: Desde o surgimento do DCE, integrantes de várias chapas além dos anos tornaram-se políticos influentes no estado e no país. O afastamento com a política é impraticável, já que política faz parte do cotidiano de todos. Contudo, qual a posição da chapa quanto à divisória partidária das chapas concorrentes? Isso seria evidente pela união de pessoas com os mesmos ideais e interesses quanto à dirigência do Diretório ou poderia ser visto como um braço dos partidos dentro da universidade?
Mathias Rodrigues: A nossa chapa vai responder sem medo nenhum de ser chamada de hipócrita porque a única chapa que não é um braço partidário nessas eleições do DCE é a nossa. É normal, é comum e é completamente aceitável e louvável que pessoas filiadas a partidos ou que venham a se filiar a quaisquer partidos políticos participem das eleições do DCE. É normal também que essas pessoas procurem grupos políticos que têm propostas próximas ao que ela acredita, que no final podem ser o que acredito o partido ao qual ela está filiada. Só que existe uma grande diferença aí entre terem pessoas filiadas a partidos políticos, como nós temos pessoas filiadas ao PSOL e ao PDT dentro da chapa, e nossa grande maioria, nós temos nove dos 61 dos integrantes filiados a partidos políticos e o resto é independente. Existe uma grande diferença entre quem comanda a gestão, se quem comanda é a diretoria do DCE e o conjunto dos alunos da UFSM ou se quem comanda é um partido político de interesse de terceiros.
Por que eu digo que a nossa chapa é a única que não é um braço partidário nessas eleições do DCE? Porque as outras duas chapas são comandadas por direções partidárias e a direção partidária define o que a chapa vai defender e não o contrário, e não o conjunto de alunos. O nosso grupo de movimento estudantil, o coletivo Barricadas Abrem Caminhos foi debater com todos os movimentos organizados da Universidade a eleição do DCE. Quando a atual gestão, Avante, a qual faz parte do grupo Reconquistar a UNE, um grupo do movimento estudantil, foi nos convidar para discutir as eleições do DCE, o convite foi assim: “A articulação de esquerda quer debater com vocês as eleições do DCE”. A articulação de esquerda é um grupo interno do Partido dos Trabalhadores (PT) que tem aqui no estado a Secretária de Juventude, que tem ministérios no governo Lula, que tem uma vastidão de cargos de confiança no governo. E eu perguntei: “Tá, mas por que a articulação de esquerda quer debater as eleições do DCE e não o Reconquistar a UNE, que é o grupo vai montar a chapa e que montou a chapa 1?”. A resposta foi: “Porque a base não tem legitimidade para discutir isso”. Isso mostra um problema gravíssimo na atual gestão e também na chapa 1, por consequência, que é a chapa da situação.
Isso pode acarretar em problemas sérios para o próprio DCE no momento em que os interesses daquela corrente do partido que está definindo e decidindo e organizando toda a chapa, porque a chapa não é organizada pelo conjunto de estudantes ao contrário da nossa, a chapa é decidida pelos quatro ou cinco que estão na corrente da articulação de esquerda do Partido dos Trabalhadores. No momento, por exemplo, tu vais pegar o ato contra o aumento das passagens… em 2008, com muito menos gente, com um DCE muito menos mobilizado, até porque o prefeito da cidade era o Valdeci Oliveira, do Partido dos Trabalhadores, em um dito momento em que os estudantes estavam no calçadão e pensaram: “Vamos descer até a frente da Prefeitura”, o que aconteceu? Apareceu o Roberto Flech, que foi coordenador geral já do DCE há algum tempo e que é apoiador da chapa 1 hoje e que naquele momento era cargo de confiança da Prefeitura Municipal de Santa Maria e falou: “Não, o DCE não pode aparecer na frente da Prefeitura” e o DCE não desceu. O DCE convenceu, claro que convenceu, naquele momento a decisão foi tomada pelo conjunto dos manifestantes que estavam lá, mas o DCE convenceu a não descer para a Prefeitura Municipal de Santa Maria porque a prefeitura era do PT e porque o cargo de confiança que aquela corrente do partido tinha na prefeitura estava em risco caso o DCE fizesse uma manifestação na frente da Prefeitura e deixasse na corda bamba o Valdeci. Em 2010 se viu o contrário: com a prefeitura do PMDB o DCE não teve problema nenhum em ocupar a Prefeitura, não teve problema nenhum em ocupar a Câmara, em ir para a frente da Prefeitura, em trancar rua. Esse “rabo preso” que nós criticamos. Como é que um DCE tem um peso e duas medidas para prefeituras diferentes? O DCE é a entidade representativa dos alunos e não de partidos políticos.
