Após as 3 horas da madrugada da quinta-feira, dia 28 de abril , a Chapa “Em frente”, a qual participava das eleições do DCE como situação, já que doze de seus integrantes são integrantes da gestão “Avante”, deu o grito conjunto de vitória. Com 2422 votos, a “Em frente” venceu as outras duas chapas participantes – “Inova” e “Amanhã vai ser outro dia”- e seguira à frente do Diretório Central dos Estudantes pelo terceiro ano consecutivo na situação. Desde a “Viração”, passando pela “Avante”, chapa em voga até segunda-feira próxima, 2 de maio, o grupo que venceu segue uma linha e uma proposta de políticas de luta estudantil da qual há três gestões se perpetua.
Mesmo sendo situação, a gestão “Em frente” assegura novas lutas, pautas originais a serem debatidas entre os estudantes e um novo planejamento de ações para tentar resolver, ou amenizar, problemas ainda não resolvidos na Universidade Federal de Santa Maria e que o Diretório tenha força de intervir.
“Ainda temos a situação da questão estrutural da União Universitária, que hoje conta com 200 estudantes divididos em três quartos, e para esses 200 estudantes existem apenas dois banheiros”, afirmava a estudante Márcia Cristiane Rambo enquanto os votos ainda eram calculados. Márcia fará parte da Coordenação Geral da nova gestão.
José Luiz Zasso, estudante de Jornalismo da UFSM e integrante da área de Coordenação de Comunicação na nova gestão, expõem que o pensamento da chapa é que muitas vitórias foram conquistadas durante as últimas gestões, mas que a “Em frente” sabe, e vai buscar ir atrás, dos problemas persistentes nas várias instâncias que permeiam a vida dos alunos, como o aumento da tarifa dos transportes e a situação dos campi de Frederico Westphalen, Silveira Martins e Palmeira das Missões: “a própria idéia de ‘Em frente’ já sinaliza o que queremos. Que é avançar no que conquistamos, pois uma gestão nem sempre consegue fazer tudo o que se quer, mas com o tempo, podemos consolidar as conquistas. Essa eleição de hoje, com quase cinco mil alunos votando, já mostra que o Diretório Central dos Estudantes tem se consolidado. O DCE tem ampliado a participação dos estudantes. Há muito o que se fazer. Temos que continuar com os movimentos que foram acertados”.
Como integrante da nova gestão, Márcia Cristiane Rambo comenta que será primada a participação do estudante no movimento estudantil, e que esta pauta é uma das que devem receber maior atenção para que seja estendida a luta, e o número de pessoas durante as lutas.”Diálogo com estudantes, participação, construção coletiva. Conhecer realmente as pautas dos estudantes para estar lutando pelas questões que os alunos tomam como mais importantes”.
A Eleição para a nova gestão, que deveria ter acontecido no final do ano de 2010, fora adiada em função da luta dos estudantes na mesma época contra o aumento no preço das tarifas do transporte urbano de Santa Maria. Naquela ocasião, grupos militantes estudantis, juntamente ao Diretório Central dos Estudantes e centenas de acadêmicos desfavoráveis ao aumento fizeram protestos durante mais de uma semana em múltiplos ambientes da cidade. Em um dos atos, os estudantes conseguiram entrar na reunião do Conselho Municipal de Transportes (CMT), que seria a portas fechadas, e adiá-la para outro horário, conseguindo então aproximadas quatro horas para mostrar nas ruas, através de passeata e trancamento de vias importantes da cidade, maior visibilidade à luta acadêmica contra o aumento da passagem, já que o tema estava em trâmite há dias, mas a prefeitura e o CMT mantinham-se em silêncio.
