Assistimos de lugar priviliegiado a ação militar estadunidense que matou Osama Bin Laden, “inimigo nº 1 do ‘mundo livre'”. Várias versões apareceram, muitas foram as dúvidas e incertezas que envolveram os poucos minutos entre o ‘invadir’ e o ‘matar’ Bin Laden. Entre elas: qual a real data da ação? Os militares estadunidenses deram chance para a rendição de Bin Laden? Por que o corpo não foi mostrado com mais detalhes que o poderiam identificar? Por que o corpo foi posteriormente jogado ao mar, sem dar chance da averiguação da identidade de Osama?
Por esses e outros motivos, as “teorias do caos” ganharão mais um capítulo. Mas, além destas questões, fica uma dúvida inquietante: Quem ganha e quem perde? Há lados opostos nesta operação?
Entre comemorações e festa do lado estadunidense, surgiam protestos e raiva do lado árabe. Muitos foram aqueles que disseram que a perda de Bin Laden era um retrocesso na luta árabe e a perda de um grande líder. E muitos são aqueles que realmente acreditam nisso. Mas, além dos radicais reais, há o grupo que preferia ver Bin Laden vivo à comemoração estadunidense. Sob certo ponto de vista, se há comemorações ocidentais, há derrota árabe.
É simples de entender: um país opressor, com um governo belicoso que apóia ditaduras no mundo árabe em busca de petróleo e mercado e que, por outro lado, lança ofensivas e causa mortes civis no mesmo mundo árabe quando seus interesses não são “respeitados”, comemora. Juntar as vozes árabes a essa comemoração, visto o contexto de lutas contra a emancipação destes povos, seria no mínimo incoerente com as lutas diárias por soberania destes povos.
O contexto árabe entorpece a razão assim como o contexto estadunidense. Uma potência em crise, com uma população que não é capaz de enxergar além de sua pátria, sentiu-se impotente por quase dez anos. Muitos daqueles que sairam as ruas eram ainda crianças quando os atentados de 11 de setembro ocorreram.
Diversas gerações estadunidenses não viram seu país ser invadido por estrangeiros em uma guerra local. Viram sim seus pais e seus líderes afiando as baionetas contra regimes externos: o Eixo fascista, o Vietnã comunista, o Iraque terrorista.
Assim, nunca foi cotidiano para os EUA ver sua soberania ser atacada, ver seu território invadido ou ver sua população ser morta por estrangeiros fora de combate. A busca por vingança mostrou-se a saída para a situação pouco usual. Ver as fotos de Bin Laden morto, chorar novamente por aqueles que morreram no World Trade Center, mostrar a força em gritos de alegria e buzinaços mostra o entorpecimento estadunidense.
A morte de Bin Laden mostra o conflito: o conflito entre se alegrar por ter um mundo teoricamente mais “seguro” e entristecer por ter que se juntar ao império estadunidense para comemorar ou se juntar aos mais radicais dos árabes.
A MORTE DE BIN LADEN: UM DILEMA MORAL, pelo viés de João Victor Moura
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