ONDE ESTÁ A UNIÃO UNIVERSITÁRIA? NO VOTO.

Após a primeira segunda-feira do mês de abril, terça, dia 5, nas dependências da Casa do Estudante I, no centro de Santa Maria, o conselho eleitoral, composto naquela noite por três estudantes da Universidade Federal de Santa Maria, esperava desde as 20 horas até às 21 horas as inscrições das chapas para as Eleições 2011 do Diretório Central dos Estudantes.

Em poucos minutos a chapa da situação denominada “Em frente” apresentava a lista com seus componentes para posterior apreciação do conselho. A chapa de oposição “Amanhã vai ser outro dia” em seguida prestaria sua composição aos conselheiros. Durante aproximados trinta minutos, entre conversas, colagens de adesivos no peito e muita água – a noite se apresentava quente – as duas chapas permaneciam como únicas para a disputa, mesmo que no meio acadêmico a maioria dos estudantes já esperasse a inscrição de mais uma chapa, a qual apresentou a lista de seus membros e a denominação – Inova – próximo ao término de horário admitido estabelecido no edital.

Inscritas as três chapas, era hora de estabelecer direitos e deveres dos componentes das mesmas durante a campanha, que iniciaria na segunda-feira, dia 11 de abril. Para quem acompanha de perto o movimento estudantil santa-mariense e dos campi de Frederico Westphalen, Silveira Martins e Palmeira das Missões, sabe que o calor da eleição já havia iniciado mesmo antes do dia marcado para início da colagem de cartazes, adesivos e campanha em discursos.

Mas a questão que não cala: por que a grande maioria dos alunos da Universidade Federal de Santa Maria não vai às urnas nas eleições para o Diretório Central dos Estudantes?

Desde o movimento dos Caras Pintadas, o qual reuniu milhares de estudantes por inúmeras cidades do país, o movimento estudantil deu uma estagnada. E com motivos. Desencadeou-se um processo de derrubada do presidente Collor, uma vitória para os Caras Pintadas da época, e uma tristeza para os caras limpas de 2011. Collor está aí novamente. Sentado em sua poltrona no Congresso com o sorriso que o fez vencer Lula em 1990. E mais, Sarney continua perpetuando a política que desde o voto a cabresto dos barões do café ainda não mudou. Sarney é dono de rádios, acionista de canais de televisão e praticamente dono de um lugar no Senado brasileiro.  Governador do estado do Maranhão de 1966 a 1971, e Presidente do Senado Federal de 1995 a 1997, 2003 a 2005, de 2009 a 2011 e de 2011 até a atualidade, Sarney é o principal rosto da vergonha política brasileira, mesmo acusado de desvios e improbidades administrativas, o político que mora no Congresso há décadas se diz vítima de perseguição política. E o pior: Sarney está com Dilma, a ex-guerrilheira que servia de exemplo para muitos durante os anos de chumbo. Começa aí a descrença do jovem eleitor e do jovem estudante, mas nem só por culpa da política de Brasília que se desconstrói o movimento estudantil santa-mariense. Há muito de individualismo no ar.

A faixa social de milhares de alunos da UFSM coloca-se entre a classe média e a classe média alta. Ainda sofremos com a exclusão de alunos das classes mais baixas pelo estilo de admissão usado por anos pela universidade. O vestibular é uma prova confeccionada para o aluno que pode pagar um bom curso preparatório para responder questões de variadas disciplinas ou aquele que estuda muito nos cursos Praxis e Alternativa e que estão dando uma amostra de que é possível entrar na universidade pública e de qualidade. Segundo Dalvan Reinert, Vice-Reitor da Universidade Federal de Santa Maria, “a universidade não é pública porque é do Estado. A universidade é pública pois deve admitir todos e todas em seus cursos”. Mas sabemos que ainda não é o que ocorre. Permanecemos, não só a UFSM, mas as escolas do Brasil inteiro, com o pensamento positivista do certo e do errado. Do bem e do mal. Do aluno bom, àquele que responde a todas as disciplinas com uma boa média, e o aluno ruim, fadado ao insucesso porque não consegue objetar uma equação de segundo grau. O que tudo isto tem a ver com o baixo quorum das eleições do DCE?

