MONTEVIDÉU: uma crônica.

Aqui na revista o Viés já escrevemos alguns textos sobre nossos vizinhos da América do Sul, em especial dois tratam da história – antiga e recente – do nosso vizinho ao sul, o Uruguai.

Mas o que tanto atrai nesse pequeno país? Cada um dos integrantes da nossa redação pode dar um motivo, mas provavelmente todos eles vão calhar em um “mínimo comum”, a compaixão pela simplicidade e simpatia do povo uruguaio.

Em visita a capital Montevidéu no último final de semana, pude perceber essas qualidades nos moradores da cidade. Calmos, educados e na maioria das vezes sempre com um minuto de sobra para gastar com um estrangeiro que não fala espanhol – algo que na maioria das cidades, inclusive brasileiras, não acontece.

É essa educação que faz muitos se apaixonarem pela cidade que, mesmo sem tantas atividades e locais turísticos como diz-se ter a vizinha Buenos Aires, ganha pela segurança e tranquilidade no andar das ruas, no transporte barato (seja de ônibus ou táxi) e nas boas cervejas uruguaias.

“Vivimos en la mediocridad” disse Martin, dono de um simpático Hostel da cidade. Uruguaio que já viajou pelos quatros cantos do mundo, Martin descreve o povo uruguaio assim entre risos. A mediocridade de que fala não é negativa, mesmo que esse conceito pareça estranho. É uma mediocridade como “estilo de vida”, como se para o uruguaio a vida simplesmente não passasse tão rápido – poupando-os de vários comprimidos, visitas aos psicanalistas e aos pronto-socorros, diga-se.

Para explicar Martin gesticula para os diversos brasileiros sentados em volta da lareira do Hostel. Com um movimento reto da mão direita mostra como é a vida dos uruguaios; e então com uma mão que sobe e desce no ar descreve a vida dos vizinhos argentinos ao sul do Rio da Prata. É isso que os diferencia. Os Montevideanos parecem levar uma vida que quase para no tempo, com vagareza partem aos seus postos de trabalho e lá permanecem assim. Não que deixem trabalho acumular, mas sempre existe tempo para um mate entre um compromisso e outro.

Nos finais de semana essa vagareza é ainda mais sintomática. Considerando que tratamos de uma capital, com mais de um milhão e trezentos mil habitantes, é interessante ver todos os estabelecimentos fechados – incluindo vários cafés – já depois do meio-dia de sábado, cenário que não se alterará até o expediente de segunda-feira.

A cidade pára. Talvez com exceção dos templos das compras, os shopping centers, a cidade fica um tanto deserta. Quem sai para as ruas e para as compras nas diversas feiras da cidade são os turistas, visíveis de longe com câmeras nas mãos à frente da Praça Independência ou passeando pela tradicional feira da Tristán Navarra, muitos não se importando em falar um sonoro português.

A cidade tem várias atrações para os olhos estrangeiros – duas delas citadas acima. A Praça Independência é o ponto inicial para a chamada Cidade Velha, com casarios das primeiras décadas do século XX, praças e vielas charmosas. Ao entrar pela Puerta de La Ciudadela em direção a via Sarandi, exclusiva para pedestres, são algumas quadras até o Porto e o Mercado do Porto. É no Mercado que se encontram as Parrilladas oferecidas por diversos restaurantes. O prato, típico do Uruguai, é composto pela combinação de diversos cortes do boi, da galinha e do porco, na maioria das vezes acompanhado do Medio y Medio – bebida feita de espumante e vinho branco seco.

Nos arredores da Cidade Velha também se pode conhecer o Teatro Sólis, com a exuberância dos teatros construídos no século XIX . Depois de mais de sete anos de total restauração (entre 1997 e 2004) o Teatro tornou-se ponto turístico, com visitas guiadas que valem o valor da entrada. A Igreja Matriz e a feira de antiguidades da Cidade Velha também valem uma visita.

Mas a Feira mais impressionante é a da Tristán Navarra. Com o nome “desatualizado” ela já não se estende apenas pela rua que lhe batiza, mas cresce por diversas ruas transversais, por outras ruas paralelas, chegando até a se espremer nas calçadas da Avenida 18 de Julio, uma das artérias da cidade que ao fim desemboca na Praça Independência. Tem-se a impressão que é possível viver apenas da feira tamanha a diversidade de produtos oferecidos – um mosaico constituído por galinhas vivas, objetos antigos, frutas e verduras, todo o tipo de artigo pirata, armas de ar comprimido, lãs, objetos artesanais, roupas, fotos dos jogadores de futebol uruguaios e de seus feitos na Copa do Mundo, livros, panelas… Quase tudo que se possa imaginar ser vendido por um ser humano a outro, distribuído pelas ruas centrais da cidade.

