Cinema adolescente, cinema adolescente triste, cinema adolescente em crise. Para qual tipo de público Esmir Filho filmou “Os famosos e os duendes da morte”? Talvez para qualquer espectador.
Com o cuidado de gravar cenas arrepiantes e belíssimas, vide a imagem que ilustra essa resenha, quando os personagens de Henrique Larré e Samuel Reginatto fumam sobre os trilhos e as luzes desfocadas das casas desenham como fundo grandes círculos cheios de luz, o diretor iniciante em longas conseguiu fazer um filme que vale ir ao cinema.
O público mais velho (consideremos essa vida rápida), de passados vinte anos, encara o filme de uma maneira diferente do jovem usuário das tantas redes sociais, câmeras fotográficas, celulares, computadores, fios, pixels…Quase tudo em “os famosos” é digitalizado. As vidas se cruzam por conta dos computadores. Mesmo numa cidadezinha singela no interior do Rio Grande do Sul. Algumas cenas como a leitura de um de seus textos publicados em seu blog e as trocas de conversa no messenger parecem exagerar um pouco na tentativa de construir um filme poético. Só as imagens e o silêncio que músicas de Bob Dylan parecem dar ao filme já bastam. Para uns, as cenas virtuais são a identificação com o público. Para outros, a neblina e a ponte sozinhas são um completo verso.
Uma mãe viúva que trata a cadela como filha, um amigo menos trágico que só quer viver, o motorista misteriosos do fusca, uma cidade considerada o “cu do mundo” e uma menina impalpável. A adolescência para um novo adolescente.
É bom ver um filme que vai um pouco mais a fundo no assunto, passando dos recreios nas escolas do Rio de Janeiro, ultrapassando os verões no litoral, permeando a adolescência atual (difícil de representar) e usurpando de dramas maiores para constituir um cenário todo melancólico, meio bucólico, meio Bob Dylan.
Filme: Os famosos e os duendes da morte Ano de estreia: o mesmo de “O homem que engarrafava nuvens” Direção: o mesmo de “Tapa na Pantera” Roteiro: Esmir Filho e Ismael Caneppele (o homem do Fusca), baseado no livro de Ismael Caneppele
OS FAMOSOS E OS DUENDES DA MORTE, pelo viés de Bibiano Girard
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