Imagina se acontece algum problema com o governo estadual, com a Secretaria de Juventude em jogo, o DCE vai fazer alguma coisa contra? Não vai. E o DCE eu digo a chapa 1, perdão mas é que eles são a atual gestão. A chapa 1 vai fazer alguma coisa contra? Não vai porque o cargo do Mauricio Piccin está em jogo e eles podem perder inclusive financiamento para lutas políticas deles. Vai acontecer algum problema com o governo Dilma que o DCE vai ter que se colocar contrário, e ficar contrários firmemente e não contrário mais ou menos como eles se colocam. O DCE vai se colocar contrário firmemente? Não vai porque está em jogo muito mais que a representação dos estudantes: está em jogo cargos de confiança, está em jogo muito dinheiro, está em jogo interesses políticos de terceiros, que não interessam tanto aos estudantes da UFSM.
A outra chapa tem uma situação que chega até ser pior do que a atual gestão. A outra chapa é dirigida, coordenada, montada e tudo mais por um blocão de partidos como o PMDB, PP, PTB e PDT, partidos que, por exemplo, aparelham a união santa-mariense dos estudantes, a União dos Estudantes Secundaristas da cidade, união que votou a favor do aumento da passagem e decidiu o aumento da passagem em 2009. Partidos que estão extremamente ligados a essa questão da eleição do DCE porque o Schirmer está sofrendo um processo de improbidade administrativa depois de todos os atos que o DCE fez e não só o DCE, mas todos os estudantes de Santa Maria fizeram contra o aumento da passagem e porque o prefeito de Frederico Westphalen, do PMDB, também está sofrendo um processo de improbidade administrativa. É muito mais fácil para esses partidos, para esses prefeitos, terem um DCE que vai num Conselho Municipal de Transporte e se cala e vota a favor do aumento da passagem e vota a favor da prefeitura, do que um DCE, sendo da chapa 1 ou da chapa 3, no momento em que a prefeitura for do PMDB porque se for do PT muda um pouco a figura, né… ter um DCE que vai lá e faz barulho e que deixa o prefeito em maus lençóis. Existem interesses, muitos interesses, por trás dessa eleição. O DCE tem voto em Conselhos Municipais, o DCE tem votos em Conselhos Universitários onde se decidem licitações que geram muito dinheiro para algumas empresas. Será, eu não posso falar nada, mas será que não tem empresas financiando algumas chapas do DCE com interesses em que ganhe uma licitação na Universidade? Imagina uma empresa ganhar uma licitação em universidade, o dinheiro que ela ganha. E um voto do DCE pode decidir a licitação ou não. O DCE tem representação de 15% das cadeiras de todos os Conselhos na Universidade.
