COM ESTE PAMPA NA GARUPA

Entre Rosário do Sul e Dom Pedrito. Fotografia: Bibiano Girard, junho de 2010.

Com cavacos do ofício
Faço fogo na fogueira
Com a água do Guaíba
Faço chiar a chaleira
Tomo um gole do amargo da saudade
Erva buena da palmeira.

Peça em Fazenda na divisa dos municípios de Rosário do Sul e Cacequi. O ambiente foi construído                      para guardar os doces de um casamento realizado em 1962. Ao fundo, uma tulha. Fotografia: Bibiano Girard, julho de 2009.
Peça em localidade rural na divisa dos municípios de Rosário do Sul e Cacequi. O ambiente foi construído para guardar os doces do casamento de Lino Deoil Santos da Silva com Alexandrina Santos da Silva, os quais são primos, realizado em 1962. Ao fundo, uma tulha. Fotografia: Bibiano Girard, julho de 2009.

Vou repontando querências
Ajojadas com o rio grande
Com este pampa na garupa
Em qualquer lugar que eu ande
Com este pampa na garupa
Em qualquer lugar que eu ande.

Cômoda em quarto de localidade rural. A religiosidade, assim como em todo país, é predominantemente católica, ainda que o Rio Grande do Sul seja o estado que mais concentra proporcionalmente o maior número de adeptos da umbanda e do candomblé no país segundo dados do Censo de 2000. Fotografia: Bibiano Girard, abril de 2011.

Na minha mala de garupa
Não me falta quase nada
Cachaça de Santo Antônio
Numa guampa pendurada
Fumo bom de Sobradinho
E a palha de Encruzilhada.

Rosário do Sul. Fotografia: Bibiano Girard, abril de 2011.

Vou repontando querências
Ajojadas com o Rio Grande
Com este pampa na garupa
Em qualquer lugar que eu ande
Com este pampa na garupa
Em qualquer lugar que eu ande.

Depois da Região Sul do estado, a Campanha é a região gaúcha com maior índice de pobreza proporcional. Herança dos anos de "Fazenda" versus "empregados pobres, negros, sem-terra. Gaúchos que sobraram durante a quebra da ideologia campeira latifundiária".

Preparo o meu carreteiro
Na minha moda campeira
Charque gordo de Bagé
E o arroz de Cachoeira
Temperado com a viola
E a cantiga missioneira.

Casarões semi-preservados.

Vou repontando querências
Ajojadas com o Rio Grande
Com este pampa na garupa
Em qualquer lugar que eu ande
Com este pampa na garupa
Em qualquer lugar que eu ande.

Casarões reformados e transformados em Patrimônio Público. Esta pertencente à Família Ortiz.

 

Meu pingo vem estropiado
Troteou a semana inteira
Vim pruma changa tratar
Cá prás bandas da fronteira
Vou desencilhar o pingo, hoje é domingo
Começo segunda feira.

É comum entre as sociedades culturais recreativas existentes, como os Centro de Tradições Gaúchas (CTGs) e os Piquetes de Tradições Gaúchas (instituições menores que aos CTGs com o mesmo propósito cultural) que haja, em suas "Patronagens" - estilo de gestão do Órgão - os "Encarregados da Fala". São os encarregados de, segundo o discurso, lembrar e eternizar a história de lutas e costumes da Cultura Gaúcha, assim como o Advogado Lino Deoil Santos da Silva, conhecido na cidade de Rosário do Sul por seu papel de difusor, através do discurso, sobre a cultura e o legado locais.

Vou repontando querências
Ajojadas com o Rio Grande
Com este pampa na garupa
Em qualquer lugar que eu ande
Com este pampa na garupa
Em qualquer lugar que eu ande.

OUÇA A MÚSICA QUE ILUSTRA O INÍCIO DESTA AMOSTRA DE FOTOS.

Desfile Farroupilha, evento anual realizado no dia 20 de Setembro em homenagem à Revolução Farroupilha, ocorrida no estado entre 1835 e 1845. Foto: Bibiano Girard
A semana entre os dias 13 e 20 de Setembro é nacionalmente conhecida como Semana Farroupilha. Nestes dias, a região se transforma em um grande salão de festas tradicionais, e caminhar pelas ruas pode parecer caminhar, em partes, nos séculos XVIII e XIX. Nesta imagem está a pira que ampara a Chama Crioula. Rosário do Sul. Foto: Bibiano Girard

 

Um dos problemas atuais nas festas e nas ruas da região durante a Semana Farroupilha é a inversão de valores e a ingenuidade de muitos sobre o lombo de seus cavalos. Muitos “gaúchos” sob o efeito de álcool percorrem as ruas e avenidas das cidades sobre seus cavalos ocasionando problemas de trânsito, perigo aos transeuntes e maus-tratos com os animais.

Durante esta semana também ocorre uma das tradições de maior relevância e valor histórico para a região, as Cavalgadas. Grupos de tradicionalistas juntam-se para buscar a Chama Crioula (o fogo) em localidades distantes. Depois, pelas estradas do estado, o fogo é levado à cidade de onde a cavalgada partiu. Lá, a Chama é amparada pelos diversos Centros de Tradições até o dia 20 de Setembro, quando se encerram as atividades.

