O santista Alexandre Cruz “Sesper” passou boa parte da adolescência vendo programas de rock e fazendo zines com papel e caneta bic. Ouvia demo-tapes, andava de skate, escrevia cartas, trocava lps e fitinhas, também teve algumas bandas independentes. Ele fez parte de um tempo em que os flyers de shows eram feitos com tesoura e cola. Hoje utiliza as revistas, as cartas, os selos, os discos, os envelopes e papeis dos anos 80 e 90 como matéria-prima em suas artes. Como o contato com as subculturas, o rock e o skate em Santos vieram desde muito cedo, acabou se formando na academia do Do It Yourself. Diplomado no faça-você-mesmo. “Acredito nesta de fazer porque você está gostando da coisa, indiferente de alguém dizer que está bonito ou feio, sabe?”. Também conhecido como “Farofa”, ele tem orgulho em dizer que é autodidata.
Designer, ilustrador, fanzineiro, videomaker e artista, Farofa também é vocalista do Garage Fuzz, banda santista de punk/hardcore que está há mais de 20 anos na estrada e é referência no hardcore brasileiro. Deixou seu pseudônimo “Sesper” pelas ruas com adesivos e pôsteres, fez artes em camisetas para marcas de streetwear, fez capas de discos para grandes e pequenos selos, desenvolveu trabalhos em ateliês, faz parte de exposições e atua como curador. Também é membro do coletivo brasileiro Famiglia Baglione. Não, e não para por aí. Fez o roteiro, direção e edição do RE:Board, documentário totalmente sem fins lucrativos que conta com depoimentos de skatistas e colecionadores que acompanharam a evolução do skateboarding no Brasil desde os anos 70 e também de artistas que configuraram a estética dos shapes. Sesper também dirigiu o DVD e documentário do Garage Fuzz intitulado“Definitively Alive”de 2010. Ele acertou em cheio quando descreveu sua profissão em seu blog como “extreme mutant media”, segundo ele, seu próximo desafio: “O que eu quero no futuro é conseguir agregar todas as estéticas em uma só arte”. E quem duvida?
Dia 14 de junho o Garage Fuzz chegava em Porto Alegre para fazer um show no Opinião com o Dead Fish e a Campbell Trio. Aproveitei para falar com o Sesper sobre os zines, o skate, os vídeos, a música e as colagens em sua arte. A conversa durou 40 minutos, então relax in your favorite chair* aí e boa entrevista.
*álbum do Garage Fuzz de 1994.
Sobre as cores utilizadas nos teus trabalhos, eu gosto bastante do verde, do azul, tu trabalha com cores agradáveis.
Sesper: As cores da minha arte e a estética é o seguinte. Como as mensagens às vezes que estão embutidas ali nos quadros estão meio subliminares, eu utilizo as cores claras, tons pastéis assim pra deixar a coisa mais calma,sabe? Como já tem muito violência nas imagens, a cor eu procuro deixar ela mais simples para ter este contraste mesmo. A cor… ela não espanta a pessoa se a pessoa vê ela diz “ah, que combinação de cor agradável!”. Aí quando ela chega perto que ela vê que aí tem gente enforcada, neguinho matando…
Tu já disse que está nem aí para o que as pessoas vão pensar em relação a tua arte, a Britney enforcada ou o Jesus de quatro. O objetivo mesmo é o chocar?
Sesper: Eu poderia hoje em dia fazer um lance mais comercial, pintar passarinho, que eu ia enxergar isso como um trabalho, saca? Ah eu tenho um trampo ali, pinto uns passarinhos, eu vendo, eu pago minhas contas e tá tudo certo. Só que eu acho que para continuar evoluindo eu tenho que… procurar sempre estar renovando a estética, a linguagem, e aí como tem toda essa influência das bandas de punk, e das influências antigas com tu mesma falou, do skate, uma época mais violenta, uma mensagem mais agressiva, eu acho que muito disso eu continuo fazendo para continuar tendo prazer no que eu faço. Para não ficar uma coisa metódica tipo, estou fazendo porque funciona e vende, aí eu vou fazer coisas “bonitinhas”. Até que quando eu estou muito feliz eu nem produzo, vou ouvir disco, vou trocar ideia com os meus amigos. Acho que quando eu estou em uma fase mais introspectiva, com algumas coisas na cabeça, é aí que eu paro e faço uma produção de arte.