O que o DCE tem que fazer, e o que a chapa 3 defende, é que o DCE represente aos estudantes, não represente a partidos políticos. A nossa chapa tem filiados ao PSOL e no momento em que o PSOL fizer alguma coisa errada nós não podemos nos calar, nós temos que ser os primeiros a criticar e a colocar os estudantes na rua, coisa que as outras duas chapas não fazem porque eles estão ligados a partidos políticos. A nossa chapa tem filiados a partidos políticos, mas quem decide é o conjunto dos estudantes que participam dela. Não vem o Plínio, não vem a Luciana Genro e não vem gente de qualquer partido falar “Não, vocês tem que fazer isso, tem que fazer aquilo”. Quem decide é o conjunto de estudantes, não importa a filiação partidária como importa para as outras duas chapas. Então é um enorme problema pro DCE, se ele for dirigido pela chapa 1 ou pela chapa 2 depois de abril, esse “rabo preso” e até o principal da nossa campanha é por um DCE sem rabo preso, esse “rabo preso” pode prejudicar a luta dos estudantes no momento em que for contra os interesses da Prefeitura de Santa Maria e de Frederico Westphalen, caso a chapa 2 seja eleita, ou em que for conta os interesses do governo estadual e federal caso a chapa 1 seja eleita. Esse é o principal problema dessa eleição do DCE: a chapa 1 e a chapa 2 são braços partidários, são correntes de transmissão de partidos políticos e o DCE não pode aceitar isso, o estudante de Santa Maria não pode aceitar isso.
: A ligação de alguns membros da atual chapa coordenadora do DCE e candidata da situação – Em frente – com o Partido dos Trabalhadores (PT), base dos governos Lula e Dilma, atrapalha, ou não, a luta estudantil santa-mariense?
Diosana Frigo: Bom, essa é uma das nossas principais críticas e, na verdade, eu vou só repetir o que o Mathias falou e falou bem. É uma discussão que a gente vem tendo com a chapa, com a nossa chapa, tanto que vai ser ‘”uma coisa que vai marcar muito a nossa campanha porque é um DCE sem o “rabo preso” isso que a gente quer e que todo o estudante quer por mais que ele seja filiado e algum partido. Veja bem, nós não estamos criticando os estudantes que são filiados a algum partido, seja Partido dos Trabalhadores ou a qualquer outro partido. A nossa crítica é que quem está dentro de um núcleo, quem está dirigindo o DCE, não pode tomar as decisões pelo partido. É a nossa crítica. Então, não tem muito o que ser dito porque o Mathias já falou muito bem.
: Se eleita a chapa “Amanhã vai ser outro dia”, que tem em seu quadro de membros militantes ligados ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), partido que não apóia nenhum dos governos atuais, haveria maiores dificuldades para se ter conquistas no movimento estudantil santa-mariense, visto que seriam poucos os apoios políticos?
Mathias Rodrigues: Eu acho que ao contrário, na verdade. O nosso grupo político, que é composto por militantes independentes e por militantes do PSOL e por militantes do PDT pode ser considerado isolado pelo fato de ser contrário a todos esses governos quem vêm aí e a todas essas políticas que vêm aí. Nós não somos contrários, filiados ou não a quaisquer partidos, por ser contrários. Nós somos contrários porque nós temos uma crítica forte a medidas como a Reforma Universitária por meio do REUNI, à MP 520 e à MP 525, somos contrários ao ProUni e a diversas outras medidas que esses governos, desde a era FHC passando pelo governo Lula e passando pelo governo Dilma, vêm fazendo. Só que isso nos dá um ponto positivo, que é o ponto de não ter o “rabo preso” na hora de criticar essas medidas. Mas isso não impede, no momento em que acontecer uma coisa boa na universidade a gente não vai ser hipócrita de criticar por criticar. Eu pego um exemplo que o Barricadas é um dos poucos movimentos estudantis que defendeu o Plano Nacional de Direitos Humanos, que foi apresentado pelo governo Lula. Os outros coletivos estudantis ligados a quaisquer partidos não defenderam. O próprio Partido dos Trabalhadores não defendeu o Plano Nacional de Direitos Humanos. Nós defendemos, o Barricadas, filiados e não filiados, defendemos o Plano Nacional de Direitos Humanos porque a gente acredita que ele é um avanço para a sociedade.
