Com cavacos do ofício
Faço fogo na fogueira
Com a água do Guaíba
Faço chiar a chaleira
Tomo um gole do amargo da saudade
Erva buena da palmeira.
Vou repontando querências
Ajojadas com o rio grande
Com este pampa na garupa
Em qualquer lugar que eu ande
Com este pampa na garupa
Em qualquer lugar que eu ande.
Na minha mala de garupa
Não me falta quase nada
Cachaça de Santo Antônio
Numa guampa pendurada
Fumo bom de Sobradinho
E a palha de Encruzilhada.
Vou repontando querências
Ajojadas com o Rio Grande
Com este pampa na garupa
Em qualquer lugar que eu ande
Com este pampa na garupa
Em qualquer lugar que eu ande.
Preparo o meu carreteiro
Na minha moda campeira
Charque gordo de Bagé
E o arroz de Cachoeira
Temperado com a viola
E a cantiga missioneira.
Vou repontando querências
Ajojadas com o Rio Grande
Com este pampa na garupa
Em qualquer lugar que eu ande
Com este pampa na garupa
Em qualquer lugar que eu ande.
Meu pingo vem estropiado
Troteou a semana inteira
Vim pruma changa tratar
Cá prás bandas da fronteira
Vou desencilhar o pingo, hoje é domingo
Começo segunda feira.
Vou repontando querências
Ajojadas com o Rio Grande
Com este pampa na garupa
Em qualquer lugar que eu ande
Com este pampa na garupa
Em qualquer lugar que eu ande.
OUÇA A MÚSICA QUE ILUSTRA O INÍCIO DESTA AMOSTRA DE FOTOS.
Um dos problemas atuais nas festas e nas ruas da região durante a Semana Farroupilha é a inversão de valores e a ingenuidade de muitos sobre o lombo de seus cavalos. Muitos “gaúchos” sob o efeito de álcool percorrem as ruas e avenidas das cidades sobre seus cavalos ocasionando problemas de trânsito, perigo aos transeuntes e maus-tratos com os animais.
Durante esta semana também ocorre uma das tradições de maior relevância e valor histórico para a região, as Cavalgadas. Grupos de tradicionalistas juntam-se para buscar a Chama Crioula (o fogo) em localidades distantes. Depois, pelas estradas do estado, o fogo é levado à cidade de onde a cavalgada partiu. Lá, a Chama é amparada pelos diversos Centros de Tradições até o dia 20 de Setembro, quando se encerram as atividades.
Visitar a Campanha Gaúcha é visitar o passado a cada olhar. Enquanto o viajante vai aos poucos afastando-se das outras regiões do estado do Rio Grande do Sul, logo começa a notar uma leve mudança no relevo.
Das montanhas da Serra, região estrategicamente turística por se parecer “um pedaço da Europa”, ou do Planalto Médio e, em parte, das Missões, o viajante notará diferenças geográficas, econômicas, culturais e fisionômicas ao chegar ao pampa.
Atualmente, tanto a cultura gaúcha na forma de tradicionalismo quanto os espaços ambientais e os cultivos agropecuários estão hibridizados a outros. A instalação de vinícolas, pomares de laranja e de maçã tentam reconstruir o capital monetário e empregatício. Já a implantação de florestas artificiais para produção de celulose por monopólios estrangeiros vêm ocupando espaços colossais em um estado da federação com número proeminente de famílias Sem-Terra. Contudo, a região já tem como novos proprietários de terra (minifúndios) milhares de trabalhadores rurais que eram integrantes do MST, atrelados à agropecuária de subsistência, familiar ou de cooperativas. A instalação de assentamentos em uma região conhecida por seus latifúndios já é motivo de inúmeros estudos acadêmicos.
No entanto, a principal característica da Campanha, cotidianamente, não são os gaúchos “pilchados” caminhando pelas ruas, mas sim, a arquitetura genuína da região dos pampas. Percorrer os olhos pelas cidadezinhas constituídas de casarios à beira das calçadas é deparar-se com um mistura artística arquitetônica sem nome, mas com identidade própria.
O quesito financeiro diferenciou os casarões de dois andares e telhados altos, das pequenas casas de fachada lisa, às vezes sem eira nem beira, literalmente. Com edificações nos estilos eclético e renascentista, o cenário remete ao século XIX e primeira metade do século XX. Pequenas influências de “Art Nouveau”, manifestação artística do século XIX, desenharam arabescos nas fachadas.
Quando chegamos mais próximo das fronteiras do estado com o Uruguai e a Argentina, notamos a mescla de palavras em Língua Portuguesa com o Castelhano. Abaixo, fotografias feitas na área rural da cidade fronteiriça de Quaraí.
Meus desassossegos sentam na varanda,
pra matear saudades nesta solidão,
cada pôr-de-sol dói feito uma brasa,
queimando lembranças no meu coração.
Vem a noite aos poucos alumiar o rancho,
com estrelas frias, que se vão depois.
Nada é mais triste, neste mundo louco,
que matear com a ausência de quem já se foi.
Que desgosto o mate, cevado de mágoas,
pra quem não se basta, pra viver tão só.
A insônia no catre vara a madrugada,
neste fim de mundo que nem Deus tem dó.
Meus desassossegos sentam na varanda,
pra matear saudades nesta solidão,
cada pôr-de-sol dói feito uma brasa,
queimando lembranças no meu coração.
Então me pergunto neste desatino,
se este é meu destino ou Deus se enganou?
Todo desencanto para um só campeiro,
que de tanto amor se desconsolou.
OUÇA A MÚSICA “MEUS DESASSOSSEGOS”, DE JOÃO CHAGAS LEITE
COM ESTE PAMPA NA GARUPA, pelo viés de Bibiano Girard
bibianogirard@revistaovies.com
Além da beleza estética, estas imagens acabam gerando inúmeras reflexões sobre o processo de formação do nosso estado..que diga-se de passagem, tem uma História fascinante! parabéns