“A cor, ela não espanta a pessoa. Se a pessoa vê ela diz “Ah, que combinação de cor agradável!”. Aí quando ela chega perto que ela vê que aí tem gente enforcada, neguinho matando…”
Tu tem banda, faz arte, colagem, zine, vídeos. O que surgiu primeiro na tua vida, foi o gosto pela arte ou pela música?
Sesper: Foi a música que eu acho que comecei a ouvir som em 1982, quando o Kiss e o Van Halen vieram no Brasil a primeira vez e depois teve o Michael Jackson , meu primeiro disco de música foi o “Off the Wall”, e teve Rock In Rio e aí logo que surgiu o Rock in Rio eu comecei a pirar em metal… de 85 para 86 eu comecei a fazer street skate em Santos, São Paulo, aí já comecei a ouvir punk, e aí a partir deste período o meu gosto mudou. Acho que é a sequência é música, surf, skate e a arte… e aí mais música… mais skate…(risos)
É uma soma de tudo então, do surf, da música, do skate. Tua arte deve muito ao skate.
Sesper: Sim,eu acho que sem o skate, sem todos os caras de surf que moravam em Santos, que passavam por lá…minha arte vem daí. Quando a gente começou a andar de skate existiam as rixas da galera mas não era uma coisa agressiva, todo mundo acabava se entrosando porque Santos era uma cidade litoral, todo mundo cresceu junto, todo mundo continuava amigo , não era porque um escutava metal ou o outro escutava reagee ou o outro surfava ou andava de skate que tinham divisões, as galeras eram juntas.
Tu acha que hoje em dia isso não acontece?
Sesper: Não, nem ferrando. Hoje em dia todo mundo escuta de tudo mas eu acho que fica uma coisa mais segmentada. As pessoas procuram mais quem elas se identificam apesar de gosta de reggae. Mas essa época não. Era o rasta, andando com o skinhead, com o cara que era punk, com o cara que era metal,com o cara que era skatista. Às vezes eles poderiam nem ter um entrosamento tão bom mas andavam juntos no mesmo bar, nos mesmos lugares, até porque não tinha tanta opção.
A tua primeira banda foi de metal e se chamava Assepsia. Quanto tempo durou, como foi esta época?
Sesper: O Assepsia foi uma banda bem influenciada ali na época quando o Sepultura lançou o Esquizofrenia, nesse período a gente tocava esse estilo de thrash metal e eu escutava Kreator, Sodom, Nuclear Assault essas eram as influências, isso era 87. Aí depois a que a gente acabou a Assepsia, metade da banda montou outra banda de hardcore que era o Ovec que aí já tinha o Daniel na bateria que é do Garage Fuzz, o Fabrício até tocou nas formações finais, aí com o fim do Ovec eu fui também tocar com o Fabrício em uma banda chamada Psychic Possessor,aí esta banda acabou e a gente montou o Garage Fuzz em 1991 já indo para um outro estilo,a gente já escutava Hüsker Dü,a gente vinha do punk cantado em português, aí depois nesta transição dos anos 90 a gente começou a escutar Hüsker Dü, um monte de banda australiana, Hoodoo Gurus… Descendents…
A primeira vez que ouvi Garage Fuzz achei que fosse gringo.