A nossa chapa não é crítica por ser crítica, não é oposição por ser oposição, ela é oposição porque acredita que muita coisa está errada, mas isso não vai fazer nós sermos contra coisas que estão certas. Eu acho que é isso o principal e levando mais além, o Barricadas, que é o grupo que compõe majoritariamente a chapa, que é composta por independentes e por militantes também do coletivo Vamos à Luta, ambos esses coletivos participam da oposição de esquerda da UNE, que são um grupo que vai nas conversas da UNE e que tenta tencionar os debates para que ele seja de forma mais crítica às políticas educacionais que estão sendo tomadas. A oposição de esquerda da UNE… são raríssimos os DCE’s hoje no Brasil, principalmente em universidades federais, nos quais não estão presentes militantes da oposição de esquerda da UNE. E nesses DCE’s é onde há um ganho político e um ganho estudantil muito maior do que em DCE’s que se abstém de fazer o debate. O DCE da UFRGS tem ganhos políticos enormes por não ter o “rabo preso” na hora de criticar o governo Tarso e de criticar o governo Dilma. O DCE da UFPR, hoje, conseguiu depois de semanas de mobilizações junto com os diretórios acadêmicos e o centro acadêmico de lá da Comunicação Social, que regras da Universidade fossem mudadas num conselho de ensino, pesquisa e extensão. Será que esse DCE conseguiria mudar essas regras caso ele tivesse algum probleminha em criticar alguém ali ou alguém aqui? Esse isolamento, que não é um isolamento porque se a nossa chapa for eleita ela vai estar junto com a grande parte dos DCE’s das universidades federais do Brasil, ele é muito mais positivo do que negativo porque ele nos dá liberdade total para criticar o que tem que ser criticado e apoiar o que tem que ser apoiado. Acho que isso é o principal.
: A ligação de membros da chapa “Inova” com o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), partido do atual prefeito de Santa Maria, não viria a atrapalhar ou abrandar a luta estudantil em causas locais, como o aumento das passagens ocorrido ano passado, se a chapa for eleita?
Mathias Rodrigues: Mais uma vez, repetindo, a colateral partidária que se tornaria o DCE caso a chapa 1 ganhasse também se tornaria caso a chapa 2 fosse eleita. O problema só muda de local. Ao invés de ter “rabo preso” com a Dilma e com o Tarso, o DCE teria com o Schirmer e com o prefeito de Frederico Westphalen, que é do PMDB. Muda as figuras, mas não muda a situação, sabe? A nossa gestão é contra qualquer tipo de “rabo preso”, contra qualquer tipo de interesses de terceiros que venham a influir na atuação do Diretório Central dos Estudantes. O único interesse que importa para o Diretório Central dos Estudantes tem que ser o dos alunos. Não é interesse do Schirmer, não é interesse da Dilma, não é interesse do Plínio. O interesse que importa é o interesse dos alunos e a chapa 2, na verdade, só vai inverter isso. Ela vai às vezes ser crítica e às vezes não, porque a chapa 2 defende muitas políticas que a chapa 1 defende também, porque eles são aliados no governo federal, sabe? Isso é uma coisa que tem de ser colocada clara: a chapa 1 e a chapa 2 votam juntas em congressos da UNE, votam juntas no Congresso Nacional porque eles sim são braços partidários que votam de acordo com interesses do partido.
O que a gente defende é que o DCE seja de alunos, não DCE de partido, não DCE do PT, do PMDB, do PSOL. O DCE tem que ser de todos e o DCE da chapa 2 votaria a favor do aumento da passagem, o DCE da chapa 2 não convocaria Conselho de DA’s porque eles sabem que no Conselho de DA’s, que é um órgão superior à diretoria do DCE, eles seriam minoria e perderiam decisões quanto às atuações que eles têm que fazer… não fariam nada, ficaria só os bobos do movimento estudantil tentando fazer alguma coisa pela Universidade. Ia ser um retrocesso tremendo se a chapa 2 fosse eleita. Imagina um DCE votando a favor do aumento da passagem como fez a União Secundarista de Estudantes, que tem integrantes que hoje estão na chapa 2 e que em 2008 decidiu o aumento da passagem votando a favor dele.
Clique abaixo para continuar lendo a entrevista