Esta reportagem foi inicialmente publicada na revista IstoÉ
Após dez anos, a ex-presa política Inês Etienne Romeu volta a Petrópolis e descobre a casa onde foi torturada e por onde passaram vários “desaparecidos”
A cena foi dramática. Em pé, no meio da rua, estavam Etienne Romeu e seus acompanhantes, dentro do Chevette cor de mel BW-1566 com um adesivo da Polícia federal preso no pára-brisa, trêmulo, visivelmente nervoso – ele chegou a bater o carro na garagem da própria residência -, Mário Lodders, o antigo proprietário da casa nº 668 da rua Arthur Barbosa, em Petrópolis.
Nessa casa, entre 8 de maio e 11 de agosto de 1971, Inês Etienne, militante da organização clandestina Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), acusada de participar do seqüestro do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, em 1970, presa pelo delegado Sérgio Fernando Paranhos Fleury na Avenida Santo Amaro, em São Paulo, em 1971, e condenada à prisão perpétua, depois reduzida para oito anos, que cumpriu integralmente, passou 96 dos piores dias de sua vida. Segundo seu relato, ela foi torturada, estuprada, submetida ao Pentotal Sódico, o chamado ”soro da verdade” e, depois de cada uma de suas duas tentativas de suicídio, medicada para recuperar as forças e ser de novo supliciada. Dez anos depois, graças ao telefone 40-90, número que ouviu em uma conversa de seus carcereiros e memorizou, Inês Etienne conseguiu localizar a casa de seus pesadelos.
Não havia ninguém no nº 668 da rua Arthur Barbosa quando os membros da caravana chegaram a Petrópolis, na manhã de terça-feira, dia 3. Mas no nº 120 da mesma rua, onde mora Mário Lodders, eles foram atendidos pelo caseiro Gervásio Araújo. Trabalhando há dez anos para Lodders, Gervásio não teve dúvidas em confirmar um relatório feito por Inês Etienne ainda em 1971: de fato, naquela época costumavam ficar na casa 668 dois homens conhecidos como “Pardal” – já identificado como Jais Fontes, soldado do 9º Batalhão da Polícia Militar, em Rocha Miranda, no Rio – e “Camarão, dois dos torturadores de Inês.
Exatos seis minutos depois de chamado por sua irmã Helena Júlia, assustada com a presença de tantas pessoas à sua porta, chegou Mário Lodders em seu Chevrolette cor de mel. Ele nem havia parado o carro quando Inês começou a falar: “O senhor está me reconhecendo? Estive em sua casa durante três meses em 1971, fiquei mantida em cárcere privado, fui submetida a torturas…”
Um homem de prestígio, Lodders tentou negar, mas, diante das evidências que Inês lhe apresentou – “O senhor me viu machucada, chegou a me dar uma barra de chocolate” – capitulou. Explicou que emprestou a casa, entre 1971 e 1978, ao ex-comandante da Panair e ex-interventor na prefeitura de Petrópolis, Fernando Aires da Mota, ligado, segundo Lodders, a um grupo paramilitar. “Ele é um prócer da revolução de 64, um homem de muito prestígio”, conta Lodders, “eu não tinha como negar”. Ele nega, porém, que tivesse conhecimento de que na sua casa se praticava torturas.
A descoberta parecer ter apenas aprofundado as divergências entre Lodders e Aires da Mota. Os dois, na verdade, já vinham se desentendendo desde 1978, quando Lodders se recusou a vender a casa que servia de centro clandestino de tortura ao antigo comandante da Panair. Por isso, Fernando Eduardo Aires da Mota, presidente da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil de Petrópolis, filho do ex-interventor, chegou a tentar matar o dono da casa. “Lodders está maluco”, defendeu-se Aires da Mota.
“Eu cumpria ordens”. O jogo de acusações e negativas que costuma acompanhar esse tipo de denúncias continuaria na quinta-feira, no Rio de Janeiro, quando médico e psicanalista Amilcar Lobo reconhecia ter estado em Petrópolis para prestar assistência médica aos presos. Ele se defendeu, dizendo que cumpria ordens do coronel Homem de Carvalho.