Sesper: A soma disso é muito ensaio, porque a banda ficou muito tempo ensaiando, antes mesmo de lançar a demo… e a gente teve também muita influência,tivemos sorte de nascer em Santos e ter muita loja de disco, estas lojas acabavam influenciam o nosso gosto,tinham grana e traziam discos, nos anos 80 tinha muita loja de disco importado, Santos por ser porto, também vinha muito disco novo, a gente recebia e trocava muito disco. A gente mandava para a Europa, para os Estados Unidos discos de punk e metal brasileiro e pedia os discos que a gente queria e não tinha na época. Então essas coisas eu acho que essas coisas fizeram a gente ter um know-how em uma época que era mais difícil.
O Garage Fuzz começou em 1991 e vocês acabaram lançando o primeiro disco só em 1994. O que vocês fizeram neste três anos, ficaram trabalhando no disco?
Sesper: Sim, gravando várias demos, fizemos um monte de show, mudamos a formação em algumas partes, entraram dois guitarristas diferentes, eu fui pro vocal, saiu o primeiro vocalista, e aí foi rolando. E a gente foi ensaiando bastante. Um pouco antes do primeiro disco a gente gravou várias músicas, sabe, do Relax In Your Favorite Chair mesmo, a gente fez umas pré-demos… que não tinha nem as melodias direito.
O que tu queria dizer quando falou que os projetos do Garage Fuzz deveriam ser mais acelerado e a arte menos acelerada?
Sesper: Eu acho que não é uma culpa muito minha! (risos). Acho que a nossa criação ela demora, cada disco tem de cinco em cinco anos, de quatro em quatro anos… eu acho que o ideal seria a gente fazer a coisa na metade do time disso. Mas no final das contas eu acho que sai como tem que ser, como tu mesma disse “Ah, tá gringo”, é porque ficou estes quatro anos desenvolvendo.
E sobre as letras, eu sinto bastante introspecção e são bastante abstratas.
Sesper: Eu falo bastante sobre coisas que acontecem com a gente. Até que as do EP novo são mais diretas, as pessoas vão pegar e vão entender qual é a situação que está acontecendo. E também é muita maconha para fazer estes discos, então fica tudo meio turvo. E quando eu falo muito, é muita mesmo! (risos)
O teu primeiro trabalho com zine foi um zine de thrash metal chamado Slaughter Zine? Quantas edições teve?
Sesper: Era na época anos 80… tinha um programa que se chamava Comando Metal em São Paulo, programa de domingo, quem fazia era o dono da AudioStock e nesse programa ele tocou, seilá, Guns’n Roses antes de todo mundo, o disco do Metallica antes de todo mundo, era um programa de São Paulo cabuloso e passava domingo a noite e putz… eu devia ter quinze, dezesseis anos. Não tinha mais de dezessete anos. E ficava fazendo zine à noite, ficava ouvindo o programa. Eu fazia o zine com caneta bic, ficava fazendo as resenhas bem pequenininhas com caneta bic, ficava vendo o programa e fazendo. Não era com máquina de escrever porque eu não tinha. Sobre as edições…não, nem tenho mais. Fiz umas duas edições. Era ofício, eu pegava revista, zine, xerocava, eu repassava a informação que eu tinha. Se eu tinha um zine de um amigo, se gostava de algo do zine dele eu pegava uma foto e refazia a matéria que tinha no zine e dava o crédito. Esse primeiro zine era meio que isso.
A tua paixão por colagem pode vir deste tempo. Tu retirava elementos de outros zines para fazer um outro.
Sesper: Certo! Hoje em dia até alguns zines que eu fiz eu recorto eles e ponho em quadro, coisa antiga. Uso selo, carimbo, coisas de carta. Tudo que eu colo são coisas que eu guardei. São coisas que eu guardei durante muito tempo.Os 70% do acervo de material que eu uso são coisas que eu tenho desde 1985.
Então o primeiro contato com colagem que tu teve foi através deles?