Cavalgada. Foto: Bibiano Girard

 

Visitar a Campanha Gaúcha é visitar o passado a cada olhar. Enquanto o viajante vai aos poucos afastando-se das outras regiões do estado do Rio Grande do Sul, logo começa a notar uma leve mudança no relevo.

A coxilha ao fundo faz parte do município de Cacequi. A fotografia foi feita em terras rosarienses. Foto: Bibiano Girard

Das montanhas da Serra, região estrategicamente turística por se parecer “um pedaço da Europa”, ou do Planalto Médio e, em parte, das Missões, o viajante notará diferenças geográficas, econômicas, culturais e fisionômicas ao chegar ao pampa.

Atualmente, tanto a cultura gaúcha na forma de tradicionalismo quanto os espaços ambientais e os cultivos agropecuários estão hibridizados a outros. A instalação de vinícolas, pomares de laranja e de maçã tentam reconstruir o capital monetário e empregatício. Já a implantação de florestas artificiais para produção de celulose por monopólios estrangeiros vêm ocupando espaços colossais em um estado da federação com número  proeminente de famílias Sem-Terra. Contudo, a região já tem como novos proprietários de terra (minifúndios) milhares de trabalhadores rurais que eram integrantes do MST, atrelados à agropecuária de subsistência, familiar ou de cooperativas. A instalação de assentamentos em uma região conhecida por seus latifúndios já é motivo de inúmeros estudos acadêmicos.

Casarão na cidade de Rosário do Sul: Foto: Bibiano Girard, abril de 2011.

No entanto, a principal característica da Campanha, cotidianamente, não são os gaúchos “pilchados” caminhando pelas ruas, mas sim, a arquitetura genuína da região dos pampas. Percorrer os olhos pelas cidadezinhas constituídas de casarios à beira das calçadas é deparar-se com um mistura artística arquitetônica sem nome, mas com identidade própria.

A representação arquitetônica estancieira surge também entre as casas citadinas.

O quesito financeiro diferenciou os casarões de dois andares e telhados altos, das pequenas casas de fachada lisa, às vezes sem eira nem beira, literalmente. Com edificações nos estilos eclético e renascentista, o cenário remete ao século XIX e primeira metade do século XX. Pequenas influências de “Art Nouveau”, manifestação artística do século XIX, desenharam arabescos nas fachadas.

Fotografia: Bibiano Girard.

 

Casa da Família Osório de Lamare restaurada. Rosário do Sul. Foto: Bibiano Girard
Ainda é comum fachadas com o nome do antigo estabelecimento. Nesta imagem, o prédio da Casa Braga, onde agora funciona um bar. Foto: Bibiano Girard
Residência da Família Macedo. Rosário do Sul. Foto: Bibiano Girard

 

 

Quando chegamos mais próximo das fronteiras do estado com o Uruguai e a Argentina, notamos a mescla de palavras em Língua Portuguesa com o Castelhano. Abaixo, fotografias feitas na área rural da cidade fronteiriça de Quaraí.

 

Antigo meio de locomoção. Muitas casas ainda preservam suas charretes e "aranhas"(estilo de charrete). Foto: Bibiano Girard
É comum nos depararmos com as antigas divisórias de terrenos rurais à base de pedra. Foto: Bibiano Girard
A imensidão do pampa. Foto: Bibiano Girard
Em regiões mais secas é comum o florescimento da Tuna, nome popular dado a uma espécie de cactus. Foto: Bibiano Girard
Ovelhas sendo soltas no amanhecer. Foto: Bibiano Girard

 

Meus desassossegos sentam na varanda,
pra matear saudades nesta solidão,
cada pôr-de-sol dói feito uma brasa,
queimando lembranças no meu coração.

Vem a noite aos poucos alumiar o rancho,
com estrelas frias, que se vão depois.
Nada é mais triste, neste mundo louco,
que matear com a ausência de quem já se foi.

Que desgosto o mate, cevado de mágoas,
pra quem não se basta, pra viver tão só.
A insônia no catre vara a madrugada,
neste fim de mundo que nem Deus tem dó.

Meus desassossegos sentam na varanda,
pra matear saudades nesta solidão,
cada pôr-de-sol dói feito uma brasa,
queimando lembranças no meu coração.

Então me pergunto neste desatino,
se este é meu destino ou Deus se enganou?
Todo desencanto para um só campeiro,
que de tanto amor se desconsolou.

OUÇA A MÚSICA “MEUS DESASSOSSEGOS”, DE JOÃO CHAGAS LEITE


Pôr-do-Sol nos campos de Quaraí. Foto: Bibiano Girard

COM ESTE PAMPA NA GARUPA, pelo viés de Bibiano Girard

bibianogirard@revistaovies.com

 

Um comentário sobre “COM ESTE PAMPA NA GARUPA

  1. Além da beleza estética, estas imagens acabam gerando inúmeras reflexões sobre o processo de formação do nosso estado..que diga-se de passagem, tem uma História fascinante! parabéns

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