“Esta eleição foi muito pautada pela questão do Transporte Público, um problema local de Santa Maria, que é importante, mas não é a única. Mais importante será a luta por uma educação de qualidade, onde todos os estudantes tenham acesso, independente de classe, independente de cor, independente do que for. Lutaremos para que todos tenham acesso à educação pública e de qualidade, mas que além do acesso, a gente consiga dar condições de permanência do estudante na universidade. E também questionar o estudante qual o papel da universidade cumpre hoje e qual retorno que a Universidade está dando para a sociedade”, diz Márcia. (CLIQUE AQUI E LEIA “A UFSM E AS PARCERIAS PÚBLICO PRIVADAS)
Após dias e noites de protestos em frente à Prefeitura, quando o prefeito optou em manter-se longe dos estudantes, assistindo o ato do 5º andar do edifício (enquanto alguns assessores apelavam articulando a ausência de Schirmer na cidade), o próprio Cézar Schirmer marcou e outorgou uma Audiência Pública na Câmara dos Vereadores a fim de elucidar o porquê do acréscimo no valor da passagem e o assentimento das planilhas proporcionadas pela Associação de Transportes Públicos (ATU), maior interessada no aumento. O prefeito marcou, mas não foi. Hoje tramita no Ministério Público uma ação de improbidade administrativa contra Cézar Schirmer (LEIA MAIS CLICANDO AQUI).
Em entrevista no dia 16 de abril de 2011, o estudante de enfermagem Leonardo da Silva Soares, integrante da nova gestão do DCE, afirmou que “quem realmente faz parte do movimento estudantil estava presente, e nós percebemos que naquela situação, com os alunos nas ruas, conseguiríamos fazer uma eleição apenas em época de exames, o que dificultaria muito a campanha. Isso enfraqueceria muito a entidade DCE. E só quem reclamou da eleição ter sido adiada foi quem não faz parte do movimento estudantil, que não estava fazendo parte das lutas do transporte. No conselho de Diretórios Acadêmicos foi unânime a escolha pelo adiamento das eleições”.
“Qual a sociedade e qual a Universidade que estamos construindo hoje?” é uma questão que a própria gestão “Em frente” se faz. A chapa enfatiza que buscará o debate com o estudante, com a sociedade e com a Reitoria sobre o tripé Ensino, Pesquisa e Extensão por entender que a área da “Extensão”, atualmente, esteja muito fraca.
José Antônio Louzada, que também fará parte da nova Coordenação Geral, expôs que “ampliar a questão da cultura e do lazer, pautando novos espaços de cultura e lazer, envolvendo todos os estudantes da UFSM e a comunidade de Santa Maria é muito importante. Levar os estudantes às periferias de Santa Maria, para que consigam vivenciar a realidade da periferia de Santa Maria deve ser estudado. A maioria dos estudantes não conhece a cidade de Santa Maria, restringindo-se ao campus, ao centro da cidade e às suas residências. Deve-se ampliar as trocas de experiências entre os estudantes e a comunidade de Santa Maria, entre os trabalhadores da periferia, trazendo os filhos dos trabalhadores pra universidade para que as classes menos privilegiadas possam disponibilizar o ingresso de seus filhos na universidade”.
Contudo, a Expansão esbarra na burocracia da Instituição. Márcia amplia a discussão sobre o tema afirmando que é visível que os grupos de Extensão são em muito menor quantidade e recebem menos recursos que os projetos de pesquisa. Devido à política de transporte público da nossa cidade, que subsidia estudantes assistenciados com apenas vinte e cinco passagens priva a troca e o direito de ir e vir. Os estudantes não são estudante apenas quando estão dentro da universidade, mais sim em tempo integral. “Por isso a idéia de acabar com esse limite de passagens para morador da casa, para qualquer outro estudante em geral, para que a gente também possa participar dos outros espaços da cidade, para que a gente possa estar realizando projetos de extensão em outros bairros, que a gente possa estar participando de outros espaços de Santa Maria”.
E como a nova gestão conseguirá angariar mais estudantes para as próprias decisões que devem ser tomadas em conjunto, a partir de Assembleias Gerais?