Sesper: As colagens, na realidade a primeira vez que tive mesmo contato com elas foi na necessidade de fazer os cartazes de shows. Eu precisava fazer um cartaz de show do Garage Fuzz, as colagens mais técnicas foram estas, as de cartazes de show. Como era uma colagem que tinha que alcançar um público, não era uma colagem que eu fazia só por fazer, tinha que chamar atenção também por ser uma banda nova, então eu dava um gás legal assim nessas colagens de cartaz. Mas eu só voltei a fazer colagens há sete anos atrás porque um dia cheguei e tava a minha filha na primeira ou segunda série fazendo colagem. Aí pensei “Putz, preciso voltar a fazer colagem”. Fiquei vários anos sem fazer colagem, eu só colava pôster na rua, adesivo…mas não era uma composição artística, que tinha elementos. Na real eu ainda faço, na real eu não vejo tanto assim hoje porque eu sou remunerado por isso, mas eu fazia colagem por prazer, eu nunca cheguei e disse “Ah eu vou ser artista, vou ganhar um dinheiro, vou estudar”. Eu sou autodidata. Acredito nesta de fazer porque você está gostando da coisa, indiferente de alguém dizer que está bonito ou feio, sabe? Minha mãe aprendeu a pintar também sozinha.
Ela é artista?
Sesper: Não. Ela pinta por prazer, por hobbie. Paisagem, assim, coisas que ela gosta. Pinta porque ela gosta. Tecnicamente é uma tiazinha que pinta, eu vendo ela fazer eu fui pegando alguma influência.
“Para mim o que importa é o processo até o fim do lance. O final para mim é o final. É que nem uma padaria, tá lá o bolinho confeitado. Eu gosto do desenvolvimento, do processo.”
Tu já disse que conheceu um tipo de arte bem mais underground e ter vivido isso foi bom, que tu não conhecia artes do tipo Bauhaus e não se envergonha por isso. Li que tu curte as artes tipo as do Fred Otnes.
Sesper: Bauhaus pra mim era banda de pos-punk né? (risos) Depois que eu fui pegar o livro. Eu nem gosto de ver muita arte, ficar pegando livro pra ver. O Fred Otnes ele é bem depressivo, bem escura, bem pesada. Ele foi um artista que faz muita transferência. Eu não gosto muito de…a arte finalizada, ela não me atrai. Eu gosto do processo. Para mim o que importa é o processo até o fim do lance. O final para mim é o final. É que nem uma padaria, tá lá o bolinho confeitado. Eu gosto do desenvolvimento, do processo.
O que tu diria para alguém que curte colagens e nunca fez?
Sesper: Tem que ter muito papel. As dicas? Acha já alguma coisa que gosta. Tu gosta de letra? Guarda muita letra. Ah… eu gosto de cara, de pessoa. Aí tu pega e guarda muita carta, recorta, guarda. Depois que tu já tem este material aí você começa a fazer umas composições. Eu acho que não tem muita regra na colagem. É uma coisa tão livre.
Vi uma arte tua lá na Galeria LOGO, tem uns relevos, não parece muito simples.
Sesper: É… mas aí entra técnica. Tem diversas técnicas. Hoje em dia o meu desafio é pegar todas elas e colocar em um quadro só. É que como eu vou fazendo muito por instinto eu não penso “Ah este quadro eu vou fazer isso.”. A coisa vai saindo. Até por isso eu acho que tem tanta camada… tanto penduricalho, vai indo, vai indo… nunca acaba!
E quando tu cola tanta coisa, vai colando uma em cima da outra, não acaba que tu se arrepende por ter colado algo que acabou “sumindo” em meio a tanta sobreposição de elementos?
Sesper: Sim! Some… e tem algumas vezes que eu até me arrependo do que eu tapei, fico pensando que eu podia ter feito outra coisa com aquilo. Rola direto. Mas este que é o desprendimento da coisa. Uso bastante material antigo… dos antigos,eu vou pegando, lixo na rua, coisa que eu vejo que tem a ver com coisas que acho que entra na minha estética. Estes dias achei umas notas de dinheiro de uma fantasia de carnaval jogado na rua, aí eu recolho. Talvez se eu tivesse visto uma outra fantasia de carnaval que não tivesse o dinheiro eu não teria recolhido. Sacou? Acho que estes elementos que acabam chamando atenção.
