Duas contraparentes e uma vontade de fazer arte
Quando se sobe uma escada caracol geralmente olhamos fixamente para os degraus em curva e apertados com cuidado. No caso da escada de duas voltas que liga um salão de beleza a um pequeno atelier em Santa Maria (RS), nossos olhos procuram entender os pequenos adereços que surgem acima de nossas cabeças no próximo andar. A janela com vista para a praça é o menor interesse em um lugar onde o interior chama tanto a atenção. Sandra e Nivia fizeram do espaço de aproximados cinco por cinco, uma caixa de tonalidades e idéias.
Logo se vê duas pessoas afáveis e espontâneas. Nivia gesticula mais rápido enquanto Sandra transpassa uma calmaria não menos alegre. Nas paredes e estantes ficam expostos diferentes tipos de invenções que uma artesã arquiteta. Caixas em várias colorações, espelhos, portas-treco, moldes de desenho pendurados, quadros, porongos a serem esculpidos, móveis primorosos em miniatura, portas trabalhadas e etc. À mão, ao lado da mesa principal, aproximados sessenta potes de tintas. Uma televisão ligada que parece não interessar quem tanto cria. Já transformaram adornos de porco em vaca e vaca em porco. Da Alemanha utilizam o Bauer “com seus pingos brancos no desenho” como explicam. Porém, o interessante dos trabalhos é notar a assinatura: Sandra e Nivia. Tudo é feito como se a dupla fosse uma cabeça só.
As duas se criaram juntas por um parentesco entre os pais, cresceram e passaram a adolescência juntas, “freqüentando o Minuano, fazendo essas coisas que todo jovem faz”, salienta Sandra (à esquerda na foto acima). Acontece que o tempo, as novas famílias e as decorrências do dia a dia de cada uma as separaram. Foi um dia, sem saberem, que ambas se matricularam em um mesmo curso. Resumindo, estava refeita a parceria.
Como no mundo a melhor propaganda ainda é o boca a boca, o salão de beleza adjacente, no andar de baixo, funciona como outdoor das duas. As mulheres entram para cortar o cabelo e saem, às vezes, de cabeça e compras feitas. Nivia brinca dizendo que o salão é uma parceria terceirizada.
No início encomendas, hoje aulas ministradas pela dupla. Alunos de todas as idades e interesses. É uma terapia, tanto que vários dos alunos chegam por recomendação médica. E, com certeza, os cursos não parecem ser metódicos: todo o dia um aparece com o bolo, há a hora do lanche onde todos metem a colher, dão conselho e conversam. A lei do atelier é não prender ninguém, liberar todo mundo a criar, as estandes recebem trabalhos de quem deseja. As duas indicam os alunos para outro atelier sempre que necessário, evitando a concorrência. Ninguém é propriedade de ninguém, salienta Sandra.
“Todo mundo tem uma coisa para ensinar” diz Nivia. “E pra aprender, também”, completa a contraparente amiga.
SANDRA, NIVIA E UMA JANELA PARA A PRAÇA, pelo viés de Bibiano Girard
bibianogirard@revistaovies.com
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Gostei bastante da matéria!
Promover os comerciantes/artesãos locais é uma ótima idéia, muito válida.
Sucesso ao site!
Um jeito criativo e inspirado de contar uma história interessante.
Quero mais dessas matérias!
Sucesso ao site! [2]
Adorei a matéria e fiquei viajando na descrição das caixas, quadros, miniaturas…admiro muito quem tem esses dons artísticos, essa veia artesã! Sandra e Nivia não postam fotos do trabalho delas em nenhum veículo? Fiquei doida pra ver.
pessoal muito obrigada pelo comentario
estamos com fotos dos nossos trabalhos no orkut
adicionem a gente
nosso orkut é atelier maos criando
Trio talentoso! As artesãs e o futuro jornalista!
Adorei, Bibiano, a matéria. Está, além de todos os atributos, muito bem escrita. Parabéns e que continuem com o pique.
Bibiano!
Parabéns. Fico feliz em constatar que o estilo jornalismo literário não ficou para atrás, na disciplina.
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Abraço grande
Simplismente maravilhoso!
Sucesso aos 3!
Muito bom.
O atelier está descrito de um método que parece que estamos nele.
Parabéns as artesãs e ao futuro jornalista!!