O coronel Homem de Carvalho, comandante da Polícia do Exército entre 1971 e 1972, e hoje na reserva e próspero empresário, proprietário de Homem de Carvalho Incorporações, também nega qualquer envolvimento. “Eu conheci o dr. Amílcar Lobo. Ele era tenente do Exército, mas nunca dei ordens para ele participar de coisas assim.”, defendeu-se o coronel. Inês Etienne já entrou na Justiça com ação contra Mário Lodders. São sés advogados o ex-ministro do Tribunal Federal de Recursos José Aguiar Dias e os deputados do PMDB Marcelo Cerqueira e Modesto da Silveira.
A casa da rua Arthur Barbosa, em Petrópolis, não foi o único “aparelho” – era assim, com o mesmo vocabulário de seus adversários de esquerda, que os órgãos de segurança se referiam a seus esconderijos – utilizado como centro clandestino de torturas. Além de suas instalações oficiais, havia um sítio em Sergipe, usado pelos órgãos de segurança de Salvador; um apartamento em Goiânia; uma casa no Recife; e dois sítios e uma casa em São Paulo.
Desses, o mais conhecido é a fazenda 31 de Março, em Parelheiros, São Paulo, usada pelo delegado Fleury e onde foi morto, entre outros, Joaquim Câmara Ferreira, o “Toledo”, na época o principal dirigente da Ação Libertadora Nacional (ALN). Mas havia, ainda em São Paulo, uma casa na Avenida 23 de Maio, utilizada esporadicamente para torturas, e um sítio na região de Atibaia, até hoje não localizado. Sobre esse segundo sítio sabe-se apenas que ficava próximo a um grande reservatório de água e que ali morreram vários prisioneiros cujos nomes hoje constam das listas de “desaparecidos”.
Frota contra o CODI-DOI. O mais importante, todavia, foi o “aparelho” de Petrópolis, agora descoberto por Inês Etienne Romeu. Sua localização poderá esclarecer não apenas divwersos “desaparecimentos” quanto o episódio da luta travada em surdina pelo general Sylvio Frota, então comandante do I Exército, e o CODI-DOI do Rio de Janeiro.
Apensar de profundamente anticomunista e de ser considerado um dos oficiais mais “duros” do exército, o general Sylvio Frota nunca tolerou o uso de torturas contra prisioneiros políticos. Por isso suas relações com os homens do CODI-DOI do Rio de Janeiro nunca foram muito cordiais. Elas se deterioraram ainda mais, entretanto, com a prisão por agentes do CODI-DOI de um parente de um dos oficiais de seu gabinete.
O oficial queixou-se ao comandante do I Exército de que seu parente estava torturado, e Frota ligou para então coronel Fiúza de Castro. Após esse telefonema, ele mandou que o oficial fosse pessoalmente verificar o tratamento que seu parente estava recebendo na prisão.
Ao chegar à porta do quartel da PE, na rua Barão de Mesquita, porém, o oficial teve sua entrada impedida.
O “Codão” de Petrópolis. Ao sabe disso, o general Sylvio Frota telefonou para o general Hugo Abreu, na época comandante da Brigada de Pára-quedistas, e ordenou que colocasse sua tropa de prontidão. Em seguida, ligou para o comandante do CODI-DOI para informá-lo de que seu oficial iria novamente visitar o parente. “Eu quero avisá-lo, comandante”, explicou Frota, “de que se ele não entrar, eu vou pessoalmente prender ao senhor e a sua guarnição.”
Desta vez o oficial conseguiu entrar, mas, aborrecidos com a atitude do comandante do I Exército, os homens do DOI-CODI carioca, para impedir novas interferências do comandante do I Exército, montaram o “aparelho” de Petropolis. A casa da rua Athur Barbosa, nº 668, passou a ser conhecida entre agentes dos órgãos de segurança e prisioneiros políticos como “Codão”, e ali foram torturados – e desapareceram – prisioneiros não apenas do Rio de janeiro mas também de Belo Horizonte, Goiás, Espírito Santo e até do Rio Grande do Sul, do nordeste e de São Paulo.