Tu morou com o Carlos Dias (Againe, Polara) nos anos 90. O que tu acha que a arte de um influenciou na música do outro? Vocês dois são muito ligados à arte, música…
Sesper: Ah, o Carlinhos é um cara espontâneo. Acho que tudo que ele fez na vida não teve nada forçado, sabe? Ele é o que ele é ali. As artes dele representam bem o estado de espírito dele. Nessa época que a gente morava junto, a gente não tinha dinheiro, a gente rachava um aluguel que não era tão caro em três pessoas e nesse espaço a gente ficou criando muito, a gente pintava, pintava, pintava e ficava vendo uma pilha de desenho depois. ficava olhando o que tinha feito. A gente já tinha banda, ele tocava com o Againe, eu tocava com o Garage Fuzz. E ele fazia as artes das capas, eu também fazia as da minha banda, então tinha esse intercâmbio.
Eu li em uma entrevista que tu não fazia tanta questão de ter os vinis, como assim? O pessoal da tua geração pira nos lps!
Sesper: Não, peraí! Não é isso, eu tenho vinil pra caralho! Seguinte, eu vendi toda a minha coleção, eu acho que é o seguinte, eu não consigo ficar ouvindo os discos que eu tinha há 20 anos atrás, eu não preciso ouvir um 7 seconds, eu compro agora coisas que eu não tinha. Não,eu gosto,eu tenho uns quintos vinis novos, que eu comprei nos últimos dois anos, a única coisa que eu faço quando eu chego num lugar… por exemplo, eu desci aqui no hotel,a primeira coisa que eu fiz foi ir na loja de disco do lado do hotel. (risos) Eu compro coisas que eu não tinha! Por exemplo, eu não quero ter Circle Jerks, Bad Brains, isso já tá aqui na cabeça tá ligado? Eu tinha umas coleções que fui vendendo, sempre to vendendo… chega uma hora que a coleção existe,ela é legal, ela tem um monte de disco raro, mas não é uma coisa que eu vou me apegar ao material. Eu quero escutar, não quero ficar acumulando. Aí eu procuro pessoas que sabem o que é, que vão gostar de ter o disco e aí vendo. E vendo o lote.
Tu acha que as pessoas acabam deixando de reparar nas capas dos álbuns hoje e ficam mais focadas no youtube?
Sesper: A música virou isso. Mas acho que é a velocidade das coisas de hoje em dia. Antigamente tinha mais uma compreensão do conceito da coisa, né? Do porquê aquela estética chegava naquilo . Hoje em dia não, é muito mais simples. O cara quer ser alguma coisa ele entra no eBay e compra, a roupa, o disco. Antigamente não, a gente tinha que conquistar estas coisas. Não que eu seja contra, isso não. Eu não gosto da parte que enxuga a informação e joga o que tem que ser consumido.
“Eu não gosto da parte que enxuga a informação e joga o que tem que ser consumido.”
Eu vi que tu faz algumas colagens em vídeos também, de imagens, tu deve curtir o Alien Workshop, levar como influência.
Sesper: Báaa, o primeiro vídeo da Alien é animal, fudido! Vídeos de skate, sim. Não os vídeos dos anos 80 porque a gente olhava os vídeos dos anos 80 mais como uma galera que eram os ídolos. Eu gosto mesmo da fase do skate dos anos 90 que teve aquela “peneira” mesmo e só restou quem gostava mesmo do lance.
Quem representa o skate pra ti?
Sesper: Que representa o skate para mim? Para mim é o moleque que tá começando a andar, que tá pegando e dando os primeiros impulsos. Para mim é o verdadeiro espírito da coisa, é o descobrir, ao ter a descoberta do primeiro ollie, eu acho que são as sensações que valem no skate e quando a pessoa sente mesmo isso e ama o negócio ele não precisa dar umas puta manobra, ele simplesmente descendo uma ladeira e se divertindo já é o verdadeiro espírito de andar de skate. Skate de rua é na rua. Street skate não é em pista. O street skate é pra dar batida na parede mesmo, pular os buracos na rua mesmo.
