REITORIA DA UFSM: OCUPADA!

Foto de Ivon Fernandes

“Ô, Reitoria, eu vim cobrar: falta estrutura e professor para lecionar”. Mais de 300 estudantes se juntavam no saguão da Reitoria da Universidade Federal de Santa Maria na manhã de sexta-feira, dois de setembro, exibindo faixas e bradando palavras de ordem. A Reitoria permanecia ocupada pelos estudantes revoltados com o atual estado da Universidade.

 Era meio-dia do dia primeiro de setembro, início de mais uma “Semana da Pátria”, e os estudantes da Universidade se juntavam para uma Assembleia Geral às portas do Restaurante Universitário. Dezenas deles já vinham mobilizados em passeata pelo campus por melhorias no curso de Terapia Ocupacional, que completa dois anos de existência neste semestre. Em pouco tempo, eram os estudantes de Medicina que se juntavam à Assembleia. Cerca de 300 alunos de diversos cursos participaram na frente do RU, que tinha como pautas a Assistência Estudantil e a Greve dos servidores técnico-administrativos em educação, deflagrada há quase três meses, e as mobilizações para uma possível greve dos docentes – mobilizações essas que se encaminhavam a um ponto final com a negociação realizada junto ao Ministério da Educação.

Não demorou muito para que os estudantes, insatisfeitos com a estrutura da Universidade e com a Assistência Estudantil sob os cuidados da Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (PRAE), decidissem pela mudança de local da Assembleia. O saguão da Reitoria seria o local para o fim da conversa e a presença do reitor Felipe Müller era vista como fundamental para que os estudantes apresentassem suas reivindicações.

A situação de descaso vivida na Universidade não era nova, como afirmado por diversos estudantes de diferentes cursos, como Terapia Ocupacional e Medicina, os mais mobilizados naquele momento. O problema já havia sido apresentado por vários grupos em diversas instâncias sem que uma resposta satisfatória fosse dada. O diálogo diretamente com o reitor já parecia uma das poucas alternativas antes de ações mais concretas. O diálogo, porém, mostrou-se pouco efetivo. Diante de muitas reivindicações ainda pouco estruturadas, o reitor desviou-se de possíveis respostas. Felipe Müller assegurou, num primeiro contato, ser solidário às pautas, mas que não possuía as ferramentas necessárias para sua resolução ágil.  A ocupação da Reitoria mostrava-se, assim, a única forma de pressão ainda possível.

Foto de Liana Coll

CURSOS DIFERENTES, SITUAÇÕES SEMELHANTES

Acompanhando o plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), o curso de Terapia Ocupacional da UFSM foi proposto pelo Centro de Ciências da Saúde (CCS) para “contemplar uma demanda reprimida de jovens que buscam a formação nesta área”, como afirma o estatuto do curso. Assim como o CCS, vários outros centros buscaram abrir cursos dentro de sua estrutura com a finalidade de receber mais verbas governamentais. Contudo, o aumento no repasse de verbas não acompanhou os reais gastos na concepção e na implementação de cursos inteiramente novos.

A situação mostra-se complicada de todos os lados, como atestam os alunos do curso de Medicina, visto muitas vezes como o mais nobre entre todos os cursos e um dos mais antigos da instituição, mas que, mesmo assim, apresenta problemas estruturais graves. Os alunos expuseram a situação precária à qual são submetidos durante o atendimento dentro do Hospital Universitário: o professor “bate o ponto” e vai embora, deixando aos acadêmicos o atendimento clínico pelo qual eles ainda não têm capacidade e nem responsabilidade legal.

Foto de Ivon Fernandes

Vários foram os estudantes que se manifestaram ao microfone para lembrar a precarização que a Universidade vem sofrendo há tempos. Faltam professores, falta assistência estudantil e parece faltar seriedade no trabalho de muitos docentes e também da Reitoria. E, nesse contexto, o REUNI, como faceta mais evidente de uma Reforma Universitária proposta pelo governo, tornou essa precarização ainda mais evidente. As consequências da expansão foram sentidas aos poucos. Além de expansões externas à Universidade, como a superlotação dos ônibus do transporte público que fazem a linha Universidade, o cotidiano da instituição mudou para quem já era educando ou educador e mostrou-se complicada para quem chegava. O curso de Terapia Ocupacional, por exemplo, mesmo dois anos depois de entrar em vigor, ainda não tem salas de aula próprias, muito menos laboratórios.

