uma desculpa para não guardar o sábado o próprio Jesus descansou no sábado se ele quisesse ter ressucitado ele teria facilmente mas ele guardou o sábado até na sua morte em Lucas 4:16 relata que Jesus tinha costume de ir a sinagoga aos sábados outra razão que os cristãos discordavam da igreja no intuito e capacidade da igreja traficar vendendo indulgências portanto existem denominações que exploram os fiéis que furtam os fiéis mas a igreja católica foi a primeira a explorar as pessoas não estou querendo criticar só estou querendo dizer o que a igreja fez que não é de acordo com a bíblia e nem com a vontade de Deus.