Tu viu aquele site da skatemoss? O que tu acha deste tipo de customização?
Sesper: Não vi, mas eu gosto destas customizações em shapes. Shape… acho que é um suporte. Quando ele sai do formato shape mesmo, já o outline… já muda, já não gosto muito. Pra mim é o tradicional, ou anos 80 ou é anos 90. O formato. Quando eu vejo aquele skate dos Simpsons, lá o Santa Cruz, eu olho, acho engraçado por uns dez minutos aí quando eu olho de novo penso “Puta…fudeu…o bagulho tá desandando.”.
“Eu gosto mesmo da fase do skate dos anos 90 que teve aquela “peneira” mesmo e só restou quem gostava mesmo do lance.”
Sobre o documentário RE:Board, tu acabou não lançando o material físico não pela burocracia mas para ser um material livre, sem intermediação de nenhuma produtora?
Sesper: Ele foi feito todo no meu quarto, a gente ficou uns três anos fazendo, eu editei. Eu tive a ajuda de varias pessoas para colher o material e chegar até determinadas pessoas que era difícil entrevistar. E a viagem desde o começo era para ser uma mídia que fosse distribuída gratuitamente, em nenhum momento eu virei para alguém e disse que ia vender o DVD ou fazer uma mídia… e caso tivesse alguma lei de incentivo do governo, porque a gente ia fazer isso para ser uma mídia gratuita. É um projeto que ainda não foi finalizado. O RE:Board eu enxergo como sendo ainda como o primeiro braço da história, né? Acho que agora que a gente já catalogou as peças a gente tem que dissecar mais sobre cada uma e em vez de fazer mais um vídeo, agora partir para uma publicação impressa. Então no futuro, se o DVD for se tornar uma parte física do RE:Board, vai ter uma parte que é o livro com processo que vai ter também alguns anexos que são coisas que a gente fez em Los Angeles, em Porto Alegre na TRANSFER.
Se tu tivesse que fazer outra parte do RE:Board além das que já estão disponíveis no teu vimeo e tivesse que refazer o setlist, que bandas tu colocaria? (Soundtrack: Eu Serei a Hiena, Elma, Bodes e Elefantes, M. Takara, Apolonio, Gigante Animal, Presto?…)
Sesper: Eu não trocava nada. Eu acho que ali dificilmente a gente ia conseguir. Foi sorte dos dois anos que ficamos pesquisando, tinha um monte de banda boa Roland na época. A gente pediu para as bandas mandarem a versão instrumental da música. Sabe? Tem banda ali que não tem música instrumental e a gente tem eles sem as letras, a Gigante Animal tem letra, a Apolonio tem letra…a gente pediu para o Eu Serei a Hiena mandar as músicas sem o vocal também.
Tu falou que já dormiu em papel em galeria de arte lá em Los Angeles. Quando foi isso?
Sesper: Foi em 2009. É… era a primeira vez que eu tava indo fazer exposição. Não tinha onde dormir, só tinha um apto que não tinha nada e a gente dormia nos papelões. E mesmo o período que a gente esperou para fazer a gente dormia no carro da garagem do estacionamento da galeria. Essa adaptação das situações é graças à banda, coisas que a gente viveu com a banda foram fazendo a gente se preparar e quando aparecesse este tipo de barreira no caminho, a gente leva na boa. Não tem onde dormir, dorme no chão mesmo, foda-se.
Teve aquela exposição na loja TheRecords em São Paulo “O quanto de arte você aguenta?”. Se tu não tivesse escolhido a Negative Fx, que outra banda tu teria feito?
Sesper: Na real eu ia fazer o Poison Idea “Feel the Darkness”. Era uma cara com uma arma na frente. Mas aí duas pessoas já tinham feito e aí eu acabei fazendo a do Negative Fx porque já foi uma capa que eu já tinha mexido muito e já tinha usado.