Da Avenida 18 de Julio pode-se voltar à Praça Independência, onde se é recebido pelo maior herói nacional, José Artigas esculpido em bronze e montado sobre um grande cavalo do mesmo material. O tamanho da obra impressiona, ainda mais acima de um grande pedestal de mármore. Ao redor da praça outra construção exuberante pode ser vista, um edifício conhecido como Palácio Salvo, construído no início do século XX e que por anos foi o maior da América do Sul. Com 95 metros de altura e 27 andares representa bem, junto com o Teatro Sólis, a imponência da cidade no início do último século. O charme de Montevidéu é completo pelo Palácio Legislativo, de grande imponência.

A cidade tem muitos outros atrativos, que na maioria das vezes ficam ao alcance de uma boa caminhada – o que se por um lado torna o passeio mais cansativo, torna-o ainda mais vibrante. São nessas caminhadas que ficam explícitas algumas características da cidade, entre elas a politização da população uruguaia – muitas pichações de protestos são vistas pelas ruas, e uma rua em especial representa a esquerda uruguaia, a Rua Daniel Fernandez Crespo concentra em algumas quadras os comitês de diversos grupos e partidos comunistas, sindicatos e centrais sindicais.

Caminhar pelas ruas de uma cidade grande e cosmopolita, seja esta cidade a capital ou o exemplar de um conglomerado urbano no Uruguai, no Brasil ou em qualquer lugar do mundo, é sempre oportunidade que muitos deveriam abraçar. Algumas vezes não reparamos nas belezas que cercam nossas cidades, apenas por elas estarem ao alcance dos olhos facilmente. Conhecer um lugar não é apenas visitar seus pontos turísticos e tirar algumas fotografias – é preciso estar atento ao povo, aos costumes, ao ritmo da cidade. Quem for atento, perceberá. Talvez devêssemos levar a vida tranquilamente, como os uruguaios o fazem, a fim de prestarmos atenção ao que melhor da vida pode nos aparecer.

MONTEVIDÉU: uma crônica, pelo viés de João Victor Moura

joaovictormoura@revistaovies.com

FOTOS: Lara Niederauer (com exceção da última, de João Victor Moura)

Colaborou: Nathália Costa

Para ler mais crônicas acesse nosso Acervo.

Um comentário sobre “MONTEVIDÉU: uma crônica.

  1. Lamentablemente, mi portugues todavia no esta suficientemente dearrollado – asi, con su permiso ( en vez de usar el ingles o el aleman ) – ire contar mis impresiones de ROU (Republica Oriental del Uruguay) e de los “Orientales” – como se llaman en ambos lados del Rio de la Plata: Estuve en Montevideo (y Atlandita) por un ano entre 1990 y 1993 – veranos en Uruguay, inviernos en el Brasil. Como “retirado prematuro” (aponsentado precoce) – durante una “ultima gran aventura” de cuatro anos en America del Sur. Montevideo entonces todavia estaba casi como habia estado desde su epoca de gloria – en las primeras decadas del siglo. En el tranvia (con contactos hacia los cables) – todavia se oia – en el radio del conductor, puros tangos – “Garufa” version oriental estaba muy en moda. En Montevideo descubri el tango como forma musical. Ahora, siempre aprovecho oportunidades de mencionar “el tango” cuando surga la oportunidad, en mis comentarios de lector – en diversas publicaciones en varios paises. Ultimamente mencionei tango en el video youtube “Cambalache” cantando por el uruguaio Julio Sosa – como ejemplo de que el tango no esta limitado a lo emocional-romantico. Mi broma (piada) favorita sobre el Uruguai: “If you do not know that the urugayan Gerardo Matos Rodriguez composed the tango “La Cumparsita” in 1917 —the ugurayan immigration officers may not let you enter into Uruguay!” (No caso de que Vc nao soubesse que o uruguaio Gerardo Matos Rodriguez tinha composta o tango “La Cumparsita” em 1917 – os agentes da imigracao do Uruguai poderiam impedir sua visita em Uruguai!)

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