Ainda na quinta-feira, dia 5, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Eduardo Seabra Fagundes, encaminhou ao Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) o requerimento de parentes de cinco desaparecidos que sofrerão maus tratos do “Codão”, em Petrópolis. E a Comissão de Direitos Humanos da PAB, por outro lado, decidiu ouvir todos os antigos presos políticos que, em alguma época, foram tratados pelo médico Amílcar Lobo.
O CORDEIRO ERA O DOUTOR LOBO
Identificado por Inês, o psicanalista Amílcar Lobo admitiu: foi convocado pelo Exécito para atender os presos políticos que sofriam torturas.
Quase dez anos depois de sua passagem pela casa da rua Arthur Barbosa, em Petrópolis, Inês Etienne Romeu e o medico e psicanalista Amílcar Lobo – que lá atendia pelo codinome de carneiro – voltaram a se encontrar, quinta-feira passada. Do tenso reencontro participara, também, o deputado Modesto da Silveira (PMDB-RJ) e a repórter Lúcia Romeu, da ISTOÉ, Abaixo, seu diálogo:
Inês. Dr. Lobo, eu acho que conheço o senhor. Meu nome é Inês Etienne Romeu e eu estive com um médico chamado Dr. Lobo na casa de Petrópolis. Outros presos políticos também o conheceram na PE da Barão de Mesquita.
Modesto. O senhor esteve naquela casa em Petrópolis, não é verdade?
Lobo. Eu fui convocado. Eu não fiz o serviço militar e, após terminar o curso de Medicina, fui convocado pelo Exército. O que se está levantando é um assunto muito sério: que eu teria participado da tortura. Minha função lá foi exclusivamente de atendimento médico.
Modesto. Isto Inês confirma.
Inês. O senhor tratou da minha perna (mostra a perna) que estava com uma parte de carne apodrecida. O senhor conseguiu cortar a carne.
Lobo. Não tenho lembrança, não. Eu me recordo de ter tratado de uma pessoa…
Inês. De uma moça machucada. Eu tive um desastre, um atropelamento, estava fisicamente arrasada. Eu tive uma tentativa de suicídio, então o Dr. Bruno, o Dr. Teixeira…
Lobo. Lembro-me de uma tela para uma plástica que arranjei para recuperação do tecido de sua perna.
Inês. O senhor disse que eu deveria ser transportada para um hospital. Esse é o meu depoimento real, eu sou uma pessoa com muita responsabilidade e não vou inventar nada sobre ninguém. Eu tive vários atendimentos pelo senhor.
Lobo. É muito importante dizer que uma coisa que não fiz foi ter torturado.
Inês. Eu não disse isso, em nenhum momento.
Lobo. Ajudei muita gente…
Modesto. Naquela casa, não?
Lobo. Naquela casa, não. Lá só estive com ela. Ajudei muita gente, posso chamar várias pessoas. Eu nem sei onde é esta casa, eu era levado lá encapuzado. A confiança que tinham em mim era tão pouca… Lembro-me de que a gente subia uma ladeira e era uma casa no final de uma rua.
Modesto. É isso mesmo.
Lobo. Se eu tiver que ir lá, eu não sei.
Modesto. Quais eram as pessoas que estavam lá, com as quais o senhor entrou em entendimento?
Lobo. Eu recebia ordens do Comando do I Exército, recebi ordens do comandante da época.
Modesto. Quem era o comandante na época?
Lobo. Coronel Homem de Carvalho ou Nei Antunes, não me lembro bem.
Modesto. O senhor chegou a ficar lá quanto tempo?
Lobo. 1970, 1971. Seis meses no Forte Copacabana, em 1970, e depois fui para o I Batalhão da Polícia do Exército, onde fiquei até o final de 1971.
Modesto. A ordem que o senhor recebia era escrita ou verbal?
Lobo. Verbal.
Modesto. Era diretamente do comando?
Lobo. Era.
Lúcia. O senhor sabia que estava em Petrópolis?
Lobo. Sabia. O capuz foi colocado lá.
Inês. Além do atendimento da perna, do ventre, da bacia, desses pontos aqui na minha mão e também um exame de pulmão, houve um dia em que o Dr. Pep…
Lobo. Lá, a única coisa que me disseram foi que esses seus ferimentos foram porque você foi atropelada por um ônibus.