O REUNI, que, em seu surgimento, era propagado como a garantia de melhorias excepcionais na estrutura do ensino superior do país, tempos depois é posto em xeque. Após tanta expectativa criada pelo projeto, a comunidade acadêmica brasileira percebeu que nem tudo saiu como planejado. Filas enormes, transporte público lotado, falta de infraestrutura mínima para o alargamento da educação de qualidade e salas de aula sem professores foi o legado do projeto. Criaram-se cursos novos sem salas de aula nem laboratórios, remanejaram-se docentes efetivos de cursos antigos para cursos novos e criou-se uma insegurança ainda maior para os servidores técnico-administrativos em Educação, que veem seus salários serem congelados pelo Congresso Nacional, o que culminou na greve que completou três meses nesta última semana.

Primeira noite de ocupação na reitoria. Foto: Tiago Miotto

DEPOIS DE RESPOSTA NEGATIVA DO REITOR, A OCUPAÇÃO SEGUE NO FINAL DE SEMANA

Depois de um primeiro dia de conversas iniciais com a Reitoria, os estudantes decidiram ocupar o prédio durante a noite. Aproximadamente 80 acadêmicos acomodaram-se como era possível nas dependências do prédio. Na manhã de sexta-feira, quase 24 horas depois da Assembleia que definia o início da Ocupação, o reitor foi novamente conversar com os manifestantes. Havia, porém, um número muito maior de pessoas, entre estudantes, servidores técnico-administrativos e docentes, somando mais de 400 pessoas. Em menos de uma hora, Felipe Müller, acompanhado do vice-reitor Dalvan Reinert, ouviu todas as reivindicações e marcou uma nova conversa para as três da tarde daquele mesmo dia. O tempo entre as duas reuniões serviria para o reitor estudar as possibilidades de atender cada ponto apresentado.

Porém, a reunião da tarde se mostrou infrutífera. O reitor igualmente afirmou estar aberto ao diálogo e solidário às causas, sem, no entanto, mostrar contra-propostas eficazes. A ocupação não parecia incomodá-lo, talvez crendo que o movimento se esgotaria ligeiramente.

Debates do final de semana - Foto de Ivon Fernandes

Mas os universitários seguiam mobilizados. E, com a aproximação do final de semana, a ocupação seguiu. Na verdade, o tempo assentado entre o fim do expediente de sexta-feira e o início de segunda, mostrou-se muito mais produtivo do que poderia se esperar de estudantes que, antes de quinta-feira, não haviam se movimentado excepcionalmente.

Grupos de Debate para cada bloco de propostas, divididos entre Biblioteca e Restaurante Universitário; bolsistas e bolsas estudantis; CESNORS, campi avançados em Palmeira das Missões e Frederico Westphalen; pautas da moradia nas Casas dos Estudantes e Pautas Gerais e Políticas foram sendo realizados, reformulando ou ratificando as pautas discutidas nas assembleias da ocupação.

***

Os estudantes reunidos já mostraram sua força permanecendo no prédio durante todo o final de semana e a mobilização só aumenta enquanto a Reitoria parece pouco disposta a negociar. Enquanto isso, o Dia da Independência se aproxima. Será dia de comemorações pela Independência do Brasil um dia marcado por manifestações na UFSM? Cabe ao reitor responder.

Foto de Liana Coll

REITORIA DA UFSM: OCUPADA!, pelo viés de Bibiano Girard e João Victor Moura
Fotos de Liana Coll, Felipe Severo e Ivon Fernandes

Um comentário sobre “REITORIA DA UFSM: OCUPADA!

  1. A mobilização pacífica é um caminho mesmo..não dá para só reclamar sem tomada de atitude! Dia 7 de setembro é de de vestir preto para dar um basta à corrupção neste país..se não houvessse tanto desvio de dinheiro público as Universidades Federais seriam melhor aparelhadas, com certeza! Que o movimento tenha Sucesso!

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