Márcia Rambo: Atualmente contamos com uma rede muito forte de instrumentos de comunicação como blogues e o Twitter, e mais uma série de mecanismos na Internet para isso. Mas o ideal é diferente: buscaremos a conversa direta com os estudantes a partir dos Diretórios Acadêmicos (D.A.s), reuniões periódicas, passar de aula em aula para conversar com os estudantes, porque apenas chegando aos D.A.s não se atinge a todos os estudantes. Passar em sala de aula é primordial.
E sobre como se dará o formato de prestação de contas?
José Luis Zasso: Sobre isso, estamos muito tranquilos. A gestão “Viração” prestou contas, a gestão “Avante”, enquanto esteve à frente do DCE também. Obviamente defendemos a prestação de contas e temos um planejamento diferente das gestões passadas, que prestavam contas sempre ao final das gestões. Nós temos uma política para o futuro de diminuir o espaço entre uma prestação de contas e outra. Pensamos até em contratar alguém de fora para trabalhar sobre isso, pois é uma questão de transparência. Neste caso vale ressaltar o que ocorreu com a gestão “Novo Rumo”, que esteve a frente do DCE durante 2007 e 2008, representada nestas eleições pela chapa Inova, que até hoje não prestou contas. Até hoje não se sabe quanto de valor a boate movimentou e onde foi investido. Pairam, até hoje, dúvidas sobre as contas da gestão “Novo Rumo”.
Pensamos que a prestação de contas deve ser, no mínimo, semestrais, até para não sobrecarregar, ao final da gestão, quem estará a frente da Coordenação de Finanças (Diego Adolfo Pitirini – Agronomia, Vinicios Lazzaretti – Engenharia Florestal [Frederico Westphalen], Laura Fisner Bueno – Ciências Econômicas [Palmeira das Missões] e Ana Paula Gheller – Ciências Econômicas [Palmeira das Missões]). Por uma questão de organização, não é interessante prestar contas só ao final da gestão. Percebemos isso com as gestões passadas e agora estamos melhor preparados para tal.
Quais foram e de onde vieram os subsídios para a campanha da chapa em relação à material gráfico e afins?
Márcia Rambo: Em relação à campanha, passamos o “Livro-Ouro” entre os professores solicitando ajuda financeira e muitos professores colaboraram, já que temos muitos apoiadores. Existe também os que não se declararam formalmente como apoiadores mas que contribuiram financeiramente. Fizemos também uma rifa onde cada integrante da chapa chegou a vender de dois a três blocos de números, a camiseta teve o custo baixo de R$12,00 e foi vendida a todos os integrantes e apoiadores. Ninguém ganhou camiseta, todas foram vendidas.
Durante a gestão passada, da qual 12 integrantes da “Em frente” eram integrantes, como eram subsidiadas as campanhas, os protestos e outras atividades realizadas pelo DCE?
José Luis Zasso: O que mantém o DCE são duas fontes de recursos: a boate, que às vezes até movimenta certa quantia, mas como não é cobrada a entrada, e o lucro sobre o preço da cerveja é muito baixo (a cerveja mais barata custa R$2,75), até porque essa é a proposta da boate, um espaço barato de integração, gera um lucro um pouco baixo, mas que mesmo assim é a principal fonte de recursos da gestão. Lembrando que o aparelhamento de som é alugado, o sistema de segurança é terceirizado, alguns shows de bandas acontecem e pagamos pelo show, o lucro geral relativamente é muito abatido, um lucro não muito considerável.
Nossa outra fonte é o convênio das carteirinhas de estudante. O DCE recebe dinheiro para a confecção das carteirinhas (R$5,00 para não carentes e R$3,00 para carentes). O interessante da carteira estudantil feita pelo DCE é que a gestão busca colaboradores, como estabelecimentos comerciais que dão desconto a quem tem a carteira. Nós queremos ampliar tais convênios e sabemos que há uma abertura boa na cidade para este aumento de conveniados com o DCE. É assim que funciona: se vem um bom recurso na confecção do documento estudantil, é possível segurar o lucro da boate para novas ações.