O individualismo e a prática social do egocentrismo do “cada um por si”. Os alunos que não necessitam de assistência para a alimentação universitária, transporte mais barato para chegar à universidade – distante aproximados dez quilômetros do centro da cidade – não precisam residir em uma das casas do estudante ou tentar uma bolsa de estudos para manter-se longe de casa, em sua grande maioria não se preocupa com a situação de seu colega e do movimento estudantil como um todo em Santa Maria. Muitos lutam pelas causas dos que realmente necessitam, mas a maioria prefere distanciar-se das ações estudantis por que os meios de comunicação social hegemônicos apresentam os estudantes fechando ruas contra o aumento da passagem, ou posicionando-se na Reitoria por melhorias na Casa do Estudante, como um “movimento badernista que necessitou da presença da polícia”. Quem vai querer aproximar-se da criminalização?

No caso da luta estudantil pelo não aumento do valor das passagens ocorrido no final do ano passado, as repórteres presentes ou estavam dentro da prefeitura noticiando, ou distantes quarteirões, sem aproximarem-se dos estudantes. Na hora da edição de imagens para repassar ao telespectador, o que apareceu? Os alunos tentando impedir um carro de seguir na via, contudo, muitas outras foram as cenas de grito de luta e aplausos da sociedade no entorno e que não foram mostrados. Resta à minoria o papel de questionador o aparelho integralmente ligado e discreto entre universidade, fundações, meios de comunicação, empresas de transporte público, empresas de terceirização de segurança, limpeza e afins.

Parece a famosa Teoria da Conspiração. E é. Tanto que após o movimento estudantil ter gritado até o último instante durante uma semana inteira, o Ministério Público tornou o prefeito Cezar Schirmer e o ex-prefeito Valdeci Oliveira passíveis de responsabilidade por improbidade administrativa por seguirem juntos à Associação dos Tranportadores Urbanos durante anos, aumentando o valor da passagem do transporte público sem estudos rigorosos. As empresas de transporte público são uma das principais patrocinadoras das rádios e televisões locais. Alguma pergunta do porque da criminalização dos atos planejados pelos estudantes?

A questão do individualismo permeia a situação da sociedade egoísta na qual estamos inseridos. Se eu não quero esclarecer breus administrativos ou lutar pela causa estudantil de melhorias na universidade onde eu mesmo estudo, fico em casa e deixo a água passar por debaixo da ponte. A água, nesta metáfora, seria o voto dos poucos que vão às urnas tentar fazer com que a UFSM aprecie a voz do estudante. De todos os estudantes. Falta sala de aula em seu curso, microscópio em seu laboratório, projetor na sala de estudos, livros na biblioteca, moradia na casa do estudante, ônibus dos bairros para universidade em mais horários e menos lotados? Falta. Falta dinheiro para sua turma apresentar a pesquisa em algum encontro nacional? A fila do Restaurante Universitário está grande? Falta um espaço público para as formaturas? O Centro de Eventos é da Universidade ou das empresas que fazem a Feira Agropecuária? Seu professor é substituto? Sua sala de aula é mal conservada? O banheiro de seu prédio é precário? Você não estuda na UFSM porque o curso desejado não disponibiliza vagas noturnas? Você sai antes da aula no breu do campus para pegar o último ônibus para o seu bairro? Tem ônibus entre seu bairro e a universidade? Você gostaria de um espaço de convivência onde pudesse juntar os colegas para uma conversa e um chimarrão? Faltam lixeiras pelo campus? Faltam ventiladores ou mesmo um ar-condicionado no verão? Falta uma pequena biblioteca dentro de seu prédio? Você não tem direito a três refeições diárias na universidade? O livro que falta está na biblioteca do outro campus?

Pois é. O que mais falta para uma universidade de qualidade e pública para todos? Um Diretório Central dos Estudantes que seja ativo e faça a mediação entre você, estudante, e a parte administrativa da UFSM. Então, o que ainda falta? Falta o seu voto nas urnas dia 27 de abril para escolher entre “Em frente”, “Inova” ou “Amanhã vai ser outro dia”. Uma destas chapas será seu braço dentro da Reitoria. Assim esperamos.

ONDE ESTÁ A UNIÃO UNIVERSITÁRIA? NO VOTO., pelo viés de Bibiano Girard

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