Na descrição do teu blog tu colocou “Extreme mutant media”. É por causa do skate, da arte, dos vídeos, das colagens, da música?
Sesper: É, mas é isso mesmo. Hoje, atualmente não tem como eu ter a possibilidade de desenvolver isso. Mas o que eu quero no futuro é conseguir agregar todas as estéticas em uma só arte. Ter o vídeo, o áudio, a colagem de áudio em um só trampo.
Sobre os teus outros projetos de bandas, tu teve o Ovec, o Psychic Possessor, Safari Hamburguers, Paura, Notwork, Introspective, Lofi Experiments, Vallejo x Sunset, 5 Gas Question, Fliptot. Me conta um pouco desses projetos aí!
Sesper: O Ovec é de 89. O Psychic Possessor é uma banda de hardcore de Santos de 1990, de 1988 até 1990 ela existiu e aí tocou várias pessoas, eu e o Fabrício tocamos e aí depois eu fui ser vocal do Safari Hamburguers em uma época que já tinha até o Garage Fuzz mesmo, na real o Garage está aí no meio. E o Safari eu gravei um disco que era o Good Times e o Garage Fuzz gravou o Relax In Your Favorite Chair aí. Neste intervalo eu meio que cantei aqui uma época com o Paura, a gente montou meio de projeto, assim. O Carlos Dias está no Lofi Experiments que era um projeto lofi que a gente fazia na casa onde a gente morava tocando uns chinelo nas caixa de bateria, violão… aí o Notwork é mais atual já é música eletrônica que a gente fazia minimal no teclado. O Introspective foi um projeto de dub que eu fiz de de 1999 a 2011, tem um disco também mas é bem dub, dub step, assim. Vallejo x Sunset foi um projeto de 2009 que é eu o Sérgio Lopes, eu toco guitarra e a gente faz uma coisa meio Tommy Guerrero, meio bem instrumental. E o 5 Gas Question foi um projeto que eu gravei em 1997 no estúdio do Fernando Sanches, ele tocando bateria. Ele nunca tinha tocado as músicas. Eu mostrava pra ele na hora, ele tirava na hora e nessa hora que ele tava tirando a gente já gravava e o projeto é isso. O Fliptop foi quando o vocal do Seaweed ficou aqui em 99, ele ficou uns dois ou três dias em casa, a gente fez esse projeto que são só duas músicas, é um vocal bossa nova e eu faço uma música meio dub, assim.
E tu nunca tentou fazer rap?
Sesper: Não, eu rimando é horrível! (risos) Eu consigo escutar bem o rap, mas eu rimando…Eu escutava hip hop, mas nunca foi o que eu saí para fazer, assim.
Queria que tu deixasse um recado final, para quem faz zine, quem tem vontade, qualquer coisa, o espaço é teu. (Esta entrevista certamente vai parar em uma máquina de xerox)
Sesper: Para todos os leitores do No Make Up Tips zine eu continuaria fazendo fanzine porque fanzine é uma mídia que é verdadeira. A pessoa que sempre tá fazendo na maioria das vezes está passando os sentimentos mais sinceros possíveis, do que acredita no momento. É uma mídia que é difícil de ser desenvolvida, ela demora, ela requer um cuidado, não é uma coisa tão fácil. E queria continuar apoiando todo o pessoal que faz fanzine, eu gosto muito de fanzine, tenho muitos em casa. Conheci muita banda por fanzine. Ainda acho que continua sendo o formato de mídia mais sincero e legal de se guardar porque ele continua ali durante anos.
ZINES, VÍDEO, MÚSICA, ARTE, SKATE: SESPER, pelo viés da colaboradora Gabriela Gelain*
*Gabriela é estudante de jornalismo da UFSM. Escreveu na revista o Viés também os artigos ASSASSINATO NA PACATA CIDADE DE HOLCOMB e A CONTRACULTURA DO MUNDO SUBTERRÂNEO.
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