Inês. Isto é verdade.
Lobo. Disseram-me que ela foi presa e se jogou debaixo de um ônibus.
Inês. Um dia o Dr. Pep e o dr. Teixeira – eu os conheci com esses codinomes – o levaram lá e o senhor me aplicou algumas injeções, que eles me disseram ser Pentotal. Eles iam fazer um interrogatório.
Lobo. Não é verdade.
Inês. É verdade. O senhor pode não se lembrar, mas é verdade. O dr. Lobo nunca conversou comigo. Ele só se dirigia ao Dr. Pep, ao dr. Teixeira ou ao dr. Bruno.
Lobo. Eu não sei quem eram.
Modesto. O senhor poderia descrever o tipo físico de cada um deles, por exemplo?
Lobo. Um deles era alto, magro, branco, cerca de quarenta anos.
Inês. Tinha um gordo que no dia em que o Dr. Lobo me fez uma transfusão de sangue…
Lobo. Eu não fiz essa transfusão.
Inês. Foi aplicado no dia em que eu cortei os pulsos, eu perdi muito sangue. Então de madrugada…
Lobo. Eu não fiz isso. Me lembro de ter tratado de sua sutura…
Inês. Eu fui tratada pelo mesmo médico. O senhor era chamado de dr. Carneiro. O seu nome de guerra lá era dr. Carneiro.
Lobo. Eu não sei disso.
Inês. Chamavam o senhor de dr. Carneiro na minha frente. Se o senhor não se lembra, eu me lembro.
Lobo. Minha posição é uma posição de esquerda, podiam até me chamar de dr. Satanás… Eu não me lembro de ter feito essa transfusão de sangue. Só atendi ao ferimento.
Lúcia. O senhor sabia que lá era uma casa onde se torturavam pessoas, onde sumiam presos?
(Lobo balança a cabeça, e diz que sim)
Modesto. O senhor chegou a registrar esse fato em algum dossiê, em alguma ficha, algum diagnóstico?
Lobo. Não.
Modesto. O senhor comunicou esses fatos às autoridades médicas ou ao exército?
Lobo. Eram autoridades do exército que me mandaram lá.
Modesto. Então o senhor não comunicou a ninguém?
Lobo. Não.
Modesto. O senhor já descreveu uma pessoa. E as outras?
Lobo. Um tinha estatura mediana, era forte, moreno claro. É difícil lembrar porque se passaram muitos anos.
Modesto. Tem dez anos, mas como era um fato muito inusitado, naturalmente o senhor marcou…
Lobo. Eu chegava lá em estado quase de transe, quase de automatismo.
Modesto. O senhor ficava muito tempo lá, só no dia das operações que o senhor fez em Inês… Foi uma coisa muito longa.
Lobo. Duas horas, no máximo. Fiquei o tempo todo dentro do quarto.
Inês. O tratamento desse ferimento foi uma única vez, O senhor fez a raspagem, mas o senhor foi lá outras vezes.
Lobo. O tratamento desse ferimento tenho registro na minha memória…
Inês. Mas eu estive com o senhor em três cômodos diferentes da casa. Uma vez foi na despensa, outra no corredor e uma terceira vez o senhor auscultou meu pulmão num quarto.
Lúcia. Gostaria que Inês rememorasse a cena em que o dr. Lobo lhe aplicou o Pentotal já que ele não se lembra.
Lobo. Não é que eu não me lembre, eu nego isso.
Lúcia. O senhor nega, mas eu quero que Inês reproduza na sua frente tudo o que aconteceu.
Lobo. Posso ter aplicado nela um soro. Glicose. Nunca Pentotal.
Inês. O dr. Lobo não participou do interrogatório. Quem fez perguntas foi o dr. Pep e o dr. Teixeira.
Lobo. Pode ter sido aproveitado esse instante para você se iludir que estava sendo aplicado em você o Pentotal. Nesse sentido, eu admito.
Lúcia. E a agulha na veia?
Lobo. Posso ter aplicado uma glicose, uma coisa assim.
Inês. Foram várias aplicações.
Lobo. Posso ter aplicado medicamento.
