Este texto foi originalmente publicado no blog do Movimento Construção Coletiva.
Santa Maria quer mais respeito. O povo quer respeito. Quem ainda suporta ser enganado por promessas falsas e demagogia? Hoje, nós, os estudantes e representantes de movimentos sociais, ocupamos o prédio da Prefeitura de Santa Maria. Primeiramente desejávamos o debate, a abertura para um conselho transparente e uma possível assembleia popular. A opção pela ocupação vem da urgência do fato, e da sua importância para o debate.
É lamentável que as entidades representantes do Conselho Municipal de Transporte já partam para a reunião com as cartas muito bem marcadas. Ao colocar a questão do aumento em discussão o que de fato existiu não foi um diálogo, mas o deboche.
A ocupação da Prefeitura foi bem estruturada. Conseguimos impedir que o Conselho se realizasse e votasse o aumento em um primeiro momento. Exigíamos explicações e compromisso. Depois de impedirmos a realização do Conselho, alguns conselheiros acabaram definindo novo local para a realização da votação, aliás, contra o regimento, para a sede do Sest/Senat.
Já na sede do Sest/Senat, protegidos por grades, polícia montada e tropa de choque, os conselheiros puderam, enfim, se sentirem “seguros” para agir da forma que quisessem sem grandes explicações. A mesa de reuniões posta, imprensa e representantes de entidades – excetos partidos políticos, diga-se – puderam se colocar à volta da discussão. Não que muito pudesse ser feito. Ali, entre seus pares, os patrões pouco mediram as palavras, tentando desqualificar o movimento contra o aumento da passagem e os estudantes que ali lutavam pelo direito de boa parte da população santa-mariense, que usa do transporte público para se locomover.
Os estudantes ficaram do lado de fora, mantiveram o protesto e aguardaram o resultado. Participamos da reunião com a presença de membros de entidades como o Diretório Central dos Estudantes, os Diretórios Acadêmicos e a mídia independente.
Em um primeiro momento, o conselheiro Rodrigo Freitas argumentou um pedido de vistas, que não pode ser efetivado. Entendeu-se que a ação não seria prorrogada, e que naquele momento os conselheiros já estariam aptos a votarem.
As discussões sucederam-se diante de argumentos como os de que “a anarquia de hoje de manhã impediu a reunião e a votação do Conselho”. Discussões surgiram durante a sessão. Exigiu-se na mesa que as contas fossem explicadas e que os modelos fossem apresentados, porém, o Secretário de Transporte alegou diversas vezes que a explicação do método era “humanamente impossível”. O Secretário ainda afirmou, durante a sessão e pela manhã, que a discussão só sucederia com “técnicos e informados na questão”. Mas o DCE, representado por Roberto Freitas e Eduardo, lembrou que a discussão não é só técnica, mas econômica e social. Membros da mesa, inclusive, afirmaram que se a discussão fosse apenas técnica, e não social, o Conselho não teria a finalidade de existir.
Alguns membros também argumentaram que Santa Maria tem uma alta qualidade de transportes e passagem barata, comparada às outras cidades. Mas acreditamos que esse cálculo não leva em conta o tamanho da cidade e nem os trajetos. Em diversos momentos alguns conselheiros aproveitaram para bater no movimento estudantil, até mesmo afirmando que gestão após gestão, o DCE se mantém na discussão vazia e igual.
Infelizmente, mesmo após a intervenção dos estudantes e dos movimentos sociais, o aumento foi efetivado. 15% de aumento, acima da inflação.
Dos quinze conselheiros, cinco votaram contra o aumento e dez a favor. Os cinco representantes que votaram contra o aumento representavam a UFSM, DCE, OAB, USE e o Sindicato dos Trabalhadores Urbanos. A favor da proposta do aumento votaram os representantes da CACISM, da ATU, da Prefeitura Municipal e seus conselheiros, do Sindicato dos Contadores (que aliás, exigiu aumento para a sua categoria durante a sessão), empresas inter-distritais, Sitracover, SindiTáxi e Sindicato dos Trabalhadores Rurais.
A reunião durou cerca de duas horas. Enquanto isso, 40 policiais faziam a escolta do lado de fora. É de se perguntar se Santa Maria é uma cidade assim tão pacífica ao ponto de se dispensarem 40 homens apenas para fazer a segurança de apenas 15 conselheiros.
Um ponto desprezível foi a tentativa constante por parte de alguns conselheiros de colocar os motoristas e a sua classe trabalhadora contra os estudantes – alegando que os estudantes são todos vagabundos, que não trabalham e que não reconhecem o suor e o esforço dos motoristas. Entre eles, o Sr. Gabardo, que ainda afirmou que a UFSM só “funcionava de terça à quinta”. Argumento rebatido pelo representante da UFSM, Alberto Brilhante.
É triste que os motoristas não pensem nos estudantes como parceiros de luta, e que só reflitam os interesses de seus patrões. Como se o dinheiro e o lucro exorbitante arrecadados pelas diretorias das empresas possam ir, de alguma forma, parar no bolso dos trabalhadores.
É lamentável que uma questão importantíssima, como o aumento da passagem de ônibus em Santa Maria, seja discutida em questão de “uma hora”, como pudemos ver. E ainda mais lamentável que as ordens não sejam claras. Um prefeito que promete em campanha que vai voltar com o passe livre, que instituirá a passagem integrada e que não aumentará um centavo da passagem, simplesmente não está – e nem mesmo é “encontrado” pelo telefone em Porto Alegre para dar uma explicação ao povo. Ficamos todos de mãos amarradas, vendo o dinheiro sair do bolso de todos e percebendo que os aumentos em nada contribuem para a melhoria ou a ampliação das frotas – e muito menos pela integração.
Queremos a transparência das licitações! Queremos respeito pelo povo, pelos trabalhadores, pelos estudantes, por Santa Maria!
CONTRA O AUMENTO DA PASSAGEM, pelo viés de Nathália Costa
nathaliacosta@revistaovies.com
bela reportagem. aliás, por santa maria ter uma passagem mais barata que de outras cidades do estado isto significa que precisamos aumentá-la? para mim, parece que infelizmente estas outras cidades não tiveram a sorte de possuir estudantes astútos e interessados para combater esta exploração que se dá contra toda a população.
é necessário uma mobilização cada vez maior. o povo apoia os estudantes e temos que fazer com que eles também saiam as ruas. ninguém, nem mesmo este maldito césar schirmer, tem condições de se colocar contra a vontade soberana do povo.