Márcia Rambo: Hoje nossos principais convênios chegam a possibilitar 50% de desconto em consultas com oftalmologistas, alguns ginecologistas, cursos de idiomas.
Uma das propostas da chapa “Em frente” é promover a cultura dentro e fora da Universidade. Como está planejada esta proposta. Em que formato se dará esse aumento de espaços e eventos culturais?
José Luis Zasso: A gente já tem feito um pouco mais por espaços de cultura. A boate, por exemplo, com dias especiais além da habitual sexta-feira, trazendo o Samba e outros estilos de músicas. Contudo, este espaço que o DCE tem, do auditório e da boate, pode servir durante a semana para ciclos de cinema, sarais literários (como o promovido pelo curso de Publicidade e Propaganda em 2010), amostras diversas etc.
Em relação ao espaço dentro do campus da Universidade, nossa luta é para a abertura do Centro de Eventos, principalmente para que os cursos do Centro de Ciências Rurais possam promover suas festas como integração. Há também a pauta importante de se construir uma Concha Acústica, que existe em algumas universidades do país e que a UFSM ainda não tem. Seria um local próprio para apresentações artísticas, debates, shows e muito mais. Um exemplo é a produção extraordinária do Centro de Artes e Letras (CAL) que muitas vezes fica restrita ao espaço do CAL. Acabamos, nós, toda a comunidade acadêmica, não tendo acesso a muito do que é produzido dentro da Universidade.
Márcia Rambo: Em questão estrutural, pensamos na Concha Acústica próxima à ponte da Universidade, por ser um espaço próximo ao CAL, à Casa do Estudante, a qual hoje não tem nenhuma estrutura para realizar eventos culturais, para recreação e encontro. A concha também estaria no caminho dos estudantes pois estaria próxima ao Restaurante Universitário I, o qual muita gente tem acesso.
José Luis Zasso: O DCE tem um evento histórico, criado na década de 1980, que é o “Festival Nossas Expressões”, que é trazer a arte estabelecida na Casa de Cultura de Santa Maria, no Theatro Treze de Maio, e disponibilizar na Universidade para que os alunos possam conhecer tais projetos culturais juntamente àqueles produzidos na Universidade. O “Nossas Expressões” cumpre uma parte desse anseio por cultura. Nós temos que ajudar a divulgar os eventos. Há a Semana da Consciência Negra, o Guerrilha da Paz, o Museu Treze de Maio e outros espaços de cultura que tentaremos divulgar e estar junto, até porque nossa proposta maior é o diálogo, e a partir dele, criar essa rede de cultura.
A nova gestão seguirá a política de “estudante na rua protestando” como aconteceu em alguns casos durante as últimas duas gestões?
José Luis Zasso: Com certeza. É um mecanismo de pressão quando o diálogo está fechado. Antes sempre tentamos o diálogo. No caso dos Transportes Públicos, tivemos algumas reuniões com a prefeitura, reunião com o Ministério Público, onde entramos com uma denúncia sobre as licitações no caso dos Transportes etc. No caso da Audiência Pública, marcada pelo próprio prefeito, a qual ele não se fez presente, fomos às ruas mostrar que algo estava errado. Para se abrir o diálogo, estaremos na rua, com certeza.
A nova gestão do Diretório Central do Estudantes toma posse no dia 2 de maio, às 20 horas, nas dependências da Casa do Estudante I, na Rua Professor Braga, nº 79, centro de Santa Maria. A comunidade acadêmica espera que as promessas da chapa vencedora venham a se tornar realidade e que muitas outras lutas estudantis sejam o mote para a mediação da gestão “Em frente” com todos os estudantes da Universidade Federal de Santa Maria, já que o DCE não é uma instituição hierárquica, mas sim, o espaço primordial para que o estudante busque apoio nas causas mais relevantes para o ensino de qualidade.
Mais informações: http://www.emfrentedce.blogspot.com/
O QUE VEM PELA “FRENTE”, pelo viés de Bibiano Girard
bibianogirard@revistaovies.com
Para ler mais crônicas acesse nosso Acervo.