Modesto. Esse ferimento da perna (aponta lugar da cicatriz) precisava de um inxerto porque ficou faltando bastante carne. Eles não permitiriam fazer um inxerto na época?
Lobo. E sugeri isso.
Lúcia. Dr. Lobo, o senhor se recusou alguma vez em fazer esse tipo de atendimento?
Lobo. Você está louca?
Lúcia. O senhor tinha medo, então?
Lobo. Três vezes tentei me desligar do exército, numa das vezes me responderam que o requerimento tinha ido para na 6ª seção e o exercito só tem cinco seções.
Lúcia. Isso quer dizer que o pedido não foi considerado.
Lobo. É.
Modesto. O senhor não se lembra do nome das pessoas da casa, nem mesmo do tipo; foi muito vaga a descrição que o senhor fez. Mas aqueles que levaram você de automóvel até Petrópolis, quem eram?
Lobo. Um era baixo, forte, tinha uma fala nordestina, era um tipo meio estranho, acho que por causa da coloração da pele, avermelhada. Tinha cerca de trinta anos, e ia dirigindo o carro.
Modesto. E o nome dele.
Lobo. Não sei.
Lúcia. E as conversas deles no carro durante o trajeto?
Lobo. Eram pessoas rudimentares, de nível primário, no máximo ginasial.
Lúcia. Quantos havia no carro.
Lobo. Dois. Eu fui recostado no banco fumando. Não participei da conversa.
Modesto. E o outro?
Lobo. Era amulatado e mais forte que o que ia no banco da frente. Este estava atrás comigo. Tinha também perto de trinta anos.
Modesto. Como é que os senhores se tratavam na viagem?
Lobo. A única coisa que me lembro é que, chegando em Petrópolis, eles me disseram que estavam cumprindo ordens e me encapuzaram. Quando chegamos em frente a casa eles tiraram o capuz.
Modesto. Então o senhor viu a casa pelo lado de fora também?
Lobo. Lembro de que tem uma varanda na frente, a sala tinha uma lareira.
Modesto. Por uma foto o senhor reconheceria.
Lobo. Sim. Lembro de que entrei no quarto menor que aquele em que você estava (dirigindo-se a Inês). Ficava a direita…Da outra vez que estive com você eu entrei no corredor a esquerda, no quarto a esquerda.
Inês. Exato. A direita tinha uma copa pequena, um banheiro e logo a seguir uma despensa. Onde havia uma cama de campanha.
Modesto. O senhor nos esclareceu que recebia ordens do comandante do I Exército, do comandante Nei Antunes ou do comandante Homem de Carvalho?
Lobo. Tenho a impressão de que foi o Homem de Carvalho.
Modesto. O senhor estava subordinado a quem na época?
Lobo. Diretoria de saúde.
Modesto. Mas subordinado a quem?
Lobo. Nunca tive contato com médico nenhum.
Modesto. Então o senhor ficava lá só servindo, cumprindo ordens do 1º Batalhão de Policia do Exército?
Lobo. É.
Modesto. Durante os dois anos que o senhor esteve lá atendeu quantas pessoas no exército? Centenas?
Lobo. Centenas, não. Eramos três médicos. Havia o médico do presídio…
Modesto. Presídio do 1º Batalhão?
Lobo. O presídio lá não era do batalhão, era do CODI-DOI. O Batalhão apenas emprestava as dependências. Eu era médico do Batalhão.
Modesto. E esse médico do presídio, quem era?
Lobo. Não sei, ele tinha codinome.
Modesto. Mas era um colega seu…Como é que o senhor sabia que era codinome?
Lobo. Eu supunha.
Modesto. Qual o nome que o senhor dava lá?
Lobo. Eu nunca escondi meu nome.
Modesto. E o terceiro médico?
Lobo. Dr. Ricardo Agnesi Fayad. Nós dois, na ausência do médico que usava codinome, atendíamos casos como o dela. Os responsáveis pela tortura que encontrei foram punidos.
Modesto. O senhor nos deu explicações…
Lobo. Esse é o tipo de ajuda que eu posso dar…Eu ainda sou oficial da reserva.
Modesto. O senhor é R-1